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FOTO: Guilherme Caldas
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FOTO: Guilherme Caldas

FOTO: Guilherme Caldas

Começamos a segundona com este texto do nosso amigo Carlos Vicente, atleticano doente, ogrista militante e criador do mote oficioso deste blog: “No meu peito bate um X-Coração”

por Carlos Vicente (@cv2c)

A história, na maior parte das vazes, é muito mais interessante quando contada pelo lado dos “perdedores”. As histórias dos “vencedores” sempre são todas mais ou menos parecidas. Os sucessos dos derrotados são mais humanos, mais reais. Não abundam bravatas ou sortes travestidas de competências. As histórias dos “perdedores” são o que são e não por isso são menos interessantes.

Cerco o lourenço no primeiro parágrafo pois há muito não escrevia sobre o Atlético. Tinha prometido não fazer mais isso em formato “meio fundo”. Desopilo nos posts de cento e quarenta caracteres na rede de microcornetagem, Twitter. Mas os sucessos da última semana me afetaram mais do que eu imaginava e cá estou. Triste – sim, muito triste – pelo que pode (não) acontecer com o Paulo Baier no meu Furacão.

Uma coisa é certa: caso o velho Maestro não venha a finiquitar a carreira dele no Clube Atlético Paranaense, isso diz mais sobre o Clube do que sobre o maior artilheiro da era dos pontos corridos. Vamos teimar em não aposentar decentemente nossas feras. Vamos fazer com que o torcedor que pouco entende de arenas, planejamento, mercado da bola e naming rights, mas que lembra com orgulho dos gols e vitórias míticas que o bom velhinho nos proporcionou, tenha o desgosto de vê-lo encerrar a carreira com outra jaqueta que não aquela Que Só Se Veste Por Amor e com a qual houve uma simbiose pouco vista nesta modorrenta instituição chamada de “futebol moderno”.

Futucando, com um quê de psicanalista freestyle, a atitude do CAP e de sua afetada direção, encontro um quê do afetado personagem do mais afetado Oscar Wilde. Nossos Dorian Grays não querem ver o óbvio: O Atlético é o Paulo Baier dos clubes de futebol!

Senão, vejamos: Perdemos em nossa vida mais do que ganhamos. Somos respeitados pero no mucho. Já enfrentamos de igual para igual alguns grandes mas já sofremos muito na mão dos menos qualificados. Se Paulo Baier tem (quase) cem gols pelo Brasileirão dos pontos corridos, o Atlético teve (quase) a América sob seus pés…. E por aí vai!

“Mas CV, O Atlético é maior que o Paulo Baier“. BOBAGEM! Um clube é – sempre! – do tamanho dos ídolos que constrói. O pequeno Santos é do tamanho de um Pelé, de um Neymar. Assim como o Íbis é do tamanho de Mauro Shampoo (centroavante, cabeleireiro e hétero). O Atlético é, hoje, do tamanho de Paulo Baier e, quer você goste ou não, é o ídolo que temos para hoje e temos que tratá-lo com o respeito que ele e nós merecemos.

Por mais que haja muitos atleticanos que, apesar dos gols e dos inúmeros noventa minutos inesquecíveis que ele nos brindou, como no último Atletiba, insistem em não dar valor ao velho Maestro, ter a chance de viajar por este país, mudando ou indo atrás do Furacão, me ensinou uma coisa: Baier era (e ele ainda é!) respeitado por todos os contrários onde quer que eu estivesse. Nos últimos quatro anos era o único fator que impunha paúra nos adversários e todos eles queriam vê-lo jogando do seu lado do campo.

Não reconhecer que “nós somos Paulo Baier” é renegar nossa história, nosso caráter. Lembremos que um dos nossos maiores ídolos não foi canonizado numa vitória. Num exercício da lógica distópica que hoje impera, São Ziquita seria negado quatro vezes por ter-nos trazido apenas um empate naqueles treze derradeiros minutos.

Encerro este retorno bissexto aos ensaios sobre o Furacão agradecendo ao protagonista por ter me ajudado, nestes últimos quatro anos, a formar um pequeno atleticano mesmo morando em terras estrangeiras. Gael, meu filho mais velho, hoje com seis anos, desde poucos meses de vida é criado em São Paulo. As probabilidades dele torcer para um dos “supercampeões” times daqui sempre me assustaram. Mas pelos pés, pelos gols, pelos vários noventa minutos já memoráveis, o baixinho hoje olha na cara dos amiguinhos sãopaulinos, corinthianos e palmeirenses e diz com muito orgulho: “Paulo Baier é o melhor!”

Nenhum amiguinho, jamais, ousou contradizê-lo e isso vale mais que qualquer título. Isso vale uma vida.

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Em tempo 1, uma hipótese: se me coubesse a tarefa profissional de planejar o último ano de Paulo Baier no Atlético faria duas coisas: 1) colocaria o velhinho com mais dez, quaisquer dez, para jogar e GANHAR o Campeonato Paranense na Arena da Baixada e 2) faria um briefing para uma agência de comunicação com o conceito que deu título a este texto e pediria um filme de Maestro Paulo Baier fazendo seus cento e tantos gols pelo Brasileiro com um toque mágico da computação gráfica colocando o artilheiro com nossa camisa rubronegra em todos. Se nós somos Paulo Baier, os cem gols são nossos! Essa é a nossa história e a escrevemos como nos aprouver.

Em tempo 2, uma vontade: que toda essa confusão não passe de um mal entendido ou, como aventam aqui e ali, jogo de cena. Meio que como negação de ver Paulo Baier alhures, ainda tenho um utópico fio de esperança de que podemos ainda ver o carequinha ano que vem fazendo gol com A Que Só Se Veste Por Amor. Enquanto isso, vou lamber até quando precisar essa ferida de adeus precocemente aberta.

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Pedi permissão ao Carlos para reproduzir suas impressões – escritas originalmente para a fanpage Falacianos – sobre o personagem Paulo Baier e sua atual situação no Atlético neste modesto blog. 

Não fala sobre gastronomia, seja ela alta, baixa ou coluna do meio, mas tem tudo a ver com o que pensamos sobre essa modernidade jeca, feita de luzes indiretas, vidros jateados ou reformas esdrúxulas. Modernizar não implica necessariamente em passar um trator sobre tudo que é antigo.

Esse futebol de arenas e direitos de imagem e de marcas também faz parte dessa modernidade de fachada, que, nos estádios, decretou a substituição do pão com bife por pizzas sabor chinelo e nos deixa de herança os jogos com os ingressos mais caros do país.

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