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Fornecida por Google imagens - sem restrição de uso| Foto:
por Suzana Piazza

por Suzana Piazza

Um dos primeiros conceitos que aprendemos na escola é o conceito de igualdade. É claro que um professor de ensino infantil não chega em sala de aula e escreve no quadro a palavra “igualdade” para crianças de dois anos.  Mas essa mensagem é passada (ou pelo menos deve ser passada) nos afazeres do dia a dia, quando as crianças percebem que na escola ninguém será privilegiado ou preterido. Isso vai criando, aos poucos, a noção de que todos temos os mesmos direitos e devemos ser tratados com igualdade.

O problema é que o que observamos muitas vezes é a propagação do conceito de uma “igualdade formal” e não uma igualdade material. A ideia de igualdade formal é tratar todos de forma exatamente igual. Já “igualdade material” é aquela que objetiva uma “condição igualitária“, visando tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades. Tais noções, que podem começar a ser ensinadas desde os primeiros momentos da vida de uma criança, ajudarão a entender nosso mecanismo social e jurídico no futuro.

Vou dar um exemplo bastante caricato para demonstrar como essa igualdade é parte do contexto escolar. Supondo, em nosso exemplo (um tanto quanto exagerado), que uma escola tem um momento em que todas as crianças participam do ato de hastear a bandeira do Brasil. Nesse momento, em nossa escola hipotética, emprega-se uma regra de que todos os alunos devem ficar de pé em frente a bandeira até ela ser completamente hasteada, sob pena de perder um ponto na nota. Descontar o ponto da média do aluno paraplégico que não ficou de pé é tratá-lo com igualdade formal, visto que está empregando a este aluno exatamente a mesma regra aplicada aos demais alunos. Porém, descontar esse ponto, representa uma desigualdade social na medida em que, ao não respeitar a desigualdade do paraplégico na medida da sua desigualdade, coloca-se este aluno em uma posição inferior aos demais, desrespeitando limitações específicas. Ou seja, tratar um aluno de maneira materialmente igual é uma forma de respeitar suas condições específicas. Não se trata de conferir privilégio, mas sim conferir uma igualdade de condições.

No nosso exemplo, não exigir que o aluno paraplégico fique de pé, é evidentemente uma forma de igualdade (material) de tratá-lo com o mesmo respeito, oferecendo as mesmas condições de evolução escolar dos demais alunos. Como disse anteriormente, esse exemplo é bastante caricato, mas representa bem a situação. A aplicação de uma diretriz de igualdade material nesse caso é óbvia e intuitiva a qualquer instituição escolar.

Todavia no caso da criança autista a questão é um pouco mais complicada de ser percebida. Um dos pontos para essa dificuldade é pela falta de conhecimento de tantas instituições de ensino e tantos educadores sobre Transtorno do Espectro Autista. Outro ponto que devemos levar em consideração é que o autismo não se manifesta numa característica aparente, mas sim imaterial, fazendo com que muitas pessoas simplesmente ignorem sua existência por ele não poder ser visto no rosto ou no corpo da criança.

Autistas têm suas peculiaridades: para muitos é extremamente difícil estar em público; outros tem hipersensibilidade sonora; outros muitas vezes entram em estereotipia, andando pela sala durante a aula; dentre outras tantas características. Tais fatores não são vontades, ou manhas da criança, mas parte do quadro do transtorno global de desenvolvimento.

Evidentemente que um professor deve repreender um aluno que simplesmente levante e saia andando pela sala. Mas se o aluno for autista deve-se levar em conta que esse ato de levantar e sair andando, representa mais do que sobrepor sua vontade às regras da escola. Muitas vezes essa é a maneira que o autista encontra de se reorganizar internamente. Repreender como se repreenderia outro aluno nessa situação, vai ser muito mais duro para a criança autista que para uma criança dita típica.

Apresentar trabalhos diante de uma turma, assim como para pais e professores, com certeza pode ser uma tarefa a que se atribua uma nota. Porém, exigir isso de uma criança autista pode criar uma situação que a impulsione a uma desorganização pessoal, pois para ela isso pode representar um momento em que ela vai se sentir muito mal. A criança autista não escolheu ter essas dificuldades, mas são questões de saúde a serem tratada por profissionais habilitados.

