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Dois jovens, uma história de mídia e cidadania
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Ele tinha 11 anos e participava do jornal escolar, que apontava os problemas da escola. Com um amigo e o apoio da professora, resolveu criar um jornal que pudesse questionar também as dificuldades da comunidade. Sete anos depois, René Silva e o ‘Voz da Comunidade’ ultrapassaram a fronteira do impresso e estão no Facebook e Twitter. Mais que isso, o jornal acaba promovendo, com a ajuda das redes sociais, não só a democratização e diversidade da informação, mas diversas ações no Natal, no Dia das Crianças, na Páscoa e até um Arraiá da Paz, com arrecadações de alimentos e brinquedos que chega a reunir sete mil pessoas no Morro do Alemão. E todos na paz! René Silva quer dar voz à comunidade e, com isso, refletir com ela seus problemas ao fazê-la perceber soluções para os mesmos.

Ela tem 13 anos e cansou de só ver os problemas na Escola Municipal Maria Tomázia Coelho, de Florianópolis, sem fazer nada. Ver alguns professores reclamando de salários e não se esforçando para dar uma aula melhor; alunos depredando o ambiente escolar e fazendo bagunça na sala, impossibilitando os professores de darem uma aula decente; alimentação precária; ventiladores quebrados; fiações expostas; bebedouros interditados; banheiros e vidros quebrados. No dia 11 de julho criou um perfil no Facebook chamado ‘Diário de Classe’. No início 187 pessoas curtiram, apesar de ter recebido críticas de funcionários e colegas da escola por expor a situação do lugar. No último dia de agosto, no meio da tarde, Isadora Farber tinha 192 mil “curtições” em sua página, além de milhares de comentários, positivos ou não, sobre sua iniciativa. Sem falar de dezenas de matérias em jornais da grande mídia, blogs e vídeos.

O que esses dois casos possuem em comum?

Primeiro a possibilidade de uso da mídia como forma de desenvolvimento, de olhar crítico para a realidade e o contexto em que vivemos de forma ativa, estimulando a participação e a cidadania de todos a nossa volta. Segundo, um exercício de autoria, que precisa ser acompanhado também por uma reflexão ética sobre quem e sobre o que vou falar; sobre os vários lados de uma história ou de uma ‘verdade’, que nem sempre é tão absoluta quanto parece.

Nesse ponto insisto na necessidade de termos a Educomunicação ou Educação para Mídia ou Mídia-Educação (como queiram chamar as diferentes correntes) como política pública. Levando os meios de comunicação para a sala de aula; discutindo direitos autorais, ética, direito à privacidade, cyberbullying, Estatuto da Criança e do Adolescente, publicidade ou construção de uma mensagem. Uma reflexão que não seja moralista ou maniqueísta, mas que ensine crianças e adolescentes a conviver de forma crítica e criativa com a mídia, podendo usá-la a seu favor na busca pelos seus direitos.

E, por fim, mas sem esgotar as dezenas de argumentos que teria aqui – deixo para discutirmos em um novo artigo – o direito à comunicação e à informação, instituídos pelo artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que precisa ser lido e compreendido por todos como um direito humano. O direito à democratização da informação, já que sem ela não se pode tomar decisões na vida; não se pode optar; ter direitos de escolhas.

E isso nos leva a outro ponto: a necessidade de pais e educadores ensinarem seus filhos e alunos a selecionarem, analisarem e usarem melhor a informação que consomem. E se coloquem no mundo como cidadãos.

>> Cristiane Parente é jornalista, educomunicadora, autora do blog Mídia e Educação, membro da Associação Brasileira de Pesquisadores e Profissionais em Educomunicação – ABPEducom, coordenadora do Programa Jornal e Educação – ANJ.

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