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Joseph Haydn em retrato pintado por John Hoppner
Joseph Haydn em retrato pintado por John Hoppner| Foto:
Joseph Haydn em retrato pintado por John Hoppner

Joseph Haydn em retrato pintado por John Hoppner

Nos próximos dias 16 e 17 de setembro estarei mais uma vez regendo a Camerata Antiqua de Curitiba. Desta vez um concerto apenas orquestral e todo centrado em torno de um grande compositor: Joseph Haydn (1732-1809). Na minha visão este grande mestre ocupa uma situação de ser um tanto quanto preterido frente ao seu colega contemporâneo Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Apesar de contemporâneos e amigos os dois marcam uma ruptura na maneira de viver dos compositores europeus na virada dos séculos XVIII e XIX. Haydn, 24 anos mais velho, foi o último grande compositor a ser um mestre de capela de um poderoso nobre enquanto que Mozart foi o primeiro grande compositor ocidental a ser economicamente independente, visto que desde os 20 anos de idade ele não tinha um “patrão”. Talvez isso explique o porquê de Haydn ser tão longevo e Mozart ter morrido tão cedo. Apesar de nos apaixonarmos pela vida arriscada de Mozart, e isto ter-lhe granjeado tantos admiradores, a estabilidade que Haydn obteve de seu empregador, oferecendo condições de trabalho excepcionais e raras entre os criadores musicais, fez com que ele escrevesse diversas obras absolutamente geniais.

Prícipe Nikolaus Esterházy

Prícipe Nikolaus Esterházy

Haydn esteve a serviço de um nobre que era um excelente músico: Nikolaus Esterházy, príncipe húngaro que viveu de 1719 a 1790. A família Esterházy conseguiu um prestígio enorme na corte austríaca por sua devoção aos Habsburg, à defesa da Hungria fazer parte do império austríaco e por ações militares vitoriosas comandadas por eles, como o cerco que os otomanos fizeram a Viena em 1683. Nikolaus Esterházy, reconhecendo a genialidade de Haydn, ofereceu um substancial aumento nos salários dos músicos de sua orquestra, o que fez com que Haydn tivesse à sua disposição instrumentistas excepcionais. Das 106 sinfonias que Haydn escreveu (todas geniais) mais de 70 foram feitas para este excepcional empregador. Entre os anos de 1766 e 1773 Haydn escreveu para o príncipe uma série de sinfonias com um caráter quase experimental, as erroneamente chamadas “Sinfonias Sturm und Drang” (Tempestade e ímpeto), referência ao primeiro movimento romântico da literatura. Nestas sinfonias temos diversos procedimentos pouco usuais: o uso de cantos gregorianos servindo de tema, tonalidades raras, orquestrações muitas vezes excêntricas, etc. Neste concerto da Orquestra da Camerata Antiqua serão executadas duas destas sinfonias. Inicialmente a Sinfonia Nº 59 em lá maior conhecida como “Sinfonia do fogo” (Feuersymphonie) que ganhou este apelido pelos extremos contrastes de dinâmica, especialmente no primeiro e último movimentos. Muitos viram nestes contrastes uma chama de fogo que ora se intensifica, ora se abranda. A outra é a mais experimental de todas estas sinfonias “Sturm und Drang”, a Sinfonia Nº 45 em fá sustenido menor conhecida como “Sinfonia do adeus”. Esta obra prende-se ao fato de que o príncipe Esterházy fazia com que a orquestra ficasse longas temporadas em seu castelo no interior do país, o que fazia com que os músicos (muitas vezes jovens) ficassem um longo tempo afastados de suas esposas e filhos. Criou-se um clima de revoltaentre os instrumentistas e Haydn, temeroso de perde-los, foi bem certeiro em termos musicais para fazer uma reclamação ao seu “musicalmente esclarecido” empregador. Escolheu uma tonalidade absurda (fá sustenido menor), “bagunçou” totalmente as formas, colocou uma nota “errada” no minueto e no final escreveu uma música que possibilitava que cada músico, um a um, saísse do palco. Além de ser a única sinfonia já escrita nesta tonalidade é a única que termina com apenas dois músicos em cena. Muita novidade mesmo. Vale a pena lembrar que o Príncipe entendeu a reclamação, e no dia seguinte à execução da obra deu ordem para todos fazerem as malas e partirem para suas casas.

Mais um projeto frente à Camerata Antiqua

Desde 2012 tenho realizado anualmente projetos com a Camerata Antiqua em torno de um determinado compositor. Em 2012 – Schubert. Em 2013 – Villa-Lobos e Bach. 2014 – Mozart. Chegou agora o momento de Joseph Haydn, aquele que eu chamo do gênio musical preterido do período clássico. Além destas sinfonias “experimentais” o programa inclui o Concerto em Ré maior para piano e orquestra, obra escrita em 1784, extremamente influenciada pelos concertos para piano de Mozart. Destaque da apresentação: a presença do jovem (12 anos de idade) e excepcional pianista Estefan Iatcekiw, discípulo da grande professora russa Olga Kiun.

Estefan Iatcekiw

Estefan Iatcekiw

E para concluir uma última dúvida: o movimento final do concerto para piano em ré maior cita a linguagem musical húngara. Seria uma homenagem ao sábio “patrão”? Venha ao concerto e me ajude a responder.

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