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Em Curitiba, Lula e Bolsonaro mostram quanto jogam no mesmo time
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A sete meses das eleições presidenciais, os dois políticos que hoje aparecem na liderança das pesquisas eleitorais quase se cruzaram em Curitiba nesta quarta-feira (28). O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado federal Jair Bolsonaro falaram com suas claques e mostraram o quanto estão no mesmo time, embora em espectros ideológicos diferentes.

Tanto Lula quanto Bolsonaro partiram para a estratégia do enfrentamento e não da construção de uma solução política que possa apaziguar o país. Ambos trazem nos seus discursos suas raízes sindicais nacionalistas, sempre com suas figuras de linguagem características. Nenhum dos dois parece mais fazer sentido sem o outro.

Lula passou os últimos dez dias em uma caravana da qual ele talvez agora se arrependa. Embora ser alvo de protestos possa até ser bom para a construção da imagem de vítima, não é o caminho para se tornar um presidente capaz de governar em paz. Essa não é uma justificativa para a violência, apenas a constatação de que a contrariedade persegue Lula, assim como a Justiça que ele teima em caracterizar como uma armação.

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O ex-presidente disse não entender de onde vem o ódio. Ele é a concretização da polarização alimentada no submundo da internet, onde a forma encontrada para salvar Lula da cadeia foi construir a fantasia de que o ex-presidente é alvo de um complô que envole até o FBI e a CIA – prontamente respondida pelo surgimento de uma rede de desconstrução da esquerda.

Para um ex-presidente que se orgulha de seu governo, a caravana pelo Sul deve ter sido um motivo de reflexão profunda. Lula enfrentou barreiras e ovos, mesmo tendo escolhido seu roteiro a dedo – com a inclusão de várias cidades onde o MST é muito forte. Os tiros contra dois ônibus adicionaram tensão ao último dia de trajeto. E a possibilidade de ele ser preso antes mesmo de poder subir ao palco em Curitiba rondou sua cabeça até a última quinta-feira (22), quando o STF lhe concedeu um salvo-conduto.

Lula garantiu que é candidato, mas não tem hoje uma proposta que vá além da ideia de que uma elite quer evitar que ele volte porque tratou bem os pobres. É a justificativa que encontrou para ter sido condenado e estar perto de enfrentar novas decisões do tipo em breve.

Se Lula alimenta sua sobrevivência com essa polarização, Bolsonaro a usa para alimentar seu sonho pelo Palácio do Planalto. Não é por acaso que sua primeira frase em cima do carro de som que o recebeu no Aeroporto Afonso Pena foi sobre Lula. Ele diz querer Lula em cana e que o ex-presidente mereceu a violência em sua passagem pelo Sul. Bolsonaro diz representar a maioria, que em sua visão quer policiais com licença para atirar.

Assim como Lula, Bolsonaro não quer apaziguar o país nem alimentar o discurso da construção do consenso. Tornaram-se, assim, parte de uma mesma ideia da política brasileira.

Eles têm mais coisas em comum. Os dois têm origem sindical (metalúrgicos, no caso de Lula, militares, no caso de Bolsonaro). Eles passaram pelo Congresso e entraram na primeira campanha presidencial como curiosidades de um extremo ideológico. Ganharam pontos nas pesquisas – e a história de Lula depois disso nós sabemos. Os dois entenderam que precisavam fazer concessões para chegar ao poder – como a carta ao povo de Lula e a aliança de Bolsonaro a economistas liberais.

A comparação serve para ressaltar que Lula e Bolsonaro estão entrelaçados no momento da história política do Brasil. Diferentes são suas incertezas. Lula pode ser preso, ficar inelegível ou ser derrotado nas urnas. Bolsonaro, por enquanto, só tem a perder a chance única de ser eleito como o anti-Lula.

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