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(Créditos: Vitor Santana)
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(Créditos: Vitor Santana)

(Créditos: Vitor Santana)

Dentre as preferências infantis durante a permanência na escola, certamente o recreio é uma das que mais se destaca! Mas por qual razão esse é um dos momentos prediletos na opinião das crianças? A resposta, inicialmente, pode ser apresentada por meio de duas perspectivas: primeiro, trata-se de um tempo diferente daquele referente às obrigações vinculadas às áreas de aprendizagens tradicionais e, segundo, é um espaço em que é possível praticar o exercício de liberdade, ainda que condicionado pelas normatizações escolares.

O tempo e sua organização são determinantes da vida cotidiana e, para a criança, não é diferente. Tempo de aula, tempo de ir ao banheiro, tempo para lanchar, tempo para brincar, escola em tempo integral, etc. Tais exemplos evidenciam uma constante fragmentação da rotina e, consequentemente, da forma como é compreendida e tratada a pessoa. Em uma instituição fracionada em momentos rígidos determinados pelo relógio, como é o caso da escola, percebemos que o aspecto organizacional sobrepõe-se, muitas vezes, aos interesses individuais e aos movimentos coletivos que daí surgem.

Um exemplo é a divisão e direcionamento do intervalo de recreio por faixas etárias, atividades e espaços específicos: primeiro ano no parquinho; segundo ano no pátio; terceiro ano na areia; quarto e quinto anos na quadra. Nesse formato tão comum, reduz-se a possibilidade de troca de saberes entre crianças de faixas etárias distintas. Revisar esse modelo é uma urgência. Permitir ao estudante a permanência na escola de maneira menos segmentada pode favorecer um tipo de convivência mais colaborativa e menos controlada.

Conforme estudos realizados pelo GEPLEC – UFPR (Grupo de Estudos e Pesquisa em Lazer, Espaço e Cidade – Universidade Federal do Paraná), orientados por Simone Rechia, docente da casa e pesquisadora, a problemática é ainda mais ampla e deve ser tratada em conexão a elementos sociais relativos à cidade e sua organização. Escassez de espaços públicos de qualidade, insegurança nas ruas, necessidades de melhorias no transporte público, condições ineficientes de acesso e acessibilidade às áreas de lazer, diminuição de áreas para brincar, tecem uma rede de fatores que reflete sobre as pessoas, suas práticas e escolhas. A escola, nesse contexto, ganha ainda mais importância como lugar e referência de segurança que precisa ser apropriada em seu conjunto e reinventada diariamente. Daí a necessidade de promover a participação da comunidade escolar na decisão sobre a maneira pela qual deve se organizar o tempo e o espaço, de modo que as vivências lúdicas sejam movidas pelos interesses individuais e coletivos.

Assim sendo, pensar a escola, seu tempo e seu espaço permite ressignificar a vida social e política, em que o exercício de cidadania revela-se por meio de ações de planejamento, organização, reelaboração e manutenção do próprio lugar em que se vive coletivamente. Ganha sentido o termo “revitalização”, como uma iniciativa de animação sociocultural continuada, em que a busca por melhorias é motivada, ao mesmo tempo, por desejos individuais e por processos coletivos de mobilização, criação e compartilhamento.

Além da ressignificação do tempo e do espaço, a valorização da atitude das crianças deve ser considerada primordial.  Para isso, algumas estratégias simples podem ser adotadas: realizar assembleias para discutir melhorias nos espaços, viabilizá-las e desenvolvê-las; colorir o ambiente ou repintar os equipamentos disponíveis como, por exemplo, o “parquinho”; criar espaços lúdicos que possibilitem atender diferentes interesses, como o espaço da leitura, o das brincadeiras e jogos tradicionais, o das parlendas e jogos de mãos, o das músicas e danças. Essas ações ganham força e sentido quando elaboradas a partir do protagonismo e atuação das próprias crianças. Não se trata de um modelo replicável, pois é preciso considerar cada realidade e suas particularidades.

Em termos práticos ou operacionais, tais propostas são potencializadas quando associadas ao processo contínuo de manutenção e revisão das dinâmicas lúdicas e demais atividades elaboradas coletivamente. Não nos referimos à sistematização convencional que tende a cristalizar modelos, mas sim, ao diálogo permanente, em busca de propostas didáticas centradas no processo de organização coletiva, de estímulo da criatividade e participação, em que o tão desejado recreio seja dirigido, porém, pela criança!

*Artigo Escrito por Thiago Domingues. Professor, mestre em Educação Física pela UFPR, palestrante e formador pela Parabolé Educação e Cultura, que desenvolve projetos culturais de interesse social e educacional. O profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no Blog Educação & Mídia.

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