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O candidato sem Facebook que pode chegar à Presidência
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No dia 7 de abril, o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa quebrou um silêncio de quase um ano na sua conta no Twitter. Escreveu em uma linha curta que tinha feito um comunicado em sua página no Facebook. Como não tinha link, deixou para seus seguidores o trabalho de procurá-lo na rede social, uma tarefa inglória. Das várias páginas com seu nome, nenhuma parece ser sua. A única com um comunicado conta hoje com 11 seguidores – o texto ali publicado em 11 de abril até faz sentido, mas a conta não é verificada e não é possível ter certeza de que o texto realmente foi escrito pelo ex-ministro.

Esse pequeno desencontro de comunicação diz muito da razão para o desempenho de Barbosa na última pesquisa Datafolha ser apontado como a grande surpresa do momento. O ex-ministro não teve quase nenhuma exposição na mídia nos últimos meses. Não está em pré-campanha declarada. Não é fenômeno nas redes sociais. Nem arrasta multidões para eventos públicos.

Quase tudo que se publicou sobre Barbosa nas últimas semanas dizia respeito à negociação para sua filiação ao PSB. Ele aceitou assinar a ficha do partido sem nenhuma garantia de que teria apoio para ser candidato. E o partido aceitou seu pedido de filiação sem saber se ele mesmo quer entrar na campanha.

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Existem neste momento dois vácuos na corrida eleitoral. Um é o deixado por Lula na esquerda. Sem ele nas pesquisas, aumenta o número de votos brancos e nulos. O outro está no centro, onde há uma dispersão de votos. Barbosa pode construir uma narrativa para falar para esses dois públicos: o candidato de esquerda que tem no currículo a ação penal que prendeu políticos do PT no mensalão. É dessa memória do mensalão que se alimenta seu desempenho no Datafolha – nos cenários sem Lula, o ex-ministro do STF marca entre 9% e 10% das intenções de voto.

Neste momento, o silêncio até ajuda o ex-ministro. Muita gente pode não entender exatamente onde ele se encontra no espectro ideológico, já que ele é um “outsider” que não precisou até hoje opinar sobre tudo que um candidato à Presidência precisa responder em uma campanha. Quando decidir falar como candidato, já poderá ter o discurso modulado para conversar com um público além da esquerda órfã de Lula.

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O fenômeno Barbosa também trouxe dúvidas à capacidade de crescimento de outras pré-candidaturas que já estão na rua, em especial a do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e a do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL).

Veterano da política, Alckmin não herda votos de Lula, não avança sobre o eleitorado de Bolsonaro e divide o centro com outros nomes, como o do senador Alvaro Dias (Podemos), que vai muito bem no Sul, onde tradicionalmente o PSDB também tem votos. E corre o risco de perder eleitores para um novato em eleições como Barbosa.

Já Bolsonaro parece ter chegado ao teto das intenções de voto. Ele é o pré-candidato que, junto com Lula, está há mais tempo na estrada e formou uma base de apoiadores espalhada pelo país. Apesar disso, sua candidatura parece não crescer mesmo com Lula preso e o deputado corre o risco de ser ultrapassado por nomes por ora mais discretos na corrida eleitoral, como Marina Silva (Rede) e o próprio Joaquim Barbosa.

Há, portanto, uma nova possibilidade levantada pelo Datafolha: um segundo turno com dois nomes de esquerda. Conforme ficar claro para o eleitor a inviabilidade da candidatura de Lula, haverá uma redistribuição mais ampla de seu eleitorado que poderá ser decisiva no primeiro turno. O outro fator que vai ditar a eleição de outubro é a formação de alianças que viabilizem candidaturas como a de Marina Silva, que hoje estaria fora dos debates eleitorais.

* A pesquisa Datafolha, que foi feita entre quarta, 11, e sexta-feira, 13, teve como base 4.194 entrevistas em 227 municípios. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa está registrada no TSE sob número BR-08510/2018.

 

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