• Carregando...
O ator Gérard Depardieu e o maestro Ricardo Muti
O ator Gérard Depardieu e o maestro Ricardo Muti| Foto:
O ator Gérard Depardieu e o maestro Ricardo Muti

O ator Gérard Depardieu e o maestro Ricardo Muti

Gerárd Depardieu é o ator francês mais conhecido atualmente. Homem de grande cultura tem em sua extensa filmografia um dos melhores filmes que tratam de música clássica, “Todas as manhãs do mundo”, onde vive o compositor francês Marin Marais, expoente do barroco musical francês. Foi o maestro italiano Ricardo Muti quem fez com que o ator se interessasse também por uma das obras menos conhecidas do grande compositor francês Hector Berlioz (1803-1869): “Lélio, ou o retorno à vida” opus 14a. Esta é na verdade uma das obras mais excêntricas do autor, e foi pensada como complemento a uma das composições mais famosas de Berlioz, a “Sinfonia fantástica”. Um ator representa na obra o “jovem artista” (na verdade o próprio compositor) que tentou se suicidar na “Sinfonia fantástica”. Depois que a Sinfonia termina o personagem desperta: “Estou vivo ainda”, diz ele. E lembra todas as suas paixões literárias (Goethe, Shakespeare entre outros) e suas lutas através de diversas obras que ele compôs antes da Sinfonia Fantástica. Utilizando um enorme coro, dois solistas vocais, um piano e uma gigantesca orquestra, Berlioz faz com que o ator aos poucos se misture às composições, sendo que na última parte, uma Fantasia sobre “A tempestade” de Shakespeare, chega a dirigir palavras para o maestro e a orquestra, corrigindo-os. No final os violinos repetem em pianíssimo o tema principal da Sinfonia Fantástica (o tema da amada) quando o ator diz: “Ainda, e para sempre”. Tanto a Sinfonia Fantástica quanto Lélio foram compostas em torno de uma tempestuosa paixão que o compositor teve pela atriz irlandesa Harriet Smithson (1800–1854). Berlioz a viu atuando em papeis shakespearianos como Ofélia, Julieta e Desdêmona e teve seu interesse afetivo fortemente repelido. Ao compor as duas obras imaginou fazer uma súplica especial à sua amada. Ela assistiu à primeira apresentação da Sinfonia Fantástica seguida de Lélio em 1832, e a estratégia artística do autor funcionou: eles se casaram no ano seguinte. O problema é que Berlioz tinha se apaixonado pelos personagens que ela vivia no teatro, e achava a Harriet verdadeira uma mulher aborrecida, possessora e ciumenta. O casamento foi um desastre, e durou menos de dez anos. “Lélio, ou o retorno à vida” teve apenas duas montagens durante a vida do compositor: a estreia em 1832 e uma apresentação regida por Liszt em Weimar em 1855.

Depardieu e Muti a serviço de Berlioz

O novo CD que contém Lélio de Berliz

O novo CD que contém Lélio de Berliz

A primeira vez que o maestro Ricardo Muti concretizou sua ideia de se utilizar de Depardieu para “Lélio” de Berlioz foi em 1997 em Paris, com a Orquestra Nacional da França. Quando foi nomeado Diretor Musical da Orquestra Sinfônica de Chicago em 2010 teve a feliz ideia de repetir o espetáculo com o ator, com a Sinfonia e “Lélio”, aproveitando a excelência excepcional da orquestra americana. Todas as apresentações, que acorreram em setembro de 2010, tiveram os ingressos esgotados muito antes do que de costume. No último dia 11 o selo próprio da Sinfônica de Chicago (CSO Resound) lançou um CD duplo com o espetáculo completo. Existem dezenas de gravações da Sinfonia Fantástica, mas raríssimas são as gravações de “Lélio”. Um grande ator é indispensável para tal empreitada, e a última vez que houve uma gravação digna da obra foi em 1968 com a regência de Pierre Boulez e a notável atuação do ator Jean-Louis Barrault. Diferente deste último que mostrava sofrimento e tristeza, Depardieu pinta um personagem revoltado, colérico e quase que bipolar. Minha primeira impressão é que ele foi mais convincente. A gravação que foi feita ao vivo reproduz a reação da plateia quando o ator aconselha o maestro a ser atento e pede que os coralistas não afundem as cabeças atrás das partituras. Pelas risadas dá para imaginar as feições cômicas do sisudo maestro italiano ao ter que interagir com o ator. Os solistas vocais Mario Zeffiri, tenor, e Kyle Ketelson, barítono, são surpreendentes e é uma pena que não apareça no livreto o nome do clarinetista, que executa com um primor extraordinário o solo na seção “A harpa eólica”. Para amantes do teatro, para amantes do cinema e para amantes da obra de Berlioz um lançamento obrigatório. No Brasil você pode baixar no iTunes por U$15,99. Baixando os dois Cds você recebe o excelente livreto em PDF, que vem com o texto integral de Berlioz em francês e em inglês.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]