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Combater as causas de um problema da sociedade é parte fundamental da atuação de qualquer organização voltada a causas sociais e ambientais que visa prolongar seu impacto no tempo. Por vezes, compelidos pelo senso de urgência, os trabalhos são focados apenas nos efeitos gerados pelo problema, sem explorar profundamente os motivos que o geram. Dessa maneira, ao combater os efeitos, mas não também as causas, os problemas tornam a surgir.

Uma boa ilustração desse fenômeno é a metáfora do “rio acima”. Imagine que está passeando na beira de um rio em uma comunidade quando vê uma pessoa se afogando. A sua reação é simples e objetiva: você ajuda essa pessoa a sair da água a resgatando do perigo imediato. Após o resgate, conversando com a pessoa, descobre que os afogamentos são comuns ali, pois muitos não sabem nadar. Você resolve ajudar e se voluntaria a dar aulas de natação na escola da comunidade. Mas ainda assim outras pessoas continuam a se afogar. Como proceder então? Os afogamentos são muito frequentes e não é possível resgatar a todos. Depois de alguma reflexão, resolve caminhar rio acima e observa que por vários quilômetros não há uma ponte sequer unindo suas duas margens. Ali está a causa real do problema.

O resgate da pessoa que está se afogando é um ato de ajuda humanitária focado na necessidade imediata em situação de crise. Já as aulas de natação são ações voltadas ao desenvolvimento de longo prazo em que capacitamos as pessoas para lidar com as situações difíceis, que constituem os efeitos do problema. Por último, observar a falta da ponte e cobrar das autoridades a sua construção é buscar atuar na causa do problema. E aí começa o trabalho de advocacy.

Assim como na metáfora, muitas vezes as causas reais de um problema social só podem ser resolvidas por uma ação estruturada que modifique profundamente as raízes dessas causas. Nessas situações, as organizações precisam mobilizar mecanismos que permitam uma transformação consistente da realidade, e que podem envolver desde aspectos normativos (como uma lei) a aspectos culturais (como costumes de uma determinada região). Essa ação estruturada consiste no advocacy, termo que ainda não recebeu uma boa tradução no português, mas que pode ser entendido como “incidência em políticas públicas”.

Em linhas gerais, o advocacy é um processo organizado, com um objetivo e plano de ações bem definidos que incide nas políticas públicas, seja na criação e alteração destas ou até mesmo na prevenção de eventuais mudanças que poderiam ser contrárias ao interesse público.

Não se faz advocacy do dia para a noite. E nem se faz sozinho. Dentre as ações planejadas necessárias, deve-se pensar em formas de conscientizar a população a fim de mobilizar a opinião pública a respeito da causa defendida, assim como buscar formar coalizões de interessados na causa. Em seguida, realiza-se o contato direto com os tomadores de decisão para informá-los e influenciá-los, sendo esta interação definida como “lobby”. Perceba assim que esta interação com o poder público, tipicamente a etapa mais evidente do advocacy, é apenas um instrumento para levar interesses da sociedade ao conhecimento dos tomadores de decisão. E como qualquer outro instrumento não é bom ou ruim em si, dependendo do como e por que é utilizado.

Elaborar uma campanha de advocacy exige a coleta detalhada de evidências que servirão para orientar a mobilização dos atores pertinentes e formadores de opinião e na definição de um plano de ações. Além disto, é importante também investir no constante monitoramento por meio de metas e indicadores que servem para avaliação do andamento do processo e para alimentar um fluxo contínuo de aprendizado. Entretanto, apesar de poder parecer complexo e até mesmo “inatingível”, realizar transformações por meio do advocacy é completamente possível, seja para um cidadão, uma comunidade ou uma organização. Basta planejar adequadamente cada uma das etapas e realizá-las, passo-a-passo, estando aberto às mudanças, oportunidades e dificuldades que surgirão durante o processo.

Atualmente temos em Curitiba diversas organizações e universidades com expertise para auxiliar nesse processo. Um exemplo é a iniciativa Sua Curitiba (http://institutolegado.org/sua-curitiba/), que visa orientar cidadãos e organizações a elaborarem suas propostas de advocacy. Como qualquer instrumento, o advocacy pode ser usado para diferentes objetivos e intenções, mas indubitavelmente ele constitui uma ferramenta significativa de transformação social.

*Artigo escrito por Paulo Cruz Filho, gerente executivo do Instituto Legado de Empreendedorismo Social e Liza Valença Ramos, mestre em Políticas Públicas. O Instituto Legado é parceiro do Instituto GRPCOM no blog Giro Sustentável.

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