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E as aulas vão recomeçar nas escolas públicas do Paraná. O planejamento didático e pedagógico deve estar ocorrendo neste momento no qual escrevo essas linhas. Penso que há muitas perguntas sobre o que dizer aos estudantes que durante quase um mês acompanharam o confronto com o Poder Executivo, agora com essa trégua anunciada. O que dizer para esclarecer as razões da luta e desembaraçar o cipoal de ruídos políticos, partidários e sindicais? O que dizer sobre o destino mesmo do trabalho do professor com essa espada de Dâmocles da desestruturação da Educação Pública no Estado ( e no país), com a pouca valorização, baixos salários, falta de recursos para estrutura e aperfeiçoamento, etc.?  O que dizer sobre o futuro de um mundo cada vez menos solidário e cada vez mais competitivo, no qual os “não adaptados” ficarão pelo caminho, obsoletos e incômodos, como entulho a causar discursos de ambientalistas?

Minha sugestão é que, nesse momento de tantos ruídos enervantes, sons desencontrados, gritos histéricos, frases desconexas, discursos inflamados , os professores busquem recuperar o fundamento básico de qualquer chance de diálogo maduro e ponderado: o silêncio.

Mais do que explicar ou justificar ou convencer ou inflamar, que tal construir com os jovens alunos um “espaço” de silêncio? Pois que, como sabemos, não há diálogo quando os dois lados falam. O diálogo se realiza quando o ouvido generoso de um acolhe as palavras ponderadas do outro. Como eu falo para ser ouvido, por isso minha fala já é carregada da preocupação com o ouvinte, para não feri-lo, não indigna-lo, não exclui-lo, não subestima-lo. Isso não quer dizer que minha fala não possa ser portadora de más notícias, de verdades com arestas ( como são, de resto , todas as verdades) ou conhecimentos densos, noturnos. Não. Falar para ser ouvido carrega a humanidade que é construída sempre pela presença atenta do outro. Ouvir é isso. Falar exige, então, essa pre ocupação.

Reflito sobre isso e ouso essa sugestão por que sei que tantos professores guardam o rancor dessa luta mal digerida, a intensidade dos dias nas ruas, o som e a fúria da ocupação e dos confrontos.

Sei que muitos não veem a hora de dizer tudo isso aos alunos!

Mas será essa a melhor forma de compartilhar a experiência vivida? Com mais discursos e intensidade e clamor?

Ousemos sermos professores. Daqueles que deixam marcas. Daqueles que estruturam. Daqueles que contribuem para o crescimento e a mudança.

Ousemos ensinar o incrível e fascinante  ambiente de possibilidades que o silêncio pode proporcionar. Espaço criador de observação e diálogo. Espaço de acolhimento e compartilhamento.

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E feito isso, no tempo que for necessário, aí sim, com as atenções à flor da pele, os sentidos intensos, narrar a história de uma profissão que sabe que o ensinar é o aprender e que se não há aprendizado, a pregação foi no deserto. Por isso os políticos são o que são. Porque não ouvem. Por isso parte da população bate panelas. Para impedir que ouçam. Esse é o perigo mais grave.

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