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(Foto: Bruno Covello)

(Foto: Bruno Covello)

Quando aprendemos a registrar e transmitir o que pensamos e sabemos, estendemos de modo extraordinário a capacidade de sobrevivência de nossa espécie; desenvolvemos ciência e tecnologia para esta finalidade, refinando-as até o supérfluo e o perigoso. Simultaneamente, a observação da natureza e dos semelhantes, o princípio do autoconhecimento e a consciência da morte deram origem à cultura humana, levaram à ruptura do conforto emocional, e desde então a necessidade e a expectativa de transcendência, manifesta em alguma espécie de sentimento religioso, tem restabelecido o equilíbrio necessário entre matéria e espírito. Ciência e religião formaram assim a base de nosso processo cognitivo, e demoraram bastante para serem separadas e seguirem caminhos distintos.

A palavra Religião procede do latim “religare”, que significa religar, restituir unidade, e mesmo muitos ateus reconhecem os benefícios que a prática de uma boa religião traz às pessoas; entendendo-se por boa religião toda aquela que não pregue a seus fiéis o extermínio dos não fiéis, que não os explore ou use recursos circenses para enganá-los. Normalmente, aqueles que acreditam em princípios religiosos têm alguma paz interior, disciplina e solidariedade, porque é isso que a maioria das religiões procura proporcionar a seus seguidores.

Cristianismo, Budismo, Judaísmo, Islamismo, outras grandes religiões e muitas de suas derivações, têm muito do melhor que a humanidade já pensou ou procurou, apesar de infelizmente algumas delas terem seus desvios fundamentalistas com, não raramente, um passado ou presente de violência e intolerância.

Os currículos escolares privilegiam as disciplinas “sancionadas” pelo saber formal, aquelas que fazem parte de um cânone valorizado até em processos seletivos: matemáticas, linguagens, ciências físicas e biológicas, história e geografia. As matérias de conteúdo humanista, mais sujeitas à subjetividade, tais como filosofia, sociologia e até mesmo religião, costumam enfrentar diferenças de interpretação e alguma oposição na comunidade acadêmica.

Mas embora o estudo das ciências e tecnologia seja objeto de consenso, resulta por vezes em utilização excessiva dos equipamentos digitais, envolvendo modalidades de vícios inéditos na trajetória humana, como o de estar permanentemente conectado, com tablets, celulares, jogos eletrônicos, redes sociais, nos quais a estrutura viciosa é a mesma de outrora, ou seja, nada satisfaz, nada é suficiente. Isso frequentemente tem estimulado a adesão a alguma crença religiosa como alternativa de cura, a busca espiritual preenchendo por vezes o espaço da dependência material.

Já o ensino religioso sempre representou um ponto nevrálgico fora das instituições confessionais, com as particularidades de cada credo provocando intensa discussão entre pesquisadores, com dúvidas sobre sua exequibilidade em países como o Brasil, fortemente multicultural. O Estado brasileiro é laico, (“independente em face do clero e da Igreja, e, em sentido mais amplo, de toda confissão religiosa”, Dicionário Houaiss), respeitando todas as formas de cultos sem adotar explicitamente nenhum, e assim, ao mesmo tempo em que se libera do controle religioso, libera também cada igreja para manifestar sua especificidade esotérica, deslocando, portanto, o místico da esfera estatal para a particular de cada indivíduo.

Talvez em função disso, as instituições escolares laicas prevejam uma disciplina sobre religião como uma forma de transmitir os fundamentos básicos de diversas vertentes religiosas, com o objetivo explícito de, aumentando o conhecimento do aluno sobre as demais religiões que não apenas a exercida por sua família, tentar incrementar o respeito aos demais, aqueles que não professam a mesma fé e não obedecem aos mesmos ritos.

A intenção é louvável, e precisaremos de alguns anos para saber se este magistério atingirá o objetivo, ou seja, se a sociedade como um todo tenderá efetivamente a ser menos preconceituosa e mais cidadã com o auxílio desta providência pedagógica. Aliás, para isso o material preparado para estas aulas apela a filmes, vídeos, youtube e diversos aparatos digitais como complemento metodológico, tentando atrair a atenção do jovem e colocar a discussão de forma moderna e atraente.

Conhecer o outro na maior parte das vezes exige conhecer primeiro a si mesmo, e esta aprendizagem é complexa, demanda longos períodos de tempo. Formar docentes que convivam bem com a necessária neutralidade para apresentar adequadamente todas as religiões, e não apenas a sua, ou a falta dela, é moroso e necessita extenso programa de formação continuada; a educação brasileira precisa melhorar sua qualidade e efetivar-se rapidamente, a esperança é de que a atual proposta venha a colaborar para este objetivo.

*Artigo escrito por Wanda Camargo, professora da UniBrasil Centro Universitário e associada ao Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR). O SINEPE é colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.  

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