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Uma parábola de Natal: a história da árvore mais velha do mundo
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Quem olha não dá muito por ele, não. Desprovido de maiores atrativos estéticos. Mirradinho. Magro mesmo. Até feinho, diriam os ranhetas. E mais: solitário e caladão. Mas erra quem o toma pela aparência frágil. Como nos ensinaram nossos avós, quem vê cara não vê coração.

Sem mais rodeios, apresento-lhes Old Tjikko. Vou me permitir dar uma aportuguesada: Velho Tico. Fica melhor assim.

Só que não. Ele não é gente, não. Para o caso de você estar pensando que fosse… Trata-se de um espruce-da-Noruega, pícea-europeia ou abeto-falso. Hã? Traduzindo: um tipo de pinheiro. Daquele que é o mais usado no Norte da Europa como árvore de Natal. A original. 

Mas o Velho Tico não é apenas mais um pinheiro de Natal perdido nos confins da Suécia (outra pegadinha: o espruce, a espécie, é da Noruega. Ao menos no nome. Mas esse tem passaporte sueco). Voltemos ao tema. Old Tjikko é especial. Do alto de seus 5 metros, é tão somente a árvore mais antiga do mundo: 9.550 anos, comprovados pela ciência.

OK, há muita controvérsia sobre qual é a árvore mais velha do planeta. Depois chego nisso. O importante é que o Velho – e bota velho nisso! – Tico disputa com galhardia uma inscrição no Guinness Book da botânica.

Quando a semente do então Baby Tjikko brotou, não existia história propriamente dita. A humanidade nem imaginava o que é isso que você, caro leitor, faz neste momento: ler. Nem escrever. As primeiras letras só foram colocadas no papel (na verdade, em tabuletas de barro) há uns bons 5 mil ou 6 mil anos. Uga, uga: quando Tico nasceu, vivíamos nas cavernas, caçávamos mamutes, lascávamos pedras, vestíamo-nos com pele de urso e palitávamos os dentes com lasca de osso… se bem que há gente que ainda hoje faz isso com objetos bem estranhos, o que me leva a duvidar se alguns evoluíram. Mas isso é pano para outra manga.

Old Tjikko é especial não apenas pela antiguidade. Mas pela forma como sobreviveu às areias do tempo com um ar até mesmo juvenil.

Árvores milenares costumam ser imensas. Não escondem em seus gigantescos troncos retorcidos as marcas de tanto açoite do vento, intempéries, sol, frio, pragas. Isso para não falar da ação do homem. E, quando muito, chegam penosamente aos 5 mil anos.

Mas, então, como o Velho Tico quase dobrou essa longevidade? Não contavam com sua astúcia: o segredo de nosso pinheirinho está em suas raízes. Elas é que são velhas. O tronco, os galhos e a copa são surpreendentemente novos. Têm umas poucas centenas de anos. Se é que tanto. E, na raspa do tacho, não vão passar dos 600.

A parte jovem da árvore é que fica exposta ao clima gélido das altas latitudes suecas. É ela que sofre em busca de sol. E padece. Quando o tronco apodrece e cai, as raízes tratam de erguer outro no lugar. Com o mesmo material genético.

Trata-se, na verdade, de um caule-clone. Essa, aliás, é a polêmica científica que cerca nosso personagem: ele é uma árvore clonal. Tem gente que diz que, para ser a mais antiga, tem de ter tudo velho. E não só nas raízes. Questão de definição.

O ponto a que quero chegar não é esse. Os finalmentes dessa prosa: a força de Old Tjikko está na base que o faz se erguer através dos milênios; naquilo que não se vê.

Nós somos assim. Nossa fortaleza não está na aparência, que envelhece rapidamente. Mas sim no que não se vê, e que não muda tanto. Naquilo que nos faz levantar todas as manhãs em busca de um lugar ao sol. No que acreditamos. No que somos em essência. Quem vê cara não vê coração, já nos ensinaram nossos avós. Ou, como disse um homem sábio há muito tempo: o tesouro de alguém fica onde está o seu coração.

É uma velha (e bela) mensagem natalina. Renovada por um antigo pinheiro de Natal.

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