• Carregando...
(Imagem: Divulgação)
(Imagem: Divulgação)| Foto:
(Imagem: Divulgação)

(Imagem: SPVS)

É com perplexidade e impotência que todos observam os avanços incontidos de resíduos de mineração que fluem em uma importante bacia hidrográfica da região Sudeste do Brasil, agora já invadindo o mar. Em meio a informações desencontradas, impera a inconsistência nas tentativas de explicar por que técnicas adequadas não foram colocadas em prática para que esse tipo de acidente nunca tivesse ocorrido.

O casamento que potencializa desastres assim é bem conhecido. Uma legislação inadequada e órgãos ambientais orientados a corromper a aprovação de empreendimentos de grande porte demandam condicionantes insuficientes para que os estudos que são realizados demonstrem os reais riscos existentes.

A partir daí a implantação do empreendimento simplesmente abre mão de cuidados não exigidos por lei ou pelos norteadores do licenciamento. Alavancam resultados econômicos aos investidores responsáveis pelo negócio e assumem, conscientemente, todos os riscos que podem atingir a terceiros.

O caso de Mariana é mais impressionante aos olhos da população por representar um fenômeno agudo, com muitas mortes, desabrigados e leitos de rios destruídos. Um desastre anunciado que agora prejudica a todos. Inclusive as empresas responsáveis, que podem até deixar de atuar, dependendo do rigor com o qual um governo corresponsável, só agora, passará demagogicamente a demandar.

Esse caso levanta também uma necessidade de melhor percepção dos impactos de desastres crônicos que, ao longo do tempo, podem ser mais sérios do que ocorreu em Mariana. E é o silêncio com o qual prejuízos sociais, econômicos e ambientais são compilados em doses muito menores, dia após dia, que impede uma melhor percepção sobre a sua real gravidade.

É por essa diferença de percepção que a maioria de nós não tem a exata medida do dano dos efeitos crônicos da degradação da natureza causados pela destruição paulatina de áreas naturais. Há muitos exemplos para serem expostos, mas um deles se encaixa como uma luva aqui no Paraná: o não cumprimento, seguido do desmanche, do Código Florestal.

Os rios do Paraná hoje têm a mesma cor da lama do Rio Doce. São centenas de milhares de proprietários que desmataram mais do que preconiza a lei. Décadas de erosão incontrolada, de diminuição da fertilidade dos solos, do desaparecimento de polinizadores, da perda de resiliência para com fenômenos climáticos e muitas outras consequências negativas.

O preço da contabilidade das externalidades não assumidas pelos negócios do campo avança há anos sobre orçamentos públicos e sobre as condições de vida de toda a sociedade, incluindo os próprios proprietários rurais. Bilhões de dólares foram gastos para o controle da erosão, mas sem prestigiar a manutenção de áreas naturais dentro do que especifica a lei.

É desafiador internalizar entre nós essa ponderação, mas não existem dúvidas de que Mariana não representa um desastre maior do que os efeitos cumulativos da degradação da natureza imposta pelo povo paranaense à sua terra.

O Código Florestal do Paraná, e sua recente regulamentação pelo Governo do Estado, não produziu o alarde do desastre de Minas Gerais. Mas como ele, atenta contra a sociedade, por abrir espaços extremos para que uma condição minimamente favorável para a manutenção de áreas naturais bem conservadas na maioria das propriedades rurais deixe ser uma prática em nosso estado.

A lama crônica, silenciosa e contínua acabará por cobrir a todos. A lama da subserviência inconsequente e do desenvolvimento irresponsável.

*Este artigo foi escrito por Clóvis Borges, diretor executivo da ONG Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental – SPVS, parceira do Instituto GRPCOM no blog Giro Sustentável.

**Quer saber mais sobre cidadania, educação, responsabilidade social, sustentabilidade e terceiro setor? Acesse nosso site! Acompanhe o Instituto GRPCOM também no Facebook: InstitutoGrpcom, Twitter: @InstitutoGRPCOM e Instagram: instagram.com/institutogrpcom

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]