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As ilusões da liderança
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O Chapeleiro Louco olhou para Alice. É agora, decidiu:

– Me diz uma coisa, qual é a semelhança entre um corvo e uma escrivaninha?

Sem pensar muito, afinal ela era uma Alice, respondeu: – Eu sei!, pra depois descobrir que não fazia a mínima ideia. Mas ela disse que sabia e agora tinha um problema. Depois de algum tempo pressionada, Alice é obrigada a admitir:

– Não sei,… Então, qual é a semelhança?

O Chapeleiro, feliz por ela ter caído em sua armadilha, responde:

Essa história de Lewis Carrol em seu livro  “Alice no País das Maravilhas” lembra um importante princípio para lideres e gestores. É preciso aprender a dizer não para muitas coisas que chegam até sua mesa de trabalho.

O Terceiro Setor e seus desafios

As armadilhas para líderes são muito mais relacionadas às escolhas envolvendo o que fazer do que o saber como fazer: técnicas e métodos vêm depois. Cada decisão indica que o gestor passou por um rápido e silencioso julgamento interno, onde buscou valorar as consequências da direção a tomar. Muitas vezes só se descobre tarde demais que certa escolha foi um enorme desperdício de recursos e tempo.

Dizem que só se aprende a tomar boas decisões decidindo de forma errada, e eu concordo com isso por experiência própria. Porém, a sabedoria é aliada do tempo e acaba nos dando não apenas uma boa noção do que fazer, mas o ‘quando’ ou mesmo ‘se’ fazer alguma coisa vale a pena.

No Terceiro Setor, a tentação para resolver problemas é ainda maior. Nos iludimos com a ideia que nossa causa é mais nobre do que as outras e a capa de super-herói parece ser uma tentação irresistível. Como Alice, achamos que sabemos todas as coisas. Como Alice, perdemos tempo com causas inúteis que tomam nosso tempo e sugam nossas energias sem nenhum resultado.

Princípios para fazer escolhas e tomar decisões

Fomos ensinados erroneamente que como líderes precisamos encontrar soluções e dar respostas para tudo. Porém, a regra de ouro para bons líderes é: aprenda a dizer não! Isso é mais útil do que qualquer ferramenta, técnica ou universidade. Saber dizer ‘não’ é o fim de uma ilusão: a de que temos que ter respostas para todas as coisas ou que um dia resolveremos todos os problemas.

Quando um líder eficiente está presente, as outras pessoas solucionam os problemas. Desta forma, antes de querer partir para resolver qualquer caso pergunte-se: será que outra pessoa pode resolve-lo? Se for possível, delegue. Você não precisa perder seu sono se outra pessoa pode perder o dela. E lembre-se: cada problema resolvido apenas dá lugar para o próximo da fila.

Como disse G. Weinberg,  “quem consegue resolver problemas tem uma vida melhor. Porém aquele que consegue ignorar os problemas tem a melhor das vidas.” Destaco que ‘ignorar’ é saber exatamente se é você que tem que resolver o problema, ou será outra pessoa, ou ninguém. Muitas vezes o problema não tem solução ou se resolverá por si mesmo.

Estar certo ou ser eficiente?

A vaidade é outra armadilha para a liderança. Alice caiu ao dizer que sabia de algo que fugia ao seu conhecimento. Afinal, se não tivermos a resposta o que é que pensarão de nós?

Para evitar esta cilada, pense no seguinte: você foi contratado para fazer as coisas certas da forma correta. E mentir sobre sua capacidade não apenas é incorreto como inútil. Para ser eficiente é preciso entender que a integridade tem duas vantagens: você conquista pontos sendo honesto e humilde, e ainda motiva a equipe a confiar mais na solução coletiva do que em superpoderes individuais.

Essa é a chamada ‘lei da compensação’, aprender a decidir sempre pensando na relação custo x benefício. Líderes gostam de ser reconhecidos por sua lógica e pelo uso da razão para tomar decisões. Isso é bom, mas nem sempre funciona. No Terceiro Setor geralmente não se espera que tudo seja lógico. Em lugar nenhum as coisas são sempre lógicas. Compense, balanceie.

Tenha sempre em mente que você não precisa ter sempre todas as respostas: controlar as emoções e ser razoável resolve basicamente todas as situações.

Alice termina seu chá tendo aprendido uma importante lição: ajudar a si mesmo é tão importante quanto ajudar os outros. Mesmo no Terceiro Setor.

 

*Artigo escrito por Gustavo Adolpho Leal Brandão é Especialista pela UFRJ em Gestão do Terceiro Setor, Certificado pelo PMD PRO – Project Management for Development, Empresário, Coach e Consultor em Compliance na Mentoris Educação e Desenvolvimento,  Consultor em Empreendimentos Sociais na Una Consultoria Social. É parceiro do Instituto GRPCOM no blog Giro Sustentável.

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