• Carregando...
A orquestra no Proms sob a direção de Sascha Goetzel
A orquestra no Proms sob a direção de Sascha Goetzel| Foto:
A Orquestra Filarmônica Borusan de Istambul

A Orquestra Filarmônica Borusan de Istambul

Uma orquestra turca, onde 99% dos músicos são do próprio país, sustentada por um poderoso grupo industrial local, com um repertório comprometido com sua cultura, com um extenso serviço de formação cultural na comunidade, onde o diretor musical estrangeiro é responsável por 80% das apresentações da orquestra, não há dúvida, pode nos levar, como brasileiros, a uma profunda reflexão.
A Orquestra Filarmônica Borusan de Istambul, uma das melhores orquestras da atualidade, mostra de forma clara a extensão dos benefícios de um aparelho cultural em meio a uma sociedade de um país em desenvolvimento. Fundada em 1999 e custeada por um gigantesco “holding” industrial da Turquia, a orquestra tem feito uma carreira cheia de consistentes êxitos. Seu sucesso mais recente foi o concerto que a Orquestra, sob a regência de seu atual diretor musical, o austríaco Sascha Goetezel, realizou no Proms de Londres, o mais importante festival de música clássica do mundo. Antes disso a orquestra, em 2010, obteve outro êxito no Festival de Salzburg.
O primeiro diretor musical da orquestra foi o turco Gürer Aykal, e desde janeiro de 2009 atua neste cargo Sascha Goetzel. Com ele a orquestra já gravou 3 Cds, com uma fórmula extremamente inteligente: nada de gravar Sinfonias de Schubert ou Beethoven e sim gravar obras que tenham a ver com a linguagem musical turca, ou em termos mais genéricos, do mundo muçulmano. O primeiro CD desta série inclui por exemplo “Belkis, rainha de Sheba” de Ottorino Respighi, partitura com uma orquestração primorosa e com inúmeros empréstimos do idioma do oriente próximo. O sucesso deste lançamento foi enorme, e o último CD da orquestra traz uma realização estonteante do clássico oriental do compositor russo Rimsky-Korsakow: Sheherazade. Alguns trechos da parte de harpa são substituídos, por exemplo, pelo instrumento que Korsakow quis imitar, o Qanun, um instrumento muito usado na música folclórica turca. Além deste detalhe há um comprometimento tal da orquestra que faz com que os críticos coloquem esta versão no alto da lista das inúmeras gravações desta obra.
A inteligência da escolha do repertório, tanto no Proms quanto em Salzburg e nos Cds, vem do fato que seria uma estupidez levar uma orquestra tão boa para Inglaterra ou a Áustria para tocar obras que as Orquestras de lá tocam muito bem. Não há dúvida que a Orquestra Filarmônica Borusan de Istambul tem competência para tocar sinfonias de Schubert, de Beethoven, de Mahler, mas ao escolher o tipo de repertório que inclui em suas turnês, a contribuição da orquestra fica mais evidente. Quem quiser consultar a próxima temporada da orquestra (clique aqui) poderá ver que em Istambul a orquestra toca um repertório bem variado, com obras importantes de diversos períodos da história da música. Em resumo, seu repertório é pensado para a consolidação da qualidade artística da orquestra. No entanto, sua marca quanto ao resto do mundo, é de um flagrante comprometimento com sua herança cultural.

A orquestra no Proms sob a direção de Sascha Goetzel

A orquestra no Proms sob a direção de Sascha Goetzel

O Concerto no Proms

O concerto que a orquestra realizou no Proms de Londres no final de julho deste ano recebeu uma aclamação tanto do público (6000 pessoas assistiram o concerto) quanto da imprensa. Este concerto foi transmitido pela BBC (Santo Deus, que excelente filmagem) no último dia 31. O repertório tem início com Islamey do russo Balakirev, calcado em temas orientais. A próxima obra é “Beni Mora”, uma partitura de cunho oriental composta pelo inglês Gustav Holst (aquele de “Os Planetas”). O mundo turco passou também pela abertura de “O rapto do serralho” de Mozart. Outra homenagem aos ingleses é uma execução de um trecho do oratório Sansão de Handel: A entrada da rainha de Sheba. Daí a obra de Respighi “Belkis, rainha de Sheba”, e como extra a obra clássica turca mais prezada em seu país: Köçekçe rapsódia para orquestra do compositor turco Ulvi Erkin. O público delira no final tanto pela esplendorosa sonoridade das cordas, quanto aos estonteantes solistas de sopro, e um naipe de percussão que acabou sendo o mais aplaudido da noite. Mas creio que uma parte considerável do êxito deste concerto se deve ao carisma e também à competência do maestro Sascha Goetzel. Sua integração com a orquestra é algo raramente vista. Sua competência levou, a meu ver, ao ponto alto desta noite: ele regeu de memória Köçekçe, com todos os seus intrincados ritmos, com uma incessante mudança de compassos. Köçekçe para os turcos equivale para nós à Abertura de O Guarani de Carlos Gomes ou “O Moldávia” de Smetana para os Tchecos. O respeito dele pela obra ficou evidente. Outra coisa boa: a Orquestra Filarmônica Borusan de Istambul acaba de vez com qualquer preconceito a respeito do mundo muçulmano (a Turquia é um país laico): inúmeras (belas) mulheres (mais do que a metade) e uma delas inclusive tocando trombone!Esta orquestra pode ser um bom motivo para a Turquia finalmente entrar na Comunidade Européia.

O Concerto da Orquestra no Proms em sua forma integral. Vale a pena copiar!!!No programa tem a estréia de um Concerto para violino de Gabriel Prokofiev, neto do compositor russo !!!

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]