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Nicolau de Figueiredo: a morte de um grande músico
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Muito pesar pela morte prematura do cravista e maestro Nicolau de Figueiredo acontecida ontem, dia 6, em São Paulo, cidade onde nasceu em 1960. Aluno de piano de Sonia Muniz na Escola Municipal de Música logo se interessou pelo cravo e pelo repertório musical do século XVIII. Estudou com grandes cravistas, mas fica nítida a influência que o excêntrico cravista Scott Ross (1951-1989) teve sobre ele. Existe inclusive um vídeo de Scott Ross dando aulas para seus alunos favoritos, pouco antes de sua morte, e Nicolau está entre eles (você poderá acessar no final deste texto).
Sua atuação como cravista (tocando fortepiano) nas montagens e gravações de óperas de Mozart (Cosí fan tutte e Le nozze di Figaro) dirigidas por René Jacobs causaram até mesmo ciúme dos cantores por sua atuação ter merecido mais destaque das críticas do que a atuação dos cantores. Sua musicalidade aliada a uma criatividade sem limites fazia de suas atuações um evento sempre único. Nicolau de Figueiredo foi o único brasileiro, além de Nelson Freire, a receber uma crítica muito especial, “Choc – Le Monde de la musique” da conceituada revista francesa “Le Monde de la Musique”, por sua gravação de Sonatas de Scarlatti em maio de 2006. O crítico Philippe Venturini comenta nesta crítica que Nicolau se iguala, neste CD gravado na Suíça, aos maiores cravistas que ele já ouviu. O imenso sucesso deste primeiro CD fez com que outros aparecessem, com obras de Soler, Johann Christian Bach, Seixas e Haydn.
Humilde ao extremo não teve a ciência da autopromoção. Por isso mesmo este sucesso europeu passou desapercebido para a maioria dos músicos brasileiros, exceção feita àqueles que se dedicam à música barroca. Voltou a morar no Brasil em 2011, e atuava em sua cidade natal como professor e recitalista.

Lembranças pessoais

Duas lembranças pessoais: Nicolau foi meu aluno de Harmonia entre 1978 e 1979, quando ainda eu morava em São Paulo, e sempre fiquei impressionado pelo fato dele sempre me entregar os exercícios com requintes excepcionais, incluindo ornamentações bem sofisticadas, realizando muito mais do que simplesmente harmonizar um baixo cifrado. Além desta lembrança como professor ficará para sempre a memória de um concerto que assisti em Curitiba no ano de 2005. Nicolau ao cravo dirigiu o oratório “O Messias” de Handel com a Camerata Antiqua, tendo notáveis solistas como Jeniffer Smith e Paulo Mestre. O que se passou naquela noite no palco do Teatro Guaíra é algo difícil de definir, mas, em poucas palavras, nunca ouvi a obra de Handel numa execução tão convincente e tão bela, nem ao vivo e nem em gravações. Nicolau realizou um milagre: fez o coro da Camerata Antiqua soar como se fosse um coro muitas vezes maior. Era realmente um artista excepcional.

Vídeo

Nicolau tendo aula com Scott Ross

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