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Quando um escritor morre
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No último ano, mais da metade dos brasileiros sequer abriu um livro. Nosso analfabetismo não cede e a falta de compreensão é geral. Agora um novo aplicativo permite que as pessoas dublem outras e abram mão, definitivamente, de qualquer autoria.

Ainda assim, quando morre um escritor, há uma tristeza diferente que contamina até quem não os conhece ( e que são quase todos ). Por que será?

Penso que mesmo quem não lê percebe que a leitura é um algo de santo que ainda persiste entre tantas quedas; algo de intenso em meio a tantas frustrações; algo de sano em meio a tantas tonterias. Quem lê reveste-se de algo que mesmo a roupa mais chic deixa a desejar. Quem lê traveste  auras e sobrolhos lindos. E como não há de reparar?

E aí um escritor morre ( e ontem foram dois, pois desgraça pouca é bobagem) e se ficam as obras vai-se o obreiro e seus sonhos por haver…eis o cadáver. E ficamos nós como quem assiste o último capítulo da série que não vai mais continuar. Como quem dá um beijo na avó que mora longe e que , “quem sabe o ano que vem”, sabendo que não haverá o ano que vem para ela. É triste.

Nossa escola produz, continuamente, não leitores, maus leitores, iletrados com diploma cujo texto tropegariam ao ler. Mas, por alguma razão compensatória, sempre há um novo escritor a mobilizar nosso tempo , pregando-lhe remendos mágicos, tocando tambores rítmicos, dando abraços afetuosos. E só por isso a tristeza diminui um pouco.

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