• Carregando...
A Filarmonia Nacional de Varsóvia, sede do Concurso Chopin
A Filarmonia Nacional de Varsóvia, sede do Concurso Chopin| Foto:
A Filarmonia Nacional de Varsóvia, sede do Concurso Chopin

A Filarmonia Nacional de Varsóvia, sede do Concurso Chopin

Nesta semana o evento mais comentado de música clássica a nível mundial foram as provas finais de Concurso Chopin. Uma novidade: através da Internet torcidas se organizaram em diversos países, e as provas foram acompanhadas em todo o planeta. Minha dúvida, no entanto, me inquieta: o Concurso Chopin continua a deixar legados comparáveis ao que legou no passado? Vamos à história do certame: o Concurso internacional de piano Chopin (Międzynarodowy Konkurs Pianistyczny im. Fryderyka Chopina) acontece em Varsóvia desde 1927. No primeiro concurso o premiado foi um dos maiores pianistas russos do século XX, Lev Oborin (1907-1974). O concurso, que acontece a cada 5 anos só não aconteceu de 1937 até 1949, anos trágicos para a Polônia (invasão nazista e depois ocupação soviética). Quando foi retomado outra grande pianista russa foi premiada: Bella Davidovich (nascida em 1928). Na década de 1950 houve o estranho resultado de 1955 quando o grande músico russo Vladimir Ashkenazy (nascido em 1937) ficou em segundo lugar frente ao pianista polonês Adam Harasiewicz (nascido em 1932). Não resta dúvida que o auge da importância do evento se deu entre 1960 e 1975 (como já disse o concurso acontece sempre a cada 5 anos). Em 1960 o vencedor foi o italino Maurizio Pollini (nascido em 1942), um fenômeno musical que além de tocar de forma excelente o repertório tradicional (Chopin, Mozart, Beethoven, etc.) foi o único dos laureados no concurso que colaborou para a difusão do repertório contemporâneo. Além de Schoenberg, Berg e Webern colocou em seus recitais e gravações obras de mestres contemporâneos como Pierre Boulez, Luigi Nono, Karlheinz Stockhausen, Bruno Maderna e tantos outros. Na edição seguinte, em 1965 o primeiro lugar ficou para a argentina Martha Argerich (nascida em 1941), sem dúvida uma das maiores pianistas da atualidade, que até hoje exerce uma notável carreira de camerista. Vale lembrar que neste Concurso de 1965 o segundo prêmio ficou para o brasileiro Arthur Moreira Lima, o único conterrâneo premiado no concurso. Num certo sentido Pollini e Argerich alavancaram a importância da competição, que acabou dando um primeiro prêmio em 1970 para um pianista americano infinitamente inferior aos dois antecessores, o americano Garrick Ohlsson (nascido em 1948). No entanto o brilho da competição voltou com a premiação do polonês Krystian Zimerman (nascido em 1956), um dos grandes artistas de sua geração. Na minha maneira de ver as premiações de Pollini, Argerich e Zimerman fizeram do Concurso Chopin um evento extremamente influente. Mas depois de 1975 nenhum premiado conseguiu alçar voos tão altos como os que estes três conseguiram. Sem dúvida, o nível técnico continua sendo altíssimo, mas as presenças artísticas mostram serem limitadas. Apesar de serem músicos competentes o vietnamita Dang Thai Son, premiado em 1980, e o russo Stanislav Bunin, premiado em 1985, não constam em nenhuma lista dos 10 maiores pianistas de sua geração. Talvez pela constatação de que a Competição trilhava caminhos estranhos o primeiro prêmio não foi dado nas edições de 1990 e 1995. No ano 2000 o primeiro oriental acabou premiado, Yundi Li (nascido em 1982). Considerado um herói nacional em seu país de origem, a China, suas execuções não conseguem uma unanimidade da crítica em geral, mas suas gravações batem recordes de venda em seu país natal. A isto se deve sem dúvida a permanência de sua carreira. As edições seguintes revelaram mais dois pianistas extraordinários em termos técnicos, mas sem nenhum traço artístico marcante: o polonês Rafal Blechacz (premiado em 2005) e a russa Yulianna Avdeeva (premiada em 2010). Nesta semana, utilizando todos os recursos tecnológicos, como o Youtube por exemplo, terminou mais uma edição do concurso, e o premiado foi o coreano (do Sul logicamente) Seong-Jin Cho, nascido em 1994. Assisti pela Internet inúmeras provas, inclusive do vencedor. Confesso que nada me entusiasmou. Tenho certeza absoluta que as limpíssimas execuções não evidenciaram artistas excepcionais. Muitos então se perguntam: a grande arte do piano morreu? Asseguro que não. Além dos grandes artistas maduros, inclusiva Pollini, Argerich e Zimerman ouçam jovens pianistas como o inglês Benjamin Grosvenor e a chinesa Yuja Wang pata constatar que a grande arte do teclado ainda está viva. Afirmo com segurança que os grandes pianistas não deixaram de existir. O que aconteceu na realidade é que o Concurso Chopin, mesmo com altos prêmios em dinheiro e com uma tecnologia de ponta em termos de divulgação, perdeu sua importância e influência.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]