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Maratona antissono
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Jornalistas dormem nas sala especial no centro de imprensa: risco de atravessarem a perigosa linha rumo ao limbo

Eis que nesta quinta-feira, após nove dias aqui em Londres, a chave do meu fusível caiu. Após dormir na frente do computador, decidi dar uma volta pelo centro de imprensa e comprar mais um café – nunca tomei tantos na minha vida – para tentar compensar a média de três a quatro horas de sono diários, fora o jet lag. No caminho até a lanchonete, descubro algo que me faria muito mais bem naquele instante do que cafeína no sangue: uma sala especial para os jornalistas tirarem uma pestana nos poucos intervalos de trabalho.

Precavido, liguei o alarme do celular antes de me deitar em uma das confortáveis esteiras oferecidas pela organização dos Jogos. Depois de dormir três vezes no metrô e passar as estações em que eu deveria descer, agora ligo o alarme para tudo: para a hora de comer, para a hora de ir cobrir alguma prova, para a hora de passar no Comitê Olímpico Brasileiro em busca de credenciais para as provas mais importantes. Tudo!

E, pelo ritmo que a coisa anda aqui nos Jogos, as esteiras do Quiet Room, o dormitório do centro de imprensa, são tão concorridas quanto as bancadas de notebooks na hora que a coisa aperta. Tive sorte de conseguir uma assim que entrei na sala, desocupada por um chinês – como tudo aqui, eles dominam também as esteiras.

A sala lembra uma creche, onde chega um determinado horário que as crianças têm de dormir, após gastarem tanta energia. Com a diferença, é claro, que não em professorinha para botar um cobertorzinho nos cabras. E como dormem – em alto e bom som, se é que vocês me entendem.

Do meu lado, um chinês (sempre eles) quase teve de esbofetear um companheiro em transe na esteira, que já havia ultrapassado o perigoso portal da transcendência e deveria acordar para trabalhar. Já até estava vendo a hora em que o chinesinho teria de apelar a um desfibrilador para o zumbi voltar das trevas.

E foi isso mesmo que aconteceu – a segunda parte, porque o desfibrilador não foi necessário. O cara acordou tão estalado, num sobressalto, que deu um pulo da esteira e saiu correndo trabalhar. Sem brincadeira, os olhinhos apertados do china até se abriram depois do susto.

Como hoje tem final dos 200 metros medley na natação, com o brasileiro Thiago Pereira na decisão, às 20h30 (16h30 aí no Brasil), o sono promete espreitar a rapaziada novamente. Lá por meia-noite, uma hora da manhã, estarei novamente entre a horda de cataléticos que saem do centro de imprensa no ônibus que nos leva até o centro de Londres, de onde cada um vai para o seu hotel. Com a sorte de que no ônibus posso dormir sem ter de me preocupar de passar a estação.

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