• Carregando...
Imagem ilustrativa
(Foto: Brunno Covello)
Imagem ilustrativa (Foto: Brunno Covello)| Foto:
Imagem ilustrativa (Foto: Brunno Covello)

Imagem ilustrativa
(Foto: Brunno Covello)

As cidades não são apenas complexos de pessoas, mas também de histórias. Considero-me sortuda por encontrar tantas dessas ao longo do caminho. São sorrisos que marcam, atitudes que surpreendem, momentos que indagam, olhares que transformam.

Todos os dias, passo cuidadosamente pelas ruas do centro de Curitiba. Cada vez é algo novo. Dia desses encontrei uma senhora. Ela não sorria. Aliás, a expressão dela era de muita preocupação. Aparentava ter em torno de 60 anos. O que me chamou atenção não foi somente as marcas faciais, mas também a situação de pranto em que estava.

Apoiada em um poste, ela virava para trás com um olhar aflito e então voltava o corpo, um tanto corcunda, para frente. O semáforo abria e fechava, e mesmo estando na faixa de pedestre ela não atravessava. Curiosa por aquela situação, eu fui até ela. No mesmo momento, um taxista, que estava próximo ao local apenas observando, gritou em direção à senhora: o semáforo está aberto, você pode atravessar.

Irritada com a situação, a mulher disse a ele que o problema não era ver a disponibilidade do sinaleiro, mas sim andar. Nesse momento eu já tinha chegado ao lado dela e para a minha surpresa a reação foi de tranquilidade. “Eu não consigo andar, moça. Sofri um acidente e não sinto firmeza em minhas pernas. Leve-me só até o outro lado da rua”, disse a bela senhora de cabelos dourados e olhos maquiados.

O sentimento de arrependimento seria tamanho se eu não a acompanhasse até o seu destino final. No meio da travessia tivemos de tolerar algumas buzinas, o sinal tinha fechado e os motoristas estavam impacientes pela espera. O trajeto rendeu algumas prosas boas e também desejos de prosperidade. Gaudivia, nome que eu descobri no último contato do encontro, veio de São Paulo e estava havia duas semanas na capital paranaense. A impressão da cidade não era das melhores.

“Eu vim até aqui resolver alguns problemas de herança, não tenho sido muito bem recepcionada e o respeito não é de se admirar”, disse ela. Eu não tive como discordar. Seria hipocrisia da minha parte. Até aquele momento já havia presenciado duas situações de total falta de respeito e tolerância. O taxista esperou longos minutos para a ajudar da pior forma, agindo com grosseria e sem alguma empatia. Não bastasse isso, a insensibilidade dos donos dos automóveis que estavam no trânsito e que, mesmo vislumbrando a situação de uma idosa com dificuldade para andar, não foram capazes de esperar alguns segundos.

Apesar da situação entristecedora, ela não perdeu o otimismo e o senso de agradecimento. Fez-me perguntas relacionadas à minha vida pessoal. Quis saber o que eu estudava e onde eu trabalhava. Projetou sucesso à minha vida. Ela não tinha quem a ajudasse naqueles dias e ficou com medo de estar incomodando. Não foram vinte minutos ocupados e um dia foi ganhado. Uma onda de sentimentos me permeou e as reflexões foram muitas.

Gaudivia era naquele dia uma entre tantos outros idosos que passam por situações de desrespeito diariamente. Penso comigo na quantidade de pessoas idosas que precisam lutar pelas suas necessidades sem contar com a ajuda de ninguém. Ontem, no noticiário da Gazeta do Povo, um caso de uma senhora de 70 anos que caiu ao descer do ônibus, ficando entre o veículo e a rua. Onde estavam as pessoas que deveriam estar a acompanhando? Onde estão os cidadãos do bem que zelam pela saúde dessas pessoas? Indo além disso, nos confrontamos com uma civilização que pouco deixa o individualismo de lado para ajudar o próximo.

Histórias como a de Gaudivia mostram que fazer a diferença custa pouco. A empatia não é o sentimento que prevalece na natureza humana, mas eu tenho esperança que um dia será. A evolução está nos homens que oferecerão ajuda ao se colocarem no lugar do outro. A sociedade será desenvolvida quando a cobiça pelo tempo, dinheiro e egoísmo forem deixados de lado. Na maior parte das vezes só precisamos doar alguns de nossos minutos. É o tempo necessário para você receber um sorriso e um agradecimento sincero em troca.

*Artigo escrito por Carla Carvalho, estudante de Comunicação Institucional na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e colaboradora do Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM). Carla contribui voluntariamente no blog Giro Sustentável.

**Quer saber mais sobre cidadania, educação, responsabilidade social, sustentabilidade e terceiro setor? Acesse nosso site! Acompanhe o Instituto GRPCOM também no Facebook: InstitutoGrpcom, Twitter: @InstitutoGRPCOM e Instagram: instagram.com/institutogrpcom

 

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]