Músicas altas em ensaios para apresentações escolares podem representar para o autista com hipersensibilidade auditiva uma tortura sensorial, o fazendo chorar ou/e se desgastar com toda aquela “confusão”.

Em todas essas situações exigir do autista que haja conforme uma criança típica seria exigir dele mais do que das crianças típicas, seria impor a ele uma superação muito superior a superação que se exige dos demais, e muitas vezes “judiar” da criança. Dessa forma, a suposta igualdade em exigir tais comportamentos na verdade se transformaria em desigualdade. Tal situação legaria ao aluno autista uma situação de indignidade.

Por outro lado, não podemos simplesmente colocar o autista na posição “café com leite”. Pelo contrário, com a participação da escola, dos pais e dos profissionais de saúde que assistem a criança é possível traçar estratégias para lidar com essas situações, incluindo a criança autista em todas as atividades, incentivando seu desenvolvimento, desafiando-a a se superar – sem que para isso a criança tenha que passar por situações de estresse extremos e não condizentes com um ambiente acolhedor de aprendizagem.

Nesse projeto a informação e essencial, então, por isso, não deixe de ajudar a informar a escola sobre o Autismo e especificamente o quadro de seu filho. Caso mesmo assim seu filho seja submetido a uma situação de indignidade, não tema e leve a escola à justiça para que responda judicialmente pelo dano moral causado à criança, e como forma de lutar por um mundo mais justo para crianças com autismo.

No ato de adequação da criança autista a postura escolar, não podemos exigir que ela simplesmente supere o seu quadro em benefício das regras empregadas as demais crianças, mas igualmente é um erro agir de modo a simplesmente deixar a criança autista agir como ela bem entende. Permitir que a criança autista ande livremente pela sala em horário de aula, excluí-la dos projetos de apresentação de trabalhos, ausentar sua participação nas atividades festivas, não é uma saída, pois representaria não acreditar no potencial desse anjinho (e acreditem, o potencial existente é grande). A medida está em reconhecer os comportamentos “atípicos” (conectados ao quadro) e desenvolver estratégias multidisciplinares para atacar tais comportamentos – tudo isso de uma forma que a criança esteja sendo motivada a ter avanços, e não torturada por dela ser exigido que deixe de apresentar comportamentos que estão além de sua vontade.

Com a participação de todos podemos criar um ambiente escolar mais acolhedor e mais igualitário à criança autista, bem como ensinar a todos os estudantes que igualdade é também respeitar as diferenças, que direito e respeito a dignidade não são privilégios e que somos capazes de fazer melhor! Não desacredite da inclusão escolar. Por vezes essa luta pode ser árdua, mas garanto que é possível! Quando você luta pelo seu filho, luta também por todas os anjinhos azuis que ainda virão!

E por fim, você pode estar se perguntando: mas o que a foto que você vinculou tem a ver com o tema? Bom, em primeiro lugar eu sou uma mãe coruja, então nunca resisto ao fato de colocar uma foto da Gabí. Mas a escolha da foto se deu pelo que ela representa para mim. Esse sorriso lindo, esse olhar direto para câmera, isso é muito fruto do fato dessa pequena ser uma criança que está nos tratamentos adequados, em um processo escolar extremamente inclusivo e cercada de muito amor. Eu realmente acredito em uma sociedade em que TODO autista possa sorrir assim, de forma livre, espontânea, alegre. Por essa sociedade que devemos lutar, não desistir. Nessa sociedade que temos que acreditar. Essa sociedade que devemos construir. Se não por nós, pelos nossos filhos. Buscar a inclusão escolar é o trabalho de ser caçador de sorrisos

Lembrando que durante o mês de agosto e setembro estarei trazendo no blog informações sobre AUTISMO NA ESCOLA. Então para saber mais sobre o tema fique atento às próximas postagens.

Grande beijo

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