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A ópera "O Rei Rogerio" na controvertida montagem da ópera de Paris
A ópera "O Rei Rogerio" na controvertida montagem da ópera de Paris| Foto:
Karol Szymanowsli: o maior compositor polonês da primeira metade do século XX

Karol Szymanowsli: o maior compositor polonês da primeira metade do século XX

Karol Szymanowski – O maior compositor polonês de seu tempo

Karol Szymanowski nasceu numa região, que hoje em dia pertence à Ucrânia, em 1882, em meio a uma abastada família polonesa, proprietários de terra. De início pensou em se tornar um grande pianista, mas apesar de ser um excelente instrumentista, ele muito cedo vai se dedicar à composição. Suas obras são em geral divididas em três fases. Na primeira delas é evidente a influência do compositor alemão Richard Strauss (1864-1949), sendo que esta influência é facilmente percebida quando ouvimos suas duas primeiras Sinfonias (1906-1909) e sua Abertura de concerto opus 12 (1905). Na sua produção para piano sentimos a influência de Chopin e de Sciabin. Depois de uma viagem pelo sul da Europa e norte da África em 1913 ele mergulha no universo impressionista. Nesta segunda fase temos suas obras mais originais. Se bem que ele sofra muita influência de Debussy, Ravel e Stravinsky, ao contrário das obras da primeira fase composicional em que as influências são bem aparentes, nesta segunda fase encontramos obras extremamente pessoais. A linguagem harmonica, instrumental e formal são completamente originais. Se há uma influência dos grandes compositores franceses da época podemos dizer que ele conseguiu de vez fazer com que as harmonias francesas passassem para o terreno da música atonal. Seus trípticos para piano solo, Métopes opus 29 e Máscaras opus 34, e Mitos opus 30, para piano e violino, todos compostos entre 1916 e 1917, demostram uma solidez estilística só encontrada em grandes mestres. Páginas e páginas sem uma tonalidade definida fazem com que tenhamos aqui composições tão belas e complexas como as de Schoenberg ou Bartók. É nesta época que Szymanowski vai compor sua Terceira Sinfonia – Canção da noite, obra escrita para tenor solo, coro e uma gigantesca orquestra. O texto desta Sinfonia é do poeta persa do século XI Jalāl ad-Dīn Muḥammad Rūmī. A obra é revolucionária em diversos aspectos, mas um deles é facilmente perceptível: a obra não tem nem um início e nem um fim expresso de forma clara. A Sinfonia começa do nada e termina no vazio. Podemos afirmar com segurança que esta terceira Sinfonia de Szymanowski é uma das sinfonias mais importantes compostas em todo o século passado. Também desta riquíssima segunda fase criativa do compositor polonês se inclui o seu lindo Primeiro Concerto para violino e orquestra, obra de 1916. Percebemos que até 1918 a atividade do compositor permanece intensa, tanto pela qualidade quanto pela quantidade de obras primas. E é neste ano que ele compõe outra obra fantástica: a ópera “O rei Rogério”, uma das mais importantes composições líricas do século XX, obra que não fica devendo nada ao “Wozzeck” de Alban Berg ou “O castelo de Barba-Azul” de Bartók. Szymanowski era assumidamente gay, e nesta ópera, que tem libreto do grande escritor polonês Jarosław Iwaszkiewicz (1894-1980), largamente modificado pelo compositor, deixa claro um envolvimento amoroso entre o Rei Rogério e o misterioso Pastor, que na realidade se revela no final ser o Deus Baco. E por falar em temáticas gays é desta época que o compositor deu início a uma empreitada literária bem ousada: Ephebos, um romance com temática homossexual, cujo manuscrito foi parcialmente destruído quando da ocupação nazista da Polônia em 1939.

