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Barra, berra e birra
| Foto:
Marillê Vanin/Arquivo pessoal

Entrei no ônibus hoje e me deparei com uma cena familiar: um bebê do tamanho do José que, no colo da mãe, se debatia e chorava – ou melhor, berrava. Para ouvidos e olhos desavisados, aquilo parecia ser uma expressão de dor. Para mães já treinadas, era um evidente ataque de birra.

O pequeno e a mãe ficaram naquela disputa de forças. Ele queria ir para o colo da irmã menor para ver a paisagem pela janela. A mãe não permitia. Acho que no começo a proibição era por uma questão de segurança – de fato, a pequena irmã não teria forças para segurar o bebê no caso de uma freada brusca. Mas, depois, me parece que virou uma disputa de forças entre mãe e filho.

No fim, o bebê ganhou. Foi para o colo da irmã e o choro, os gritos e o contorcionismo cessaram como por milagre. A mãe parecia exausta e chateada, como ficamos ao fim de uma briga. As crianças olhavam a rua, não expressando muito interesse com o que ocorria no banco ao lado.

A situação me fez lembrar as muitas disputas de força que já tive com José Fernando. Quando quer alguma coisa, ele berra, bate o pé no chão, chora até perder o ar — chega a ficar com os lábios roxos. Certa vez, no meio de uma loja, se jogou no chão porque não o deixei mexer nas prateleiras. Chorava e se arrastava aos meus pés. Vou confessar: a minha vontade era deixar ele ali e ir embora. Mas não é bem assim que as coisas funcionam. Juntei toda a minha calma, repirei fundo e peguei José do chão.

Tentei acalmá-lo, tirei ele de perto das tentadoras prateleiras cheias de objetos coloridos. Fomos ver outras coisas pela loja e, aos poucos, o choro passou.

Nesse caso, eu acho que ganhei – embora tenha acabado exausta e chateada como a mãe que vi hoje no ônibus –, mas outras tantas vezes a vontade dele acabou prevalecendo. Na hora de arrumar a casa, por exemplo, eu desisti de tentar fazer o José ir brincar sozinho ou ver desenho enquanto eu limpo.

O jeito foi separar uma vassoura e um pano de chão para ele e o incluir na arrumação – e esquecer de querer deixar tudo perfeito. A hora de lavar a louça também sofreu adaptações. Agora, em meio a um prato e outro, corro para fazer cócegas no José, que se escondeu enquanto eu conto — vagarosamente — até cinco para ir pegá-lo.

Eu sei que as birras vão durar por muitos anos ainda. A questão talvez seja saber quais brigas enfrentar e quais deixar passar. Achar a medida certa entre uma coisa e outra e saber o que fazer em cada uma dessas situações, esses devem ser uns dos maiores segredos da educação dos filhos.

O menino chovia.
E não era chuva, chuvisco, chuvinha.
Era chuva, trovão, trovoada.
Por qualquer coisa, coisinha,o menino relampejava.
A casa toda tremia, o chão até balançava, raios por toda a cozinha sempre que tinha salada.
A empregada saía correndo, e a mãe também, chamuscada.
E o menino chovendo, chovendo, pedindo macarronada.
O pai imitava macaco, a mãe dançava na pia, tudo isso por medo da chuva, e pra ver se o menino comia.
E todo dia era assim, uma chuva sem fim, chuvarada.
Por qualquer coisa, coisinha…o menino relampejava.
(O Menino que Chovia, de Cláudio Thebas)

O ótimo poema acima eu li no começo dessa reportagem aqui da revista Crescer sobre birras e como lidar com elas e com você mesmo nessas situações.

E aí na sua casa, como você enfrenta as birras do seu pequeno? Deixa um comentário contando para mim!

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