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A difícil tarefa de ser professor no século XXI
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Não há como não reconhecer que as constantes transformações tecnológicas, econômicas e socioculturais pelas quais passamos, e que acontecem em ritmo cada vez mais acelerado, têm gerado fortes impactos na educação, e consequentemente nos educadores.

A necessidade de uma escola que possa refletir o contexto no qual vivemos e preparar o aluno para lidar com ele de forma autônoma, crítica e construtiva, de forma que se sinta seguro a agir nele e sobre ele, gera necessariamente uma mudança de postura dos educadores, a necessidade de uma nova formação inicial e mais do que nunca de formação contínua.

Essa é uma condição sine qua non para:

 “Formar cidadão participantes em todas as instâncias da vida social contemporânea, o que implica articular os objetos convencionais da escola (…) às exigências postas pela sociedade comunicacional, informática e globalizada: maior competência reflexiva, interação crítica com as mídias e multimídias, conjunção da escola com outros universos culturais, conhecimento e uso da informática, formação continuada (aprender a aprender), capacidade de diálogo e comunicação com os outros, reconhecimento das diferenças, solidariedade, qualidade de vida, preservação ambiental”. (LIBÂNEO, 2013, p.8)

Qual deveria ser, então, o perfil do professor do século XXI?

Ser professor no século XXI é reconhecer que a identidade se dá por uma construção histórica e cultural, por influências dos fatos, dos encontros e desencontros que a vida proporciona. E que assim como somos influenciados, influenciamos na construção das identidades de nossos alunos, porque ensinamos o que sabemos, falamos, agimos e somos.

O professor do século XXI sabe a importância do respeito ao outro, de uma relação horizontal, da escuta empática e da afetividade na relação educador-educando. Age como tutor e mediador de experiências que levarão à criticidade diante da palavra, da imagem e do mundo. Sabe que o ser humano é autopoiético, está sempre se reconstruindo e incentiva o aluno nessas contínuas transformações.

Ser professor no século XXI é ter a consciência de que ter informação não é igual a ter conhecimento; que a formação é uma tarefa contínua; que é preciso ler e interpretar a realidade criticamente para transformá-la, agindo em colaboração e respeitando as diferenças.

É preciso ainda manter a postura de pesquisador e a atitude reflexiva. Morin nos alerta sobre a importância da educação favorecer a percepção do contexto, do global, da multidimensionalidade do ser humano e da complexidade (pensamento complexo) para que haja um conhecimento pertinente.

Assim como a história não é linear, o destino do homem também não é, e o educador do século XXI deve saber lidar com essa questão, com um contexto de egocentrismo, imediatismo e individualismo do mundo atual em que nem sempre a solidariedade é estimulada. O educador precisa estimular a compreensão não só intelectual, mas também humana; precisa entender que o erro faz parte do processo de aprendizagem e que o conhecimento é fruto de interpretações e reinterpretações, do que aprendemos hoje em conjunção com o que trazemos dentro de nós.

Educadores do século XXI sabem que a educação do futuro deve ter como base a compreensão de que fazemos parte de um planeta em que tudo está interligado e é preciso, mais que nunca, cuidar da natureza e da diversidade cultural em um mundo cada vez mais integrado tecnologicamente. É preciso cuidar do outro (indivíduo, grupo, sociedade).

A UNESCO propõe os quatro pilares da educação que, de certa forma, foram pensados como uma resposta a questões como: para onde o desenvolvimento tecnológico está nos levando? Que valores sociais predominam no contexto atual? Que cidadãos estamos formando? Daí a proposição de aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

Cabe à educação contribuir para o desenvolvimento do indivíduo, respeitando sua cultura, estimulando trocas, releituras do mundo a sua volta, construção do conhecimento e de um mundo de paz.

O filósofo colombiano Bernardo Toro também apresenta as capacidades e competências mínimas para a participação produtiva no século XXI, os chamados Códigos da Modernidade, que falam desde o domínio da leitura e escrita e capacidade de resolver problemas, à capacidade de analisar, sintetizar e interpretar dados, fatos e situações; compreender e atuar em seu entorno social; receber criticamente os meios de comunicação e localizar, acessar e usar melhor a informação acumulada.

Geneviève Jacquinot, pesquisadora francesa, fala do educador do século XXI como um “educomunicador”, aquele que integra os diferentes meios de comunicação nas suas práticas pedagógicas e ainda:

“Tem consciência de que uma educação de massa e multicultural vai além da simples aquisição de conhecimentos escolares;  percebe que a riqueza dos meios não está apenas no conteúdo informativo, mas também na maneira como eles fornecem uma representação do mundo;  Sabe que a introdução dos meios como objeto de estudo tem por finalidade ensinar seus alunos a analisar seja os diversos pontos de vista, seja as montagens do discurso e da cena que constroem as mensagens;  Aceita um novo referencial para a relação educador-educando, e está convencido que a emissão não é um ato passivo.” (Jacquinot apud VIVARTA, 2004, p.261)

As referências acima dão uma noção da responsabilidade que cada educador tem na construção de seu repertório formativo e postura em sala de aula. Assim como qualquer profissional que precisa atualizar-se constantemente, o educador também tem essa tarefa.

Porém, o maior desafio que o educador do século XXI tem, é a luta permanente pela categoria, por uma formação adequada, por melhores salários e condições de trabalho. Valorizar ainda mais a importância do professor num contexto em que a educação se tornou mais do que nunca condição sine qua non para o desenvolvimento dos sujeitos e das nações.

Referências:

LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora – Novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 2013

VIVARTA, Veet. Remoto Controle: linguagem, conteúdo e participação nos programas de televisão para adolescentes. São Paulo: Cortez, 2004

 

*Cristiane Parente de Sá Barreto é Jornalista, Educomunicadora, Sócia-Fundadora da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação (ABPEducom), Doutoranda em Comunicação e Pesquisadora do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade – CECS da Universidade do Minho, Bolsista da CAPES, Mestre em Educação pela UnB e em Mídia e Educação pela Universidad Autónoma de Barcelona. A profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.

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