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(Foto: Transforme Sorrisos)
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(Foto: Transforme Sorrisos)

(Foto: Transforme Sorrisos)

No Dia das Crianças completou um ano que comecei a fazer ações com a Transforme Sorrisos, ONG que leva o acesso à cultura para crianças e adolescentes em vulnerabilidade social.

Comecei exatamente em um Dia das Crianças, na Comunidade da Ilha, em Almirante Tamandaré. Eu, sem experiência nenhuma como voluntário e com pouca experiência com crianças, tive que me virar. Nada que um colar havaiano, uma camiseta amarela, dois salgadinhos em formato de presas de morsa e muita disposição não dessem conta.

E foi assim durante o último ano nas ações que fui. Virando-me e aprendendo. Aprendendo com os outros voluntários, aprendendo com as crianças – aprendendo a não subestimá-las, pois elas são mais inteligentes até do que elas mesmo pensam, só precisam de um incentivo – aprendendo muito sobre a vida, vendo como as crianças conseguem sorrir e serem tão felizes com tão pouco. Aprendendo que a vida só funciona de forma colaborativa.

Eu não vou lá para ajudar as crianças, não sou nenhum benfeitor. Apenas estendo a mão e recebo uma mão estendida em troca. A gente faz pelos outros e os outros fazem pela gente. Cada um como pode, da sua forma. Colaboração!

Em algumas comunidades que vamos, as crianças moram na casa dos pais, da família, etc., porém, algumas crianças que atendemos moram em unidades de acolhimento. Alguns meninos que desde muito novos são ou foram usuários de drogas, alguns já foram alvo e já cometeram crimes, inclusive assassinato, moram nessas instituições e podem ficar lá até completarem dezoito anos. Muitos desses não tem mais contato com a família, e fazem jus ao ditado: “onde filho chora e mãe não vê”, nem o pai vê e nem ninguém da família vê.

E foi em uma casa dessas, que conheci um adolescente de 16 anos. Naquele dia fomos até a instituição dar uma oficina e ensinar os meninos a fazerem pipas. Esse adolescente veio me pedir ajuda para fazer uma. Então começamos a conversar.

Entre outras coisas, ele me perguntou o que eu fazia da vida. Eu disse que estava dando aulas de violão e que tinha uma banda. Ele ficou empolgado e disse que sempre quis aprender a tocar violão para tocar as músicas que gostava – do Jack Johnson, Donovan, etc. Achei interessante o gosto musical dele, já que a grande maioria dos adolescentes da mesma idade e na mesma situação que ele, acabam ouvindo mais rap e funk, influenciados uns pelos outros e por se identificarem com o estilo.

Perguntei o que mais ele gostava de ouvir e ele respondeu: MPB. Fiquei mais curioso e perguntei quais músicos ele ouvia: – João Gilberto! Tenho três CDs dele no meu celular!

Fiquei surpreso, e ele continuou falando que quando colocava as músicas para tocar no celular, os amigos tiravam sarro ou criticavam. Por que as pessoas têm preconceito?, ele me perguntou.

O cara já sofre preconceito da sociedade por tudo que passou na vida e ainda sofre preconceito dos amigos, por causa das músicas que ouve. Claro que esse é um dos menores problemas dele. Ele e seus companheiros têm muitos problemas com os quais se preocupar. Quando completarem 18 anos e forem entregues à própria sorte os problemas aumentarão de forma exponencial.

Pego-me refletindo sobre a vida e sobre a sociedade o tempo todo. Principalmente depois de cada ação e do contato com essas crianças e adolescentes, após ver a realidade deles.

Não estou aqui para falar do bem que faço a eles, muito pelo contrário. Quero falar do bem que isso tudo tem me feito e de sentir de fato todos aqueles clichês que estamos acostumados a apenas ouvir, como por exemplo: “Nossos problemas não são nada perto dos deles!”. Grande verdade nessa situação.

Na semana que completo um ano de ações, o Transforme Sorrisos completa quatro anos de atividades. Então, Transforme Sorrisos: feliz aniversário e vida longa! ‘Tamo junto’!

*Artigo escrito por Daniel Melo, formado em Artes, Músico e voluntário da organização social Transforme Sorrisos. O Transforme Sorrisos é uma instituição parceira do Instituto GRPCOM.

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