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Monumento fúnebre de Antonio Canova em Viena
Monumento fúnebre de Antonio Canova em Viena| Foto:
Monumento fúnebre de Antonio Canova em Viena

Monumento fúnebre de Antonio Canova em Viena

A morte prematura sempre nos choca, sobretudo quando percebemos o enorme talento que parece mesmo ter sido ceifado antes do tempo. Na música clássica existem exemplos que nos fazem ao mesmo tempo lamentar e imaginar o que estes talentos poderiam produzir se tivessem mais tempo de vida. Viveram muito pouco mas no entanto foram capazes de deixar obras primas no curto espaço de tempo que tiveram, e são sempre lembrados como talentos impressionantes que a morte prematura não permitiu que se desabrochassem completamente. Falo de três deles.

Retrto do compositor Arriaga. Pintor anônimo.

Retrto do compositor Arriaga. Pintor anônimo.

Juan Crisóstomo Arriaga

Alguns grandes compositores morreram jovens, como Schubert que faleceu aos 31 anos e Mozart que faleceu com 35. No entanto o genial compositor espanhol, originário do País Basco, Juan Crisóstomo Arriaga (1806-1826), faleceu muito mais jovem, alguns dias antes de completar 20 anos de idade. Nem Schubert e nem Mozart escreveram obras tão maduras na idade em que ele teve a capacidade de compor. Para muitos ele tinha uma ligação espiritual com Mozart (há quem afirme que houve uma reencarnação), afinal de contas ele nasceu no mesmo dia, 27 de janeiro, 50 anos exatos depois do nascimento do compositor austríaco. No entanto Mozart aos 16 anos não escreveu nenhum quarteto tão bem escrito como os Três Quartetos que Arriaga compôs em 1822, e nem Schubert escreveu uma Sinfonia tão bem-acabada aos 18 anos como a Sinfonia em ré que Arriaga compôs em 1824. Para quem se debruçar sobre estas obras não pairará nenhuma dúvida: estamos diante de um gênio. Nascido em Bilbao estudou no Conservatório de Paris, onde foi aluno de grandes mestres como Cherubini e Fétis. Aos 18 anos de idade foi nomeado professor assistente da instituição. Uma tuberculose o matou no início de 1826. Sem dúvida uma enorme perda.

Retrato do compositor Guillaume Lekeu pintado por Servais Detilleux

Retrato do compositor Guillaume Lekeu pintado por Servais Detilleux

Guillaume Lekeu

Guillaume Lekeu (1870-1894) foi um compositor belga que também faleceu extremamente jovem. Nascido numa pequena cidade do interior de seu país natal acabou se transferindo junto com sua família para Paris. Lá travou contato com outro compositor belga, César Franck, com quem estudou contraponto e fuga. Depois da morte de César Franck em 1890 Lekeu passa a estudar com Vincent d’Indy, que lhe ensina também orquestração. Através deste último Lekeu conheceu o grande violinista também belga Eugène Ysaÿe, que encomenda a obra prima do compositor, sua Sonata em sol maior para violino e piano, obra que consta no repertório de todo grande violinista. Ele a compôs em 1892, isto é, com apenas 22 anos de idade, demonstrando um tipo de maturidade só comparável a Mendelssohn e Mozart. Foi autor de um belo Quarteto de Cordas e de diversas obras orquestrais. Sua belíssima Sonata para violoncelo e piano é um desafio para os intérpretes com sua excepcional duração de quase 50 minutos. Contraiu uma febre tifoide ao ingerir um sorvete contaminado vindo a falecer no dia seguinte de seu 24° aniversário. Outra perda lastimável.

Retrato de Pergolesi de pintor anônimo

Retrato de Pergolesi de pintor anônimo

Giovanni Battista Pergolesi

Compositor que participou da transformação estilística do barroco para o classicismo Giovanni Battista Pergolesi (1710-1736) colaborou de forma decisiva para a transformação da ópera de uma linguagem sempre ligada a assuntos mitológicos para algo ligado a uma realidade muito mais palpável. Seu Intermezzo “La serva padrona” servirá de modelo para a Ópera Bufa, grande sucesso de público na segunda metade do século XVIII. Até o nome da personagem principal, a esperta criada chamada Serpina, servirá de modelo para o nome de outras empregadas também espertas de duas óperas de Mozart: Despina de Cosí fan Tutte e Zerlina de Don Giovanni. Além deste trabalho lírico altamente futurista, Pergolesi escreveu uma das mais belas páginas sacras da primeira metade de século XVIII, o Stabat Mater, para duas vozes e cordas. Duas obras primas incontestáveis. No entanto vale a pena lembrar que seu intermezzo cômico foi escrito quando ele tinha apenas 23 anos de idade e sua obra prima, o Stabat Mater, quando tinha 26 anos. Foi com esta idade que ele faleceu de tuberculose. O fato de ele ter morrido tão cedo e ter conquistado uma enorme admiração fez com que diversos editores inescrupulosos editassem obras de outros autores como sendo de autoria de Pergolesi. Igor Stravinsky em 1920 compôs um ballet em homenagem ao compositor italiano, Pulcinella, usando obras que ele pensava serem de Pergolesi como inspiração. No entanto o compositor russo se utilizou quase que exclusivamente de obras de outros autores, que no século XVIII tomaram carona na fama do compositor italiano.

Vídeos

O belíssimo Quarteto de cordas Nº 2 em lá maior de Arriaga. Com esta idade, 16 anos, nem Mozart e nem Schubert compuseram nada tão bom.

A bela Sonata em Sol Maior para violino e piano de Lekeu, uma das grandes sonatas escritas para esta formação. Nada mal para um compositor de 22 anos de idade.

O Stabat Mater de Pergolesi. Obra prima de um compositor de 26 anos de idade.

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