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A era do dinheiro grátis acabou e você nem viu a cor dele
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O dólar está se fortalecendo no mundo todo e isso pode ser traduzido em uma frase: acabou a era do dinheiro grátis. Isso parece estranho em um mundo onde as taxas de juros continuam muito baixas, mas o fato é que o mercado trabalha agora para calcular como será o ciclo de alta de juros nos Estados Unidos por causa da combinação de estímulo fiscal, queda do desemprego e risco de alta da inflação. Foram dez anos até chegarmos a esse momento. Quem não aproveitou, perdeu a chance.

Os juros no mundo rico chegaram a cair abaixo de zero por um bom tempo depois da crise de 2008. Sempre houve muito ceticismo sobre a capacidade, em especial dos EUA e Zona do Euro, de sustentarem taxas incrivelmente baixas por muito tempo. O papo de que a inflação uma hora seria um problema data de 2009, mais ou menos. Na época se falava em como o Fed, o banco central americano, desarmaria todo seu arsenal de estímulo econômico. Mas isso demorou tanto que quase esquecemos que uma hora a política monetária nesses lugares voltaria ao normal.

O mundo aproveitou bem os juros ultrabaixos. Eles permitiram que diversos países, alguns deles muito afetados pela crise global, engatassem quase uma década de crescimento, no que tem chances de se tornar o ciclo mais longo de expansão econômica em algumas regiões. Havia capital sobrando para quase tudo: bolsas, bitcoins, investimentos produtivos. Mesmo onde o tranco da crise foi mais forte houve recuperação – é o caso de Irlanda e Portugal, por exemplo.

O Brasil, infelizmente, ficou fora da festa. Está mais próximo dos infelizes da Europa – como Grécia e Itália – do que dos emergentes ágeis – China, Índia, Indonésia e Vietnã. Enquanto o dinheiro quase de graça circulava pelo mundo, entramos no sonho do desenvolvimentismo do governo Dilma Rousseff, que convenceu o país de que a resposta à crise em 2009 deveria ser política de longo prazo.

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Crescemos menos do que a média global em todos os anos desde 2011 e a projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de que vamos continuar nessa toada pelo menos até 2022. Não vimos a cor do dinheiro que poderia ter garantido um salto de desenvolvimento. Qual a diferença? Com crescimento na média mundial entre 2011 e 2022, o PIB brasileiro cresceria 53%. Devemos nos contentar com algo em torno de 12%.

Além de mais pobre, o Brasil ficou entre os mais vulneráveis à virada nos juros do mundo rico. O real está entre as moedas que mais se desvalorizaram neste ano, colocando alguma pressão sobre o Banco Central, já que o câmbio muito desvalorizado pode fazer a inflação subir e colocar um fim na nossa política de redução de juros. Vamos passar os próximos meses debatendo câmbio, em vez de resolver o que de fato faria o país aproveitar o momento da economia global.

Se perdemos a era do dinheiro grátis, não precisamos perder a era do crescimento forte. O FMI, apesar de todos os riscos existentes na economia global, prevê que a economia americana só vai prestar de fato as contas do superaquecimento entre 2020 e 2023. É claro que é mais difícil aproveitar essa onda quando os juros sobem, mas há uma perspectiva positiva ainda de aceleração do comércio internacional, apesar da “guerra comercial” iniciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump.

Em outras palavras, não fizemos os ajustes e perdemos uma oportunidade que outros emergentes agarraram. Agora, precisamos fazer ajustes para tentar aproveitar a onda de crescimento mais forte outra vez nos países desenvolvidos. A lição de casa é difícil: ajuste fiscal (com reforma da Previdência e do funcionalismo) para reduzir juros, abertura comercial para aumentar a competitividade e microrreformas para derrubar o custo Brasil.

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