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A música clássica em Curitiba está no fundo do poço
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A decadência é evidente: a música clássica vem desaparecendo das atividades culturais da cidade de Curitiba. Estamos no fim do mês de março e o último concerto clássico de grande porte por aqui aconteceu em meados de dezembro. Exceções pontuais aconteceram em eventos esparsos (bons muitas vezes) mal divulgados e com pouco público como o recital da cantora Ana Häsler acompanhada pelo pianista Jeferson Mello Moro no MON em fevereiro e o recital do violonista Luciano Lima no Paço da liberdade neste mês, esforços hercúleos e mal pagos. Às vezes não nos damos conta, mas a derrocada da vida musical no viés clássico por aqui vem caminhando paulatinamente, através dos anos, a níveis próximos da extinção. Curitiba já foi muito diferente neste aspecto. Montagens de óperas e grandes Ballets, atrações internacionais, solistas de grande renome, comercio especializado de instrumentos e partituras, tudo isso já existiu, mas simplesmente desapareceu. Além da Orquestra Sinfônica do Paraná e da Camerata Antiqua Curitiba já esteve na rota da Dell’Arte (que trouxe para cá estrelas como o maestro Maris Jansons e a pianista Lilya Zilberstein por exemplo), estava na rota da série de concertos do Bank Boston (posteriormente Itaú), teve uma fantástica série de concertos internacionais numa bem urdida coprodução entre a secretaria de cultura do Estado e o governo italiano, a “Latina”, e contava com uma sociedade de Concertos, a Pró música, que trouxe para cá estrelas do nível de Kurt Masur, Barenboim, Christopher Hogwood, London Sinfonieta, entre muitos outros. Também havia um incentivo para artistas brasileiros, com destaque para curitibanos, se apresentarem em salas decentes para um numeroso público. A programação musical da Universidade Positivo, por exemplo, que cumpria também este papel, foi totalmente extinta. A Curitiba que conheci quando cheguei aqui há 32 anos, no que se refere à música clássica, não existe mais. Enquanto, a menos de 400 quilômetros daqui, São Paulo, mesmo com derrocadas recentes, convive com uma vida musical intensa e de altíssimo nível (veja as temporadas da Cultura Artística, do Mozarteum, as temporadas das OSESP e do Teatro Municipal), Curitiba se restringe a quase nada. Estamos atrás de cidades muito mais pobres do que Curitiba como Goiânia, Belém e Manaus.

Golpes recentes

A derrocada continua a acontecer, e neste ano de 2017 vieram através de ações de quem menos se poderia esperar. Primeiro do prefeito Rafael Greca, que sempre posou de homem culto, amante das artes, que numa canetada extinguiu a Oficina de música de Curitiba, evento de alto nível que acontecia aqui no mês de janeiro há mais de 30 anos. Em seguida pela ineficiência da gestão do governador Beto Richa, filho do fundador da Orquestra Sinfônica do Paraná, que não soube resolver um problema criado por seu antecessor, Roberto Requião (que por sinal ordenou uma diminuição drástica de música clássica na Rádio Educativa do Estado), o que levou à demissão de dezenas de excelentes músicos da Orquestra Sinfônica do Paraná, e que levou à inviabilização da mesma. A única esperança que ainda resta é a Camerata Antiqua da prefeitura que deverá fazer seu primeiro concerto oficial em meados de abril na Capela Santa Maria, mesmo sabendo da diminuição do orçamente da Fundação Cultural. Para uma cidade de dois milhões de habitantes, capital de um dos mais ricos estados da federação é muito pouco. O poder público e a iniciativa privada tem muitas culpas, mas a sociedade civil também tem, por não por a mão no bolso por nenhuma atividade de música clássica. Enquanto ingressos de shows populares e peças de teatros com globais pairam por volta de 300 reais em Curitiba, nem 20 reais para um concerto o público paga. Em termos de música clássica Curitiba chegou mesmo ao fundo do poço.

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