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Desde o “Charlottesville rally”, incontáveis reportagens e textos de opinião trataram do ocorrido, usando uma terminologia para classificar os grupos envolvidos, na maior parte das vezes, bastante equivocada. Entre os equívocos, o mais recorrente foi chamar nazistas e neonazistas de “extrema-direita”, quando não apenas de “direita”. Há quem ache fútil, talvez até birrenta, a discussão sobre a natureza do nazi-fascismo. Porém, como bem pontuou Flávio Morgenstern em podcast que eu já citei aqui na coluna, a confusão conceitual alimenta a violência política. Afinal, quem primeiro classificou o nazi-fascismo como sendo “de direita” ? Nada mais nada menos que os teóricos da Escola de Frankfurt Herbert Marcuse e Theodor Adorno, os pais da esquerda moderna no ocidente. Ambos eram judeus refugiados na América, e por essa razão o meio acadêmico e jornalístico lhes deu muito crédito ao falar de nazismo e fascismo. Ocorre que seu objetivo maior era promover a agenda da esquerda. “Com efeito, eles reinventaram o fascismo como um fenômeno da direita política. Nesta interpretação absurda, o fascismo foi transformado nas duas coisas que os fascistas reais desprezam: livre mercado e apoio a uma ordem moral tradicional”, explica Dinesh D’Souza no artigo a seguir, em que mostra detalhadamente a construção do espantalho da “direita fascista” que, de tão desprezível, se tornaria o principal alvo de xingamentos de nosso tempo.

Ainda sobre a “extrema-direita”

Alguns comentaristas pouparam a direita em suas análises do trágico episódio em Charlottesville, mas não deixaram de ressaltar suas preocupações com o ressurgimento da “extrema-direita” no panorama político. A gente entende que quiseram alertar para o perigo do crescimento dos movimentos neonazistas e da KKK, que carregam a bandeira da supremacia branca. Esses grupos são de fato perigosos, como se viu no caso de Charlottesville. Só que estão longe, ainda, de apresentar um número expressivo de integrantes (diferentemente do Antifa). Ora, então como surgiu essa preocupação? Justamente do engodo de chamá-los de “extrema-direita”, cujo caldo foi engrossado, aos olhos dos “especialistas”, pela alt-right e por todo o eleitorado de Donald Trump. É verdade que o atual presidente americano não é o republicano direitista típico, e seus principais apoiadores na mídia e seus eleitores mais entusiasmados seguem mais ou menos a mesma linha. Eles têm um perfil diferente da direita já acomodada no establishment, eles são a direita alternativa, a alt-right. Direita alternativa não é o mesmo que “extrema-direita”. Este termo já está tão carregado de conotação fascista, que é por isso mesmo que a alt-right não quis se misturar com os famigerados “extremistas”. Agora, vejamos com Fabio Blanco como mesmo a adoção do termo “extrema-direita” para designar fascistas é perniciosa e sem fundamento lógico. A expressão dá a entender que quanto mais à direita, mais abominável. O problema, como já visto, é que fascismo não é “de direita”, considerando que “de direita” é o conservadorismo e o liberalismo. Portanto, ser extremamente conservador ou extremamente liberal não dá na mesma que ser nazi-fascista.

Direitistas e a cabeça de militante
Todo esse papo de o que é a direita, o que é a esquerda, o que é o nazismo, o que é o conservadorismo, o que é o liberalismo, se você assumiu que me esforcei em responder só para dizer que direitistas são do bem, então você não entende como funciona a cabeça de um conservador (meu caso) – que é justamente o sujeito que tenta fugir das visões estereotipadas para tentar se manter tão fiel quanto consegue à realidade, que está sempre se perguntando se está entendendo as coisas ou se as está deturpando segundo a sua visão de mundo. Para começo de conversa, a canalhice não é exclusividade de nenhum grupo ideológico – ela é abundantemente distribuída no planeta; do mesmo modo, a inteligência não pertence à direita ou à esquerda. É claro que é possível notar características em comum entre pessoas que pensam de modo parecido. Mas a adesão a um determinado conjunto de convicções não é garantia de que a pessoa faça jus ao que acredita; muito menos é possível excluir do cálculo a liberdade humana e a inteligência, capaz de detectar as particularidades das situações concretas. Mas é verdade que há gente que se esforça para limitar o seu entendimento a uma cartilha que lhe veio pronta: é o pessoal com “cabeça de militante”, o que também não é exclusividade da esquerda. Paulo Briguet comenta declarações de Nelson Rodrigues, Gilberto Freyre, Jorge Amado e Alexander Soljenítsin sobre o pensamento ideológico, esse modo de interpretar o mundo – e, portanto, de fomentar ações – que tanto corrompe a inteligência e a alma.

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