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Você já fez a experiência de resgatar uma foto sua, da época de infância, e olhar bem no fundo dos seus próprios olhos? O que encontra? E ao voltar o olhar para você, se depara com a essência do menino ou menina que está na imagem? Ou muitas coisas se passaram que o fizeram crescer rápido demais e esconder a criança que existe dentro de você?

Com essa mensagem, o documentário brasileiro “Tarja Branca – A Revolução que Faltava”, do diretor Cacau Rhoden e produção de Maria Farinha Filmes, acompanha o espectador para além das salas de cinema. As dúvidas despertadas, o diálogo interno e o questionamento com o que fizemos, e ainda fazemos de nossas vidas, nos seguem, mesmo depois do filme ter acabado.

Veja o trailer

Logo que assisti ao documentário, que é uma verdadeira imersão ao universo do brincar, me deparei acionando lembranças de uma fase mágica, onde o mundo da brincadeira era “coisa séria”. Isso não significa que era chato, pelo contrário. Aqui, o conceito de “sério” simboliza algo importante, com significado. Os adultos transformaram a seriedade em situações e posturas sem cores e sem divertimento (basta observar os ambientes dos escritórios e, em alguns casos, até as salas de aula). Ser sério, para os “grandes”, é não sorrir, não brincar com as circunstâncias. Apesar de em alguns momentos me permitir voltar a ser criança (instigada pela relação com meu filho, com meus irmãos e com alunos de projetos que desenvolvo), chego a me perguntar: “quando e por que deixei de brincar?”.

Para chegar até o resgate da criança que mora dentro da gente, o filme faz uma costura impecável. São imagens de brincadeiras, manifestações populares, do caos urbano e de depoimentos, com pessoas de diferentes visões, culturas e classes sociais (psicólogos, terapeutas, pedagogos, artistas, pesquisadores e brincantes em geral), que debatem sobre a importância do lúdico, não somente na infância, mas em todas as fases da vida. A defesa é que “brincar” pode ser a cura para muitos problemas da atualidade.

A ideia desse post é caminhar na contramão do turbilhão de informações e de novidades tecnológicas que todos nós vivemos, principalmente as crianças. O assunto não é novo, entretanto, requer, cada vez mais, destaque nas discussões. E o documentário, que já encanta e emociona pela fotografia, pelo tom poético e pela trilha sonora (composta aos sons do maracatu, sambas, cirandas e outros ritmos brasileiros), é um ótimo material para a reflexão. Quem o assiste, embarca muito mais pelo sentimento do que pela razão, pois o assunto não é tratado com o discurso acadêmico, mas sim com o coração.

Em um dos pontos do filme, vem à tona a constatação de que a maioria dos pequenos de hoje não passa por todos os ciclos do brincar, pois recebe o brinquedo pronto. As etapas da imaginação, da busca por soluções, da invenção – para então testar o brinquedo montado com suas próprias mãos e criatividade – não existem mais. Ao ganhar um brinquedo repleto de botões, luzes e que faz tudo sozinho, a criança cansa rápido demais e já quer outro, outro e outro. Associada a isso, ainda temos a síndrome da agenda lotada. Na expectativa de proporcionar um “futuro melhor” aos filhos, os pais abortam o tempo e espaço das brincadeiras, transformando as crianças em pequenos adultos, preocupadas com horários, trânsito, sucesso, além da cobrança pelo aprendizado de diferentes atividades, como inglês, dança, judô, futebol, sapateado, robótica, tênis, natação.

Mas “Tarja Branca” vai além do debate sobre o papel da brincadeira na infância. Analisa um Brasil brincante, um país com festas populares, de uma cultura alegre e divertida, onde o verbo “brincar” ainda perdura, mesmo e principalmente na vida adulta. Uma das entrevistadas, a coreógrafa Andrea Jabor, chega a afirmar: “a grande riqueza da cultura popular é que ela é a chance de você ter uma segunda infância”.

Em contraste a isso, o documentário traz a realidade de um caos urbano, com choques sociais, semblantes tristes e a invasão de doenças emocionais. A busca pelo sustento, a corrida contra o tempo, a rotina, a violência são causas e consequências do esquecimento da criança que fomos. Somos pressionados pela sociedade a encarar a vida de forma “séria”, pois “gente grande não perde tempo brincando”.

As contradições e fios que ligam todos os quadros em um diálogo claro e envolvente promovem reflexões sobre o que deixamos pelo caminho e se ainda é possível resgatar tudo isso. A resposta está em cada um. Somente você poderá responder.

>>Patricia Melo é jornalista desde 2001 e há nove anos atua em benefício da Educação por meio da Comunicação. Por meio da sua empresa, Presença – Comunicação Educacional, produz textos, entrevistas e reportagens direcionados especialmente ao universo educacional. Dessa forma, contribui para um diálogo mais consistente e criativo entre a Escola e a Família.

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