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Por que é tão difícil ser professor no Brasil?
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É chocante a matéria que leio nos jornais e revistas: Aumenta, exponencialmente, o abandono da carreira de docentes, principalmente no ensino fundamental. E para piorar, diminui, a cada ano, o ingresso de estudantes nas licenciaturas. O quadro, para a próxima década, é de um colapso na oferta de professores na rede pública do país. E isso em um país que quer ser uma potencia mundial!

 

As razões são conhecidas: salários aviltantes, péssimas condições de trabalho, falta de reconhecimento da profissão. Foi humilhante ver médicos recusando os dez mil reais do programa do governo e milhares e milhares de professores salivando por menos da metade disso. Uma professora disse-me, na ocasião: “Por dez mil reais eu dava aula em cima de uma árvore!”

 

E quando não existirem mais? ( fonte: gazeta do povo)

Há outras coisas: o país não tem um currículo detalhado sobre o que ensinar; a avaliação nacional ainda engatinha; não há uma escola federal de formação de professores; não há um plano de carreira atraente e meritocrático; não há uma consciência pública do papel do professor para a melhoria da saúde, da segurança e da economia, só para citar três exemplos macros.

 

Certa vez, dando um curso de formação de professores em Foz do Iguaçu, irritou-me a atitude de uma senhora que fazia tricô enquanto eu falava. Perguntei a ela por que ela não se interessava em ouvir o que eu dizia. E ela, prontamente: “Para que eu vou querer melhorar como professora se meu sobrinho ganha 3 vezes mais do que eu como sacoleiro na ponte?” E emendou: “Estou para me aposentar. Não preciso de formação. Não preste atenção em mim.”

 

Esse episódio ocorreu já há duas décadas, mas nunca esqueci o olhar de desgosto e ceticismo daquela professora. Essa imagem me visita como um fantasma muitas vezes. De lá para cá, pouca coisa mudou. Os governos continuam a pensar que formação e salário dos professores é despesa e não investimento. Os pais, muitos pais, continuam a achar que escola não ajuda muito e o importante é ter um emprego para ganhar algum dinheiro e ajudar em casa. Os jovens, muitos jovens, achando que não têm nada para aprender na escola e que os professores não são exemplo para nada e por isso não há motivo para segui-los ou obedece-los. Os professores, muitos professores, achando que nada vai mudar e a solução é a porta de saída da escola. Lá fora, quem sabe, haverá melhor remuneração, maior reconhecimento, satisfação profissional, oportunidade de crescimento.

 

Países que deram uma volta na crise e no papel secundário no cenário internacional fizeram, todos, a mesma opção: investimento maciço na formação de professores, nos programas curriculares, nos sistemas de avaliação, na valorização extrema dos profissionais. É já um clichê a história de que no Japão o único profissional que não precisa se curvar diante do Imperador é o professor. Pode não ser exatamente assim nesse país que após a segunda guerra mundial se reinventou para ser uma potencia econômica e social. Mas é sublime imaginar que aqui, um dia, o governador, ao invés de ignorar pleitos básicos e óbvios dos professores, curvasse-se em sinal de respeito e deferência.

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