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Campos de refugiados são a resposta errada aos imigrantes da Venezuela
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O fluxo de imigrantes venezuelanos que vêm ao Brasil cresceu desde o ano passado, a ponto de muita gente detectar o que seria uma “crise migratória”. Embora haja certo exagero ao se falar em crise, é verdade que têm dificuldades reais as cidades de Roraima que lidam com a entrada dos cidadãos da Venezuela que fogem da fome provocada pelo regime de Nicolás Maduro.

Nesta semana, dois movimentos contrários para se lidar com o tema chamaram a atenção. Primeiro, o pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSC) declarou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que sua solução para a entrada dos venezuelanos seria a construção de campos de refugiados. O deputado federal explicou que os imigrantes vindos do país vizinho são pobres e que não teria motivo para o Brasil dar direitos como o Bolsa Família a essas pessoas.

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Por coincidência, na quinta-feira (15), o governo federal tomou uma medida no sentido oposto. Uma resolução dá aos venezuelanos com visto temporário de dois anos o direito de pedirem a residência permanente no Brasil três meses antes do vencimento desse visto, desde que cumpram alguns requisitos, como não terem antecedentes criminais. Isso quer dizer que eles poderão ficar por tempo indeterminado após seu primeiro visto de residência temporária.

O governo brasileiro entende que colocar pessoas em campos de refugiados não é uma solução para a entrada desses imigrantes. Mais do que isso, parece saber que facilitar sua entrada e adaptação ao país é uma forma mais eficiente de lidar com a ditadura venezuelana do que expulsando diplomatas. Ditaduras se enfraquecem quando sua população decide “votar com os pés”.

Campos de refugiados são usados para lidar com crises de outra escala. Os dados oficiais sobre os venezuelanos no Brasil não são dos mais confiáveis, mas estima-se que haja entre 50 mil e 60 mil em território brasileiro. A prefeitura de Boa Vista (RR) fala em 40 mil venezuelanos na cidade. Estima-se que 1 milhão de venezuelanos deixaram o país e foram para destinos diversos, de Estados Unidos à Colômbia, onde sua entrada também é uma emergência nacional. Como comparação, a guerra na Síria fez 7 milhões de pessoas se deslocarem e estima-se que 600 mil tiveram como único destino possível campos de refugiados.

Há uma estimativa bastante imprecisa e possivelmente inflada de que 800 venezuelanos cheguem ao Brasil por dia. Não é um número desprezível e é por isso que o país tem de correr para estruturar sua política para lidar com essa população. É preciso recebê-los, dar tratamento de saúde e em seguida distribuí-los por regiões onde será mais fácil conseguir um emprego, um modelo que foi usado na entrada de haitianos alguns anos atrás. Isso custa dinheiro, mas é um investimento humanitário que o Brasil é capaz de fazer.

A alternativa do campo de refugiados, é bom lembrar, também não sairia de graça. E teria como consequência impor um sofrimento desnecessário a uma população que pode rapidamente se virar no país. Imigrantes tendem a ter um forte espírito empreendedor – forte o suficiente para saírem de suas casas e encararem dias de travessia a pé até chegar ao Brasil. O preconceito baseado em sua pobreza é um erro, pois essa é uma situação imposta pela ditadura venezuelana e não pela vontade de cada indivíduo de progredir na vida.

Crises migratórias de dimensões como a enfrentada pela Europa levam muitas vezes a saídas drásticas como a construção de campos de refugiados e a deportação sumária de imigrantes. Mas mesmo nessas crises há países com modelos mais eficientes, em que os imigrantes são abrigados enquanto se adaptam ao novo país, como ocorre na Alemanha, que no auge da crise recebeu 800 mil pessoas em um ano. O Brasil está bem longe de um número desses e, como demonstrou o governo nesta semana, está disposto a fazer o melhor.

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