“Cultura? Arte? Isso não tem importância! Tem que dar comida para as crianças, garantir saúde e educação de qualidade para se tornar alguém na vida, arrumar um trabalho. Cultura é balela, é papo de artista para encher linguiça!”.
Quem nunca ouviu comentários do gênero, críticas assim? Trabalhar com cultura nem sempre é fácil. Na verdade, quase nunca é fácil.
Estamos sempre em um processo contínuo de autoafirmação, tentativas de colocar em números e resultados palpáveis àquilo que fala à alma. Ainda bem que existe uma nova onda de pessoas pensando, falando, discutindo e comprovando a importância da arte e da cultura para a formação de crianças, adolescentes e até de adultos. A arte do brincar, a pintura como forma de expressão, o efeito da música para corpo e mente, o poder envolvente e formativo das histórias… a lista vai longe.
Mas, às vezes, até a nossa própria mente nos coloca em encruzilhadas e pede comprovações de que o caminho que estamos trilhando é realmente importante, que faz a diferença e que pode, sim, ser transformador.
Em 2013, criamos na nossa organização social o projeto Arte Transforma para levar aulas de desenho para a criançada. O projeto é semanal e específico para unidades de acolhimento da Prefeitura de Curitiba, com meninos afastados da família por motivos diversos, como vulnerabilidade, abandono, violência e maus tratos. As aulas têm trazido resultados muito bacanas com os meninos, mas recentemente tivemos uma comprovação e uma dimensão real desse poder transformador da arte.
Em abril deste ano, Gabriel*, um dos meninos de 14 anos que participam das aulas, nos contou (orgulhoso) que já tinha perdido o ano letivo, tinha desistido e que não iria mais para a escola. Falou também, entre uma reclamação e outra, que queria virar desenhista. “Pra isso não precisa de escola!”, disse ele. Mal sabia que estava frente a frente com uma artista plástica, formada em Gravura pela EMBAP – Escola de Música e Belas Artes do Paraná.
No decorrer das aulas, pincelamos como pano de fundo e nas conversas informais a importância dos estudos para quem quer virar um profissional das artes e o quanto a escola de hoje faz parte dos degraus dessa longa jornada para “chegar lá”. Um passo de cada vez, uma área servindo à outra.
Enquanto isso, nossa artista entrou em um desafio para tentar fazer com que essa conversa toda deixasse de ser “blábláblá” e se tornasse um pouco mais concreta para o Gabriel. Ela ligou e foi até a Belas Artes, conversou com os responsáveis, da secretaria à coordenação dos cursos, dos professores à diretoria da instituição. Já tínhamos um plano articulado!
No dia 13 de agosto apresentamos o universo da EMBAP para o Gabriel. Depois de um tour pela faculdade inteira, de conhecer o ateliê de gravura, de ouvir o som dos alunos da música e ver os trabalhos de xilogravura pelas paredes, ele entrou em sala, ocupou uma carteira e participou de uma aula de desenho com modelo, lado a lado com os alunos da turma de primeiro ano de Gravura.
O Gabriel já falou com a sua professora, já está fazendo trabalhos extras para recuperar o ano que, segundo ele estava perdido e já disse, com muita, mas muita determinação: “vou estudar, passar de ano, entrar na Belas Artes e virar desenhista!”.
Se a Arte Transforma? Para o Gabriel, transforma. Para as crianças que atendemos, também. E para você?
*Gabriel é nome fictício, para preservar a identidade do menino.
*Artigo escrito por Vivian Escorsin, Empreendedora Social , Cofundadora e Diretora Executiva da organização social Transforme Sorrisos. O Transforme Sorrisos é uma instituição parceira do Instituto GRPCOM.
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