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José Miguel Wisnik – Machado maxixe: o caso Pestana
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WISNIK, José Miguel. “Machado maxixe: o caso Pestana”. in Teresa, Revista de Literatura Brasileira. nº 4-5, 2003. p. 13-79.

A revista está disponível aqui em pdf.

E o texto já foi publicado em livro pela Publifolha, no momento esgotado.

Reprodução
Foto mostra Machado de Assis na juventude: maior escritor brasileiro era afrodescentente. Para Olavo Bilac, ele era “grego”

O texto de Wisnik já um clássico da História Cultural, pelas amplas relações que consegue fazer entre História, Literatura, Música e um amplo espectro de análise sócio-cultural.

O professor da FFLCH-USP se debruçou sobre um conto do “Bruxo de Cosme Velho”, intitulado Um homem célebre, reunido por Machado de Assis no volume Váris histórias, publicado em 1896. Se não me engano, como muita coisa do escritor, o conto já tinha sido publicado primeiro em jornal.

(O volume Várias Histórias está aqui, em domínio público. O conto começa na página 12.)

É impressionante a maneira como Wisnik extrai um panorama da criação cultural brasileira a partir do personagem machadiano: um compositor de polcas, que passa as noites em claro diante dos retratos de Mozart e Beethoven, tentando compor sonatas que nunca se materializam.

Para Wisnik, não é casual o fato de Pestana beber nos clássicos europeus. As polcas que compõe fluentemente pela manhã têm muito a ver com a experiência noturna frustrada com as sonatas.

Pestana, o compositor brasileiro arquetípico, compõe polcas por que são essas que lhe brotam espontaneamente – mais do que isso, são elas que têm razão de ser no Rio de Janeiro de fins do século XIX. O único gênero musical que efetivamente tem mercado.

Aliás, essa questão é muito bem explorada no conto machadiano, e desenvolvida por Wisnik: aquela vergonha tão conhecida de fazer sucesso comercial, como se isso fosse avesso à verdadeira arte. Como se ganhar uns caraminguás comprometesse a pureza artística de um criador, visão romântica explorada com ironia no conto.

Wisnik vai muito além, explorando as relações raciais que envolvem a criação musical em fins de oitocