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Plácido Domingo: aos 75 anos ainda surpreendendo
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Plácido Domingo: uma ressurreição

Plácido Domingo, este notável cantor espanhol, continua a nos surpreender mesmo estando com 75 anos, idade na qual a maioria dos cantores de ópera já se retiraram dos palcos. Depois de se tornar o tenor mais versátil e com o maior repertório de toda a história da ópera, passa a cantar nos últimos anos no registro de barítono. Desde 2010 vem interpretando o papel título de “Rigoletto” de Verdi, uma ópera em que sempre atuou no papel do tenor, o “Duque de Mantua”. Outros papeis de barítono de óperas de Verdi entraram em seu repertório nos anos seguintes: “Simon Boccanegra”, O “Conde de Luna” (da ópera “Il Trovatore”) e “Nabucco”. O que mais me surpreende é que aquilo que aparentava ser um fim de carreira de um grande tenor (eu o assisti numa apagada performance de “Siegmund” na “Valquíria” de Wagner em 2010) tornou-se um renascer do artista. Plácido Domingo, mesmo septuagenário, se inscreve na lista dos maiores barítonos verdianos da história.

Uma carreira cheia de recordes

Plácido Domingo começou a cantar profissionalmente aos 18 anos em alguns teatros do México e de Israel. Nesta época, apesar de atuar em partes de barítono de Zarzuelas, cantava papeis pouco pesados de tenor como “Ferrando” do “Così fan tutte” e “Don Ottavio” do “Don Giovanni”, ambas de Mozart. Sua guinada para papeis mais pesados e dramáticos coincide com suas estreias no Metropolitan Opera de Nova York, na Ópera de Viena e na Ópera de Hamburgo, no final da década de 1960. Especializado no repertório italiano, cantando os mais importantes papeis dramáticos de Verdi e Puccini, a partir de 1968 se aventura no repertório wagneriano. Sua formação musical excepcional (já atuou como Maestro e é um bom pianista) lhe permite aprender novos papeis com impressionante rapidez, e talvez isto tenha feito com que ele se torne o tenor com o maior repertório da história como aponta o “Guinness Book”: 147 papeis diferentes, em 6 idiomas: italiano, espanhol, francês, inglês, alemão e russo. Para nós brasileiros é interessante lembrar que o tenor espanhol atuou em duas produções de “Il Guarany” de Carlos Gomes, em Bonn e Washington. Sua competência e versatilidade o levaram a ser o tenor mais desejado de todos os grandes maestros e de todos os grandes teatros de ópera do mundo, atuando em centenas de gravações tanto de áudio como de vídeo. Foi o primeiro tenor espanhol a atuar no Festival wagneriano de Bayreuth na Alemanha (cantou “Parsifal” e “Siegmund” na “colina verde”) e foi o cantor que mais vezes atuou na abertura da temporada do Metropolitan Opera de Nova York: 24 vezes. Aliás até hoje Domingo já cantou 673 vezes naquele teatro, o dobro das vezes que seu colega Luciano Pavarotti cantou por lá. Outro recorde absoluto de Plácido Domingo: foi o único cantor até hoje que chegou a cantar em cena 225 vezes o papel de “Cavaradossi” da “Tosca” de Puccini. Nada mal!

O Plácido Domingo essencial

Muito difícil escolher o realmente essencial entre as centenas de registros que Domingo realizou. Escolho cinco entre os mais notáveis testemunhos deste grande artista.

Verdi – “Il Trovatore” – Domingo. Leontyne Price, Sherril Milnes. Regência: Zubin Mehta.CD.1970.
Este registro foi feito depois das legendarias apresentações feitas no Met regidas por Zubin Mehta. O então jovem tenor deixa aqui um registro do frescor, beleza e virilidade de sua voz. Se tivesse que escolher apenas uma gravação de Domingo, esta seria uma forte candidata.

Verdi – “Otello” – Domingo, Te Kanawa, Leiferkus. Regência: Solti. DVD. Covent Garden. 1992

O papel de “Otello” cai como uma luva para a voz a as aptidões cênicas de Domingo. Na falta de uma cópia comercial da versão de Milão regida por Carlos Kleiber, esta é sem dúvida a melhor opção de se ver e ouvir Domingo encarnando o Mouro de Veneza.

Se é só para ouvir existe um registro excepcional desta ópera em que Domingo atua junto a Renata Scoto, regida por James Levine. Agora como barítono não seria nada mal ver Domingo cantando o papel de” Yago”.

Wagner – “Lohengrin”- Domingo, Jessye Norman, Siegmund Ninsgern. Regência: Solti. CD. 1986.

Se bem que muitas vezes só em estúdio, Domingo cantou todos os papeis principais das óperas de Wagner. “Lohengrin” foi o papel wagneriano que Domingo cantou mais vezes em cena. Existe um bom DVD regido por Abbado, mas a voz de Domingo aparece aqui de forma ainda mais gloriosa. As páginas em que ele canta junto a Jessye Norman são absolutamente antológicas.

Berlioz – “Les Troyens” – Domingo, Jessye Norman, Tatiana Troyanos. Regência: James Levine. DVD. Metropolitan opera. 1982.

Domingo preparou o dificílimo papel de “Eneas” da obra de Berlioz apenas para esta produção grandiosa do met. No entanto ele canta o papel como se tivesse uma enorme familiaridade com o mesmo. Sua pronúncia do francês é assombrosa.

Puccini – “Turandot” – Domingo, Eva Marton. Regência: Jamoes Levine. DVD. 1988. Metropolitan opera.

Na suntuosa (e às vezes de gosto duvidoso) produção de Franco Zefirelli Domingo ilumina cada nota, cada passagem da última ópera de Puccini. O equilíbrio obtido com Eva Marton está entre os momentos antológicos vividos pelo tenor espanhol.

O Plácido Domingo barítono

Sem atingir o nível destes 5 registros já históricos existem DVDs muito bons com Plácido Domingo atuando como barítono realizados recentemente. Destacaria “Simon Boccanegra” que ele gravou em Milão com Daniel Barenboim em 2012 e “Nabucco” que ele gravou em Londres com Danielle Abbado em 2015.

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