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O ensino de Arquitetura e Urbanismo e a sustentabilidade
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Que tipo de profissionais as instituições de ensino estão formando? Será que a academia está preparada para acompanhar as mudanças de paradigmas que o mundo almeja?

Hoje, a sustentabilidade é tema recorrente, e as instituições de ensino começam a perceber a importância da introdução dessa temática para estudo e discussão entre seus discentes.

Os diversos setores da sociedade atual, com destaque o de construção civil, ainda estão pautados em ações que pouco ou nada se preocupam com suas conseqüências ambientais de suas atividades. E as políticas públicas no Brasil estão muito aquém do esperado pensarmos em cidades sustentáveis. Essa é uma crítica feita por diferentes organizações, que também ressaltam, em seus estudos, que a sobrevivência das futuras gerações não está garantida com os modelos atuais adotados na indústria de construção civil.

O Relatório Brundtland[1] (intitulado Nosso Futuro Comum)destaca: “O desenvolvimento sustentável só será alcançado quando as atividades humanas atenderem às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”.

O Conselho Internacional de Construção (CIB) aponta o setor de construção civil como a atividade humana com maior impacto ambiental, pois possui o maior consumo energético e de recursos naturais, além da grande produção de resíduos: 50% de todos os resíduos sólidos gerados pelo homem neste planeta.

Fritjof Capra[2] afirma que é preciso haver uma mudança na visão de mundo, que atualmente se caracteriza por ser mecanicista, para uma visão ecológica, holística. E, para isso acontecer, é necessária uma visão integrada e articulada dos processos, e não de forma segmentada.

Esse histórico nada promissor tem promovido, ao longo de décadas, várias tentativas de minimizar e, até mesmo, reverter esse processo. E um dos pontos mais importantes em toda essa cadeia é repensar a forma de projetar e construir.

A construção sustentável, segundo a Agenda 21[3], é definida como “um processo holístico que aspira a restauração e a manutenção da harmonia entre os ambientes natural e construído, e a criação de assentamentos que afirmem a dignidade humana e encorajem a equidade econômica”. Nesse cenário, podemos perceber que o desenvolvimento sustentável será alcançado com ações que equilibrem as questões ambientais, econômicas e sociais.

A Arquitetura, dentro desse sistema, deve se portar como protagonista, constituindo-se como meio de transformara realidade de projetar e construir. Tal transformação somente ocorrerá com a inovação do setor, e esta só será alcançada quando os profissionais estiverem preparados para enfrentar e atender à demanda crescente por esse tipo de Arquitetura, lidando com os vários pilares da sustentabilidade de forma natural e integrada. Assim, entendemos que essa mudança só será efetiva quando for incorporada de maneira plena no ensino, ainda durante a formação do futuro profissional.

O arquiteto e urbanista pode protagonizar uma grande mudança no cenário da construção civil, pois, por meio de seus projetos, arquitetônicos ou urbanos, pode criar demandas de novas tecnologias e inovação nos modelos da construção civil.

Nesse sentido, o ensino será um dos pilares para as mudanças de paradigmas da sociedade e sua forma de consumo. A sustentabilidade, relacionada ao ambiente construído, é uma das grandes estratégias para lidar com a degradação do meio ambiente e com o excessivo consumo de energia. É por meio do ensino e da formação de novos profissionais conscientes de seu papel transformador que será possível atender à necessidade de inovar e modernizar a forma de construir edifícios e cidades.

O estudo da sustentabilidade, dentro do ensino, não deve permear apenas algumas disciplinas do curso, como às voltadas ao conforto ambiental, mas precisa estar incorporado a um modelo de formação multidisciplinar, pois, conforme afirma Brian Edwards[4], escritor do Guia Básico para a Sustentabilidade, a abordagem multidisciplinar é inerente à sustentabilidade.

Nesse cenário, é preciso refletir sobre o ensino de Arquitetura e Urbanismo. Se sua premissa de formação é generalista (conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais[5]), porque não contrapor a formação com disciplinas isoladas a uma formação integrada e desfragmentada, por competências, e não apenas por temas?

A sustentabilidade no ensino de Arquitetura e Urbanismo só será alcançada quando deixar de fazer parte de algumas disciplinas isoladas e passar a permear a formação integral do futuro arquiteto e urbanista, assim como as edificações não devem ser projetadas de forma isolada, mas ser inseridas e integradas ao meio (urbano ou rural) onde estão inseridas. Justamente por isso, cabe ao arquiteto e urbanista o papel preponderante no planejamento de cidades mais justas, acessíveis, seguras, saudáveis e sustentáveis.

E cabe às instituições de ensino a inclusão, em seus currículos, do ensino da sustentabilidade, pensando em uma formação voltada para o futuro do setor da construção civil.

 

*Artigo escrito por Adriane Cordonisavi, arquiteta e urbanista, professora e coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da FAE Centro Universitário, especialista em Construções Sustentáveis e mestre em Engenharia da Construção Civil. A FAE é uma instituição associada ao Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR). O SINEPE é colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no blog Giro Sustentável.  

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[1]BRUNDTLAND, G. H. Our common future: the world commission on environment and development. Oxford: Oxford University Press, 1987.

[2]CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 14.ed. São Paulo: Cultrix, 2008.

[3] DU PLESSIS, C. (Ed.).Agenda 21 for sustainable construction in developing countries: first discussion document. Rotterdam: CSIR, Pretoria and CIB, 2001.

 

[4]EDWARDS, B. Guia básico para a sustentabilidade. Barcelona: Gustavo Gili, 2008.

[5] BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para os cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo. Parecer CNE/CES 002/2010. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 de julho de 2010.

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