A ópera

A ópera “O Rei Rogerio” na controvertida montagem da ópera de Paris

Com a revolução comunista russa de 1917 a família de Szymanowski passa a enfrentar sérias dificuldades financeiras, pois todas as suas propriedades foram confiscadas. Com a independência da Polônia em 1918 ele passa a exercer cargos importantes nas instituições musicais de seu país, e é a partir de 1920 que podemos localizar sua terceira fase, ligada à música folclórica polonesa, especialmente da região dos “Goral” e das montanhas “Tatras”. O espirito religioso polonês é facilmente percebido na obra máxima desta última fase de sua vida: “Stabat Mater”, para solistas coro e orquestra, de 1926. Obra elogiada pelo compositor Igor Stravinsky, foi pensada originalmente para ser cantada em polonês, apesar de que a partitura inclui a opção de ser cantada em Latim. Sua última obra importante é sua Sinfonia Nº 4, obra concertante para piano e orquestra, escrita em 1932, uma de suas obras mais acessíveis. Vale a pena lembrar que nesta fase mais nacionalista polonesa o compositor escreveu Mazurkas com uma originalidade rítmica (com mudanças de compasso) e com uma harmonia altamente intrincada, bem distante das Mazurkas de Chopin. Os últimos anos de vida de Szymanowski foram de uma extrema pobreza, e sua luta contra a tuberculose termina com sua morte em 1937.

Szymanowski: um desconhecido no Brasil

Se Szymanowski já é um autor conhecido na Europa e nos Estados Unidos, sua obra permanece quase que completamente ausente em nossos concertos. A única execução de uma obra importante dele por aqui foi num Festival Internacional de Música de Curitiba, em 1977, quando seu Stabat Mater foi brilhantemente executado em primeira audição brasileira (eu, ainda estudante, cantei no coral, e quem regeu foi Roberto Schnorrenberg). Obras essenciais como a Sinfonia Nº3, Mitos, “O Rei Rogério” e muitas outras nunca foram sequer pensadas para serem apresentadas aqui. A mesmice de nossas programações sinfônicas, as limitações de criatividade no repertório de nossos instrumentistas, e a pobreza de nossas temporadas líricas fazem com que um dos maiores compositores do século XX permaneça entre nós um “ilustre desconhecido”.

Ouvindo e vendo Szymanowski

Felizmente a obra de Karol Szymanowski tem sido gravada em áudio e vídeo com grandes intérpretes. Sua obra orquestral mais importante (Sinfonias 3 e 4), seus concertos para violino e o Stabat Mater foram magistralmente registrados por Sir Simon Rattle, um grande divulgador da obra do compositor polonês. Da obra pianística destaco o CD de Piotr Anderszewski, apesar de adorar as gravações de Mikhail Rudy e Cédric Tiberghien. O trítico Mitos para violino e piano é magistralemte interpretado pelos conterrâneos do compositor Kaja Danczowska (violino) e Krystian Zimerman (piano). Em DVD existe um vídeo com as Sinfonias 3 e 4 regidos pelo grande maestro polonês Antoni Wit. Da ópera Król Roger (O Rei Rogerio) existe um DVD muito bom gravado no Festival de Bregenz regido por Sir Mark Elder. Um bom livro a respeito de Szymanowski não é algo fácil de encontrar. Em inglês recomendo o curto estudo de Christopher Palmer (Um compositor numa encruzilhada de caminhos). No entanto é em francês que existe o mais profundo estudo do compositor: Karol Szymanowski, escrito por Didier Van Moere, editado pela Fayard. Um trabalho biográfico excelente. Em português, esqueça…..

Szymanowski no Youtube

Existem itens fantásticos no youtube. Vale a pena baixar. Do concerto Nº 1 para violino e orquestra existe um vídeo em HD com a maravilhosa Janine Jansen. A Sinfônica de Londres é regida por Valery Gergiev. Fortemente recomendado.

Com a mesma violinista outro vídeo em HD. Mitos. Ela atua com o excelente pianista Itamar Golan

Num vídeo bem ruinzinho, mas com um som correto o Stabat Mater regido pelo finlandês Esa-Pekka Salonen. Se a imagem é ruim, vale a pena pelas legendas (em inglês) e pela estonteante execução.

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