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O prejuízo de não pensar:
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Marcuse dizia que a única maneira de o indivíduo não se liquefazer na espiral da sociedade de massa é reagir desenvolvendo sua consciência crítica, capaz de separar ( crisis ) o joio dos trigos ( pois são muitas as formas de viver bem) e assim abrir o caminho de uma vida mais autêntica , livre, autônoma.

A submissão das atitudes aos conceitos, a filiação necessária das ideias a uma cartilha de denominações, a necessária explicação das tendências das atitudes, bestifica o exercício público do opinar e do criticar e não consegue enriquecer o debate sobre nada. Pelo contrário, constrói o vazio e o silêncio.

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Dou dois exemplos: a questão do Oriente Médio. Se fala de Israel, é sionista; se da Palestina, terrorista. Se lembra da partilha da ONU, é pro-árabe; se lembra do Hamas, pró Israel. Se critica o uso indiscriminado da palavra genocídio, é pró-Israel; se fala em genocídio, é pró-palestino. Se fala em união, é pró-palestino; Se fala em separação, é pró-Israel.

Na verdade, muitas vezes, o que se deseja apenas é pensar em uma narrativa capaz de conformar melhor a realidade tirana e o que se tenta é testar certas conformações. Mas todo mundo parece já ter um texto pronto e não há mais espaço para autorias coletivas, histórias costuradas a muitas mãos. Há a violência das doutrinações, da adesão sem refletir às cartilhas sem emendas ou rasuras. E o resultados não são histórias, são formulários.

O outro exemplo é o da eleição: parece que só há duas vias para a sucessão presidencial e o discurso é sempre o de provar que uma é pior do que a outra. E se você levanta um porém, um mas, um senão, ah, não faça isso se não quiser já ser taxado como dilmista ou aecista. E aí, pra tirar a pecha, é como remover tatuagem, Um inferno.

E esse é o mundo no qual buscamos, teimosamente, meter nossa colher. Um campo minado de gente ignorante e perigosa, que parecem iguais a outros que pensam e contribuem mas que não, não são iguais. São pessoas prejudicadas por uma perspectiva unidimensional do mundo, cinza do mundo, mesmo depois de lembrarem que mesmo o cinza tem muitos tons! E essas pessoas podem ser seu vizinho, seu amigo de face, seu colega de trabalho. Cuidado quando for falar sobre o Oriente Médio, sobre as próximas eleições, sobre a Copa ou mesmo sobre a temperatura do cafezinho. Um deles pode apontar para você e começar a gritar, a bocarra medonha a emitir uivos lancinantes.

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