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Muitos povos indígenas utilizam para pescar um aparato chamado “Jequi”, um dispositivo cônico feito de cipó, aberto na extremidade maior, onde são montadas varetas que permitem a entrada do peixe e não a sua saída. Sem cair no exagero da antropomorfização, mas sabendo que todos os seres vivos são sencientes em certa medida, podemos imaginar a agonia do peixe quando se vê totalmente imobilizado.  Ainda que pareça cruel, é uma forma de prover alimento para a tribo e não causa praticamente mortes desnecessárias de peixes, ao contrário dos métodos industriais modernos de pesca.

Milhões de seres humanos vivem situação agônica similar, presos irremediavelmente em lugares onde suas vidas e integridade física estão sob constante ameaça, em países que não lhes podem garantir trabalho digno, alimento, assistência médica, segurança, vida. Pessoas imobilizadas em fronteiras hostis, estocadas em campos de refugiados, apertadas em embarcações inseguras, barradas por muros, escondidas dentro de veículos sem ar. Mortas aos milhares enquanto esperam um visto, uma ajuda, um olhar, um portão aberto.

O britânico Rudyard Kipling escreveu no final do século XIX um poema em que defendia que “civilizar os povos inferiores” é o Fardo do Homem Branco. Se houvesse Prêmio Nobel para Hipocrisia, esta estupidez repugnante seria vencedora perpétua. Após rapinarem todos os recursos de interesse, os Homens Brancos abandonaram os territórios dos “povos inferiores”, deixando-lhes uma classe dirigente nativa corrupta, inepta e incompetente que se encarrega de saquear o que sobrou. As vítimas desse sistema estão numa fuga de séculos para o que parece ser o paraíso. E o paraíso não os quer.

No entanto, enquanto países pobres se debatem nos laços da miséria e violência, os mais desenvolvidos estão entrando em uma armadilha demográfica. Por questões culturais, prioridades financeiras, preocupações com saúde, vaidade ou simples vontade, por muitas razões, enfim, é cada vez mais comum os casais, no “primeiro mundo”, terem apenas um ou nenhum filho. Evidentemente, opções e preferências pessoais devem ser respeitadas, mas as escolhas da coletividade afetam a coletividade; a consequência inevitável dessa escolha é o envelhecimento populacional: se em média nascem menos crianças e a expectativa de vida é cada vez maior, em breve haverá mais idosos do que adultos jovens.

À medida que envelhecemos tendemos a nos tornar mais ponderados, as experiências de vida e de trabalho podem nos fazer quase sábios, acumulamos conhecimentos e temos o que dizer acerca do mundo e das pessoas, pois passamos a conhecê-los. Há algo, todavia, em que ficamos em desvantagem, inovação.

Nossa maior capacidade é de gerir o que existe, e muitos de nós somos muito bons nessa arte indispensável, mas para criar o original, nada como o novo. Se uma sociedade apenas de jovens poderia naufragar por inexperiência, uma constituída na maioria por idosos não teria condições de competir num mundo em constante e rápida mutação; o equilíbrio demográfico é mais do que necessidade.

Os sistemas de seguridade social, que já foram o orgulho de muitos países europeus, começam a se ressentir da diminuição proporcional do número de pessoas em idade produtiva; e um dos obstáculos que a miopia chauvinista levanta à migração é precisamente o fato de que os migrantes e refugiados agravariam esta crise, utilizando os serviços de saúde e de pensão sem para eles terem contribuído. Trata-se de uma verdade muito relativa, se em primeiro momento isso realmente pode acontecer, ao longo do tempo a maioria dos migrantes integra-se ao sistema produtivo, trabalha, contribui e até enriquece a cultura local.

Aqueles que pedem asilo e os refugiados devem ser acolhidos por muitas razões. A mais nobre e humana delas é a solidariedade. Há, também, motivos de ordem prática: devem ser aceitos por que são necessários, em muitos casos imprescindíveis. Não é por “bondade” que sociedades ricas recebem os infelizes da Terra, é por sua própria sobrevivência material e, num sentido mais amplo, espiritual. Povos autocentrados, “puros”, isolados em sua soberba e temerosos dos diferentes tendem à extinção no tempo antropológico. Sustentabilidade não é assunto de curto prazo.

*Artigo escrito por Wanda Camargo, professora do UniBrasil Centro Universitário e associada ao Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR). O SINEPE é colaborador voluntário do Instituto GRPCOM no blog Giro Sustentável.  

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