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Pular catracas
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Virou moda. Você entra na estação tubo ou nos terminais, principalmente da região metropolitana, e formam-se duas filas. O pessoal que vai pagar e o que vai pular a catraca. Assim, sem nenhuma cerimônia. Quem paga fica com aquela cara de besta e são poucos os que se recusam a pular por espírito cívico. É medo mesmo. Ou vergonha. Afinal, resta ainda um pouco daquela educação que os pais deram. Mas é pouco.

Em entrevista recente, feita por este jornal, os “puladores de catraca” não se mostraram vexados nem arrependidos: “tenho quatro filhos pra criar”, disse uma, senhora já, puladora emérita. Estudantes pulam em grupo. Daqui a pouco até coreografia surge.

O mais complicado é a disseminação da desobediência civil. Pois é disso que se trata. A catraca é um símbolo de que o serviço é acessado por um pagamento. Um contrato explícito. Paga e entra. Se não pago ( pulo!) e entro, descumpro o contrato. E não me arrependo.

É certo que quando pago enfrento ônibus desumanamente cheios, atrasos, assédios, furtos e brigas. Coisa pra gado. Se não uso, não há como chegar ao trabalho e nem pensar em outras formas de transporte, mais caras ainda.

Impasse entre cidadania e honestidade. Talvez nem uma coisa nem outra passe pela cabeça dos puladores de catraca, mas apenas sobrevivência. Principalmente da senhora de quatro filhos. Dinheiro do ônibus ou do pão. Escolha fácil.

Outra coisa complicada é o exemplo. “Se quiserem me prender que prendam”, disse um dos puladores. Sabe que é possível ,mas já não liga. País virado do avesso, gente graúda levando a rodo dinheiro das pessoas e os serviços cada vez piores, pra que tanto pudor, farinha pouca que sobra da roubalheira, deixa um tasco pro meu pirão!

E assim vai caminhando nossa cidade e seu transporte público, como metáfora de um engodo maior, sem fio pra deslindar nem Ariadne a vista. De pulo em pulo, as sombras se avizinham

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