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Um filme sobre um homem que virou Papa
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Divulgação

Muita gente que for assistir a “Habemus Papam”, o novo filme de Nanni Moretti, vai dizer que se trata de algo político, sobre a religião, sobre o Vaticano. Talvez alguém até ache motivo para ficar chocado com a história. Ou, talvez, alguém que goste de críticas ao Vaticano, ache que se trata de algo do gênero.

Eu, de minha parte, não vi nada disso no filme. E, curiosamente, fui depois ver uma entrevista do próprio Moretti sobre o filme e ele, apesar da insistência do repórter, negou insistentemente que se tratasse de uma crítica. Diz ele que se trata simplesmente de um home que disse “não”. Faz todo o sentido.

Vamos ao resumo: “Habemus Papam” conta a história da eleição de um novo Pontífice da Igreja Católica. Não se diz quem foi o Papa que morreu, nem em que ano estamos. Os cardeais são todos fictícios. E, de repente, no meio do conclave, para solucionar um impasse (nenhum dos favoritos tem votos suficientes para ganhar), cogita-se a eleição de um cardeal menos conhecido. E ele é eleito.

O tal Cardeal Melville parece em dúvida sobre o seu Papado desde o primeiro voto. Quase recusa a eleição, quando perguntam. Mas logo a seguir aceita. Se prepara, põe os paramentos todos e, quando vai ser apresentado à multidão na Praça São Pedro, desiste. Já estão no balcão, prestes a anunciar seu nome, e ele começa a gritar que não pode fazer aquilo.

O filme é um pouco sobre a reação que o mundo teria numa ocasião dessas. Mas é principalmente sobre o cardeal, que passa a pensar sobre toda a sua vida. Em nenhum momento ele diz ter falta de fé em Deus. Mas diz ter falta de fé em si mesmo. Imagine: o Papa, por definição da Igreja, é infalível. Como alguém inseguro conviveria com isso.

Por isso é que o filme é muito menos sobre a religião, e muito mais sobre as limitações e a consciência de cada um de nós sobre nosso papel no mundo. Por isso o filme é, como sempre (Moretti dez os belos “Caro diário”, “Aprile” e “O quarto do filho”) muito bonito e terno.

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