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(Foto: Valterci Santos)

(Foto: Valterci Santos)

Discussões recentes lançaram luz sobre os resultados econômico-financeiros das grandes empresas educacionais brasileiras. Entende-se aqui como grande empresa aquelas que têm ações negociadas na Bolsa de Valores, e por esse critério teríamos quatro players no mercado: Estácio, Anima, Kroton e Ser. Todas elas vão muito bem, obrigado, apresentado curvas de receitas crescentes nos últimos anos e invejável saúde financeira. Para se ter uma ideia, só no primeiro semestre de 2015 a Kroton obteve um lucro de mais de 700 milhões de reais, enquanto que a Estácio atingiu a marca de mais de 500 mil alunos.

Os efeitos da concentração de mercado e da massificação dos métodos sobre o ensino superior ainda são, por falta de estudos sistemáticos, perguntas sem resposta. No entanto, os números apresentados revelam, talvez involuntariamente, as características e tendências das faculdades que passam a operar sob a marca dos grandes players.  As empresas, ao apresentar por força das regras do mercado de capitais seus dados, revelam parcialmente que tipo de faculdade foi criado após a explosão desse modelo e o papel do professor neste processo.

Dos números analisados, chama a atenção a diminuição relativa do custo com professores em relação à receita. A tradução disso, em termos práticos, é que as faculdades gastam proporcionalmente cada vez menos com os docentes, assim como o custo do serviço que prestam é cada vez menor em relação ao que ganham. Não se pode ignorar que a consolidação de mercado faz com que ineficiências percam espaço e que a massificação ajuda a cortar custos e maximizar receitas. No entanto, é difícil imputar apenas aos efeitos mágicos do management esse quadro. Na prática, os professores passaram a ganhar menos, dar aulas para mais alunos e, enfim, a encontrar condições de trabalho piores.

Em 2010, a relação entre os custos com professores e a receita líquida do setor estava em 45%. Em 2014, tinha caído para 35%, enquanto que as receitas haviam crescido mais de 200%. Ou seja, o desempenho econômico dessas empresas é espetacular e talvez não encontre paralelo em nenhum outro setor. Infelizmente, quando se olha para o desempenho acadêmico dessas instituições, os resultados espetaculares não se reproduzem. O exitoso modelo de negócio do ensino superior privado, impulsionado pela adoção de práticas que não tinham espaço no setor educacional e cevado pelo maná do Fies, traduziu-se na deterioração das condições de trabalho docente, na queda relativa da remuneração e na não correspondência entre resultados econômicos e retornos à sociedade, via excelência acadêmica.

Se esse modelo ajudará o Brasil a superar suas deficiências na educação e, por extensão, na qualidade da mão de obra e na produtividade do trabalho, é assunto ainda em aberto. O que é inegável é que o enorme volume de recursos públicos e privados movimentados pelas faculdades particulares tem reservado uma fatia cada vez menor para os professores, tornando a carreira cada vez menos atraente.

*Christiano Ferreira é mestre em História Social do Trabalho pela Unicamp e atua há mais de uma década como professor e gestor educacional. É sócio-diretor da Virtú, empresa especializada em projetos educacionais e produção de materiais didáticos. Atualmente pesquisa as relações entre educação e desenvolvimento econômico e social. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.

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