Woody Allen não virou um cínico

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Woody Allen: cinismo que não é cinismo.

Quem ler a sinopse do filme novo de Woody Allen pode achar que se trata de uma história de cinismo. Ou, melhor. De várias histórias de cinismo. “Para Roma, com amor”, trata de vários personagens em tramas separadas, Segundo dizem inspiradas pelo “Decamerão”, de Bocaccio. E, talvez por isso mesmo, baseadas em sexo.

No filme, quase ninguém é inocente. A recém-casada, que parece uma santa aos olhos do marido, trai na primeira oportunidade (ou tenta). E acaba traindo de vez na segunda. O marido também não é o mais forte dos homens quando a tentação se apresenta (ok, quando a tentação aparece na forma da Penélope Cruz o sujeito talvez tenha de ser mais fortes do que estamos acostumados a pensar).

O namorado trai a namorada com a melhor amiga dela. E a amiga mostra apenas um pequeno remorso de fazer isso na casa da outra. Mas, no carro, diz ela, não tem problema. Um sujeito de classe média que subitamente fica famoso também troca rapidinho a mulher por outra. Por outras. Por todas.

Mas, curiosamente, vendo o filme, o cinismo da trama acaba bastante relativizado. As histórias continuam sendo de traição, de falta de boa vontade com o outro, de egoísmo… Mas Allen não leva jeito para descrer das pessoas. Pelo contrário. Acha o mundo difícil, como sempre deixou claro. Mas parece se recusar a julgar os outros como sendo a causa disso. No caso de Woody Allen, o inferno não são os outros. Eles são nossos companheiros de desgraça, somente. E é preciso ter pena deles.

No fim, quase tudo acaba dando certo. Não é que os personagens consigam desfazer o que fizeram de errado. Mas, em alguns casos, se arrependem. Em outros, simplesmente aquilo passa a não importar. E eles se perdoam e tentam levar a vida o melhor que podem.

Cinismo? Acho que não. Está mais para compaixão com outros que vivem o mesmo que nós.