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O uso desrespeitoso de celulares é cada vez mais frequente em teatros e cinemas
O uso desrespeitoso de celulares é cada vez mais frequente em teatros e cinemas| Foto:
O uso desrespeitoso de celulares é cada vez mais frequente em teatros e cinemas

O uso desrespeitoso de celulares é cada vez mais frequente em teatros e cinemas

A falta de educação do público que frequenta as salas de concertos e cinemas em nosso país é algo que reputo de extremamente grave e desagradável. Eu mesmo já desisti de assistir certas apresentações por aqui para não me desgastar pois sei que numa apresentação terei que enfrentar pessoas esquecendo de desligar o celular, conversando ao celular ou com a pessoa que está ao seu lado, descascando balas, deixando as crianças que as acompanham fazerem a maior bagunça, e tantas outras coisas que leva ao desespero as pessoas que saem de casa para ter um contato com a arte e com a cultura. Neste aspecto a diferença entre o público brasileiro e o público dos países adiantados é enorme. Resultado da nossa combalida educação em geral, a atitude deste tipo de público não só compromete a apreensão do que está sendo apresentado, como também prejudica a concentração, especialmente de nós que exercemos o difícil ofício de fazer música clássica. Um caso extremo, que diz respeito a esta falta de educação, aconteceu no Rio de Janeiro no final do mês passado. Uma estagiária de direito foi assistir um espetáculo de Ballet no Theatro Municipal daquela cidade. Pelos relatos ela atendeu mais de uma vez seu telefone celular no meio do espetáculo, o que provou revolta das pessoas à sua volta. Um jovem francês, talvez desacostumado com os hábitos brasileiros, acabou entrando em conflito com a jovem e, ao que parece sem querer, fez com que a mesma despencasse escada abaixo. Ela acabou ficando ferida e a coisa terminou numa delegacia de polícia. O jornal “O Globo” noticiou o ocorrido, e você pode ler a matéria da publicação carioca aqui.

Não sou uma pessoa violenta, mas confesso que quase me senti “vingado” pelas inúmeras vezes que me senti prejudicado pela falta de educação de algumas pessoas da plateia, tanto estando eu no público ou atuando como músico. O que mais me irrita é a desfaçatez com que as pessoas não percebem o quanto incomodam as pessoas que estão ao seu lado. Confesso que o que mais me irrita são as conversas (ao vivo ou via celular) e as crianças, “liberadas” por seus irresponsáveis pais, que tiram a concentração de qualquer profissional. Não me irrita o fato das pessoas aplaudirem entre os movimentos de uma sinfonia ou de um concerto, e nem aprecio muito as pessoas que censuram isto. Muito pior do que os aplausos em hora errada são as conversas, os ruídos, e desrepeito. O trompista da Orquestra Petrobrás Sinfônica, Antonio Augusto, um bom amigo, descreveu no facebook o que se passou num concerto que regi no mesmo Theatro Municipal do Rio cinco dias antes do incidente narrado pelo Globo: “… em um dos camarotes bem perto do palco uma senhora elegante digita em seu celular sem parar. Ela nem toma conhecimento dos artistas que estão no palco, do que está sendo tocado, nem mesmo aplaude (ou vaia) a orquestra. Esta postura é desestimulante, desrespeitosa e revela uma pequenez assustadora. Como pode alguém estar em um teatro como este, ouvindo uma música incrível e simplesmente se manter alheia, imune, insensível ao momento que vive? Esta é a nossa classe letrada, nossa elite. Este momento é um retrato perfeito da falta de profundidade, de respeito e sensibilidade de uma classe rica e vazia!!”. Falando em celulares lembro também que na passagem do excelente violinista canadense James Ehnes em Curitiba o mesmo comentou, também no facebook, o fato de um rapaz na primeira fila do Teatro Guaíra não parar de jogar em seu celular durante toda a sua apresentação. Que contraste quando presenciamos a atitude de plateias educadas, o que é raro por aqui. Algo que me impressiona em certos países é que, além do silêncio e do respeito aos artistas e ao público, num concerto o espaço de tempo entre a última nota da música e os aplausos é grande, mostrando que as pessoas saboreiam até as últimas ressonâncias, algo que inexiste por aqui. Lamentavelmente.

Exemplo notável em um vídeo do falecido maestro Claudio Abbado. O respeito do público ao final do Requiem de Mozart

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