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O nazismo e a musica: a vergonha da colaboração. A coragem dos resistentes
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Carl Orff, compositor que ganhou a simpatia do nazistas

O período em que a Alemanha foi governada pelos nazistas (1933-1945) deixou de forma mais evidente a relação da arte em geral, e da musica em particular, com os poderes totalitários. Esta relação foi estreita em diversos países, sendo adequado aqui colocar que a relação com estes poderes totalitários não foram privilégio da Alemanha nazista. Exemplos funestos de colaboração aconteceram na Rússia comunista , e se bem que num contexto muito melhor e positivo, até na relação do estado novo com Heitor Villa-Lobos.

Mas vou me restringir a algumas particularidades da amplitude da relação da composição musical com o sistema nazista. Em primeiro lugar vamos lembrar que durante 12 anos foram expressamente proibidas a execução de obras de compositores de origem judaica , sendo que os exemplos mais escandalosos neste aspecto foram Mendelssohn e Mahler. Além disso os nazistas criaram um termo para a arte de vanguarda : entartete Kunst – arte degenerada. Por causa disso obras de Schoenberg, Webern, Alban Berg, Bartók, Stravinsky, entre muitos outros foram proibidas. O que nos assusta é que a proibição vinda dos líderes nazistas contou com a colaboração de grandes músicos, que se mostraram tremendamente subserviente a estas ideias . Difícil acreditar que músicos da estatura de Herbert von Karajan ( que tinha até a carteirinha do Partido) e de Wilhem Furtwängler acabaram aceitando estas proibições . Mas o fizeram. A colaboração nazista de ambos os músicos foi rapidamente esquecida, assim como foi esquecida ou ignorada a atuação de compositores como Carl Orff (1895-1982) , um nazista atuante, que chegou a escrever uma musica incidental para a peça de Shakespeare “Sonho de uma noite de verão” para substituir a proibida partitura homônima de Mendelssohn.

Um aspecto pouco conhecido dos horrores nazistas aconteceu num campo de concentração : Terezin ou em alemão Theresienstdt. Neste local, que atualmente se encontra na Republica Tcheca ( estive lá em março) , foram mandados o que poderíamos chamar da “nata” intelectual judia que vivia em lugares dominados pela Alemanha. Diversos excelentes compositores foram feitos prisioneiros e morreram neste campo, ou de lá foram enviados para outros campos para serem assassinados. A lista é enorme, e podemos lembrar entre outros: Pavel Haas ( 1899-1944), grande compositor tcheco, Viktor Ullmann (1898 – 1944) , autor de uma ópera chamada O Imperador de Atlantis, que chegou a ser ensaiada no campo de concentração, mas que por fazer uma clara paródia a Hitler , acabou sendo um fator para acelerar a sua execução e Hans Krása ( 1899-1944) autor das belíssimas Três canções com textos de Rimbaud para barítono , clarinete viola e violoncelo, que foi executada secretamente no campo de concentração, por instrumentistas que também estavam prisioneiros Notem que todos morreram em 1944.

O mais importante compositor que morreu assassinado pelos nazistas foi Erwin Schulhoff ( 1894- 1942). Além de ser judeu, este grande compositor teve acrescida à lista de ódios dos nazistas o fato de ser comunista e um entusiasta do jazz. Suas obras de vanguarda como a sua Sonata Erótica podem parecer bizarras mas seus Quartetos de cordas e suas peças de câmera , especialmente sua Sonata para violino solo, são das obras mais interessantes daquele período .

Em 2007 foi lançado um magnifico CD pelo selo Deutsche Grammophon com obras compostas dentro do campo de concentração. Este disco foi concebido pela grande cantora sueca Anne Sophie von Otter. Recomendo demais vocês conhecerem este CD. Nele se encontra uma das mais humildes e tocantes revoltas à barbárie nazista .É uma canção , bem simples escrita por Ilse Weber ( 1903 – 1944). Duvido que as lágrimas não emerjam de muitos olhos ao escutar esta singela canção, que esta poetisa e educadora escreveu para as crianças que se dirigiam à morte.

indianapublicmedia.org
Anne Sophie von Otter

O Nazismo é sempre um sinal de alerta para que não acreditemos nos poderosos a tal ponto que esqueçamos dos nosso conceitos éticos.

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