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(Foto: SESC Paço da Liberdade)
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(Foto: SESC Paço da Liberdade)

(Foto: SESC Paço da Liberdade)

A mudança de um olhar pode ser decisiva para a transformação de uma vida. Estar disposto a observá-la por outros ângulos é fundamental para despertar novas leituras, diferentes pontos de vista e possibilidades de desenvolvimento enquanto sujeito integrante da sociedade e atuante culturalmente.

Mas quando os envolvidos são crianças e adolescentes é preciso mobilização e parceria entre instituições para proporcionar atividades que estimulem os alunos a enxergar o mundo como nunca viram antes. Ou seja, é necessária uma educação que atue como o caminho para a cidadania.

O projeto Educação Patrimonial, do SESC Paço da Liberdade, é um desses exemplos. Ele acontece desde 2009, atende alunos do 8º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio de escolas públicas ou de instituições de apoio (como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) e recebe verba do Programa de Comprometimento e Gratuidade em Educação (PCG). O objetivo é exercitar o olhar dos participantes para o reconhecimento sobre o patrimônio cultural e despertar a visão crítica sobre a arte e a cultura. A previsão para seu início em 2015 é para as últimas semanas de maio, sendo que ele ocorre durante três dias consecutivos, no período do contraturno ou no horário regular da escola.

As ferramentas utilizadas – maquete tridimensional e fotografia – chamam a atenção durante a atividade. Mas o encantamento está no uso da máquina fotográfica. Com o equipamento em mãos, disponibilizado pelo projeto, a turma visita o prédio, observa detalhes da arquitetura e os fotografam. Os estudantes também recebem orientações e noções básicas sobre luz, ângulo, enquadramento e são apresentados ao contexto histórico do local. As fotografias registram e descrevem não apenas o olhar, mas o sentimento de cada participante. “A linguagem fotográfica consegue traduzir o entendimento do aluno e apresenta o resultado de todo o processo. É muito significativo, pois com as imagens conseguimos perceber a mudança”, destaca Giselle Piragis-Zogaib, técnica de atividades do SESC Paço da Liberdade.

Giselle pontua que, no primeiro dia, todos recebem a máquina fotográfica sem nenhum comentário e nem visita monitorada, podendo clicar no que chamar a atenção. “Ainda é um olhar sem preparo, com o repertório que eles têm naquele momento”, diz. No dia seguinte, a turma participa de uma aula mais teórica sobre fotografia, patrimônio, tombamento e como reconhecer esses conceitos na própria comunidade. No último encontro, voltam a fotografar. “Esse novo olhar já é transformado. Percebemos que existe uma atenção especial aos detalhes e um cuidado maior com o que estão expressando”, comenta Giselle.

A mudança do olhar do participante acontece, inclusive, para dentro dele mesmo, pois o projeto transforma ao despertar os sentimentos de pertencimento e de identidade. “Ele sente-se parte integrante de um todo e isso é levado para o seu dia a dia. É um processo educativo contínuo. Se a escola parceira souber aproveitar esse caminho, pode mudar as relações dos alunos dentro do ambiente escolar”, afirma a técnica do SESC.

“Gostei de tudo, do relógio, do sino, do telefone, da escada”; “Deitei no chão para pode tirar a foto bem retinha, sem tremer”; “Quando eu tiver meu filho vou aconselhá-lo a vir aqui”. Esses são apenas alguns depoimentos que mostram como o projeto transformou a vida dos alunos, seja na observação de objetos, no ângulo escolhido para registrar a imagem e até no pensamento sobre o futuro. Mas os reflexos positivos não terminam por aí. Na própria escola é preparada uma exposição com os trabalhos fotográficos – uma forma de envolver os demais alunos da instituição de ensino e a comunidade escolar.

Além disso, os educadores são orientados para que estimulem os estudantes a repensar sobre a relevância e o usufruto dos patrimônios. E foi o que fez a pedagoga Maria Carolina Lobo Oliveira. Ela esteve à frente das turmas do Colégio Estadual Manoel Ribas que participaram do projeto. E agora espera ansiosa para levar os alunos do Colégio Estadual Santos Dumont, onde trabalha atualmente. “Temos uma juventude com grande potencialidade, mas carente de programas que desenvolvam novos talentos. Este projeto pode e deve ser um ponto de partida”, diz. Para ela, além de conscientizar para questões sobre patrimônio, a atividade oportuniza uma série de novas perspectivas para os alunos. “A leitura de mundo de todos amplia significativamente”.

Maria Carolina ainda afirma que esta proposta mostra novos rumos para a educação. “A escola que temos é do século XIX, sendo assim, não consegue dar respostas aos anseios das novas gerações. Metodologias diferenciadas e temáticas socialmente relevantes são essenciais para que possamos fazer uma educação de qualidade e que dê respostas às questões do presente”.

Sobre o uso da fotografia, a pedagoga destaca que o significado é o despertar de um olhar sensível, consciente da sua representação e de quanto a imagem pode ser comunicativa sem usar uma única palavra. “A fotografia reúne elementos afinados de expressão e reflexão. Esse é o grande diferencial, ver o patrimônio através da lente, consciente do que quer se ver, captar e expressar. O olhar é único e num espaço histórico e belíssimo que é o Paço da Liberdade”, conclui.

O projeto Educação Patrimonial já foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) e premiado na etapa estadual do 24º Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, organizado pelo IPHAN, em 2011. A premiação incentivou a continuidade do projeto e a adesão de novas escolas até hoje. Informações: http://www.sescpr.com.br/unidades/sesc-paco-da-liberdade/.

*Patricia Goedert Melo é jornalista e há dez anos atua em benefício da Educação por meio da Comunicação desenvolvendo projetos para escolas, secretarias de educação e empresas ligadas ao segmento. Atualmente é mestranda em Comunicação Social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) na linha “Comunicação, Educação e Formações Socioculturais”. A profissional colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Educação e Mídia.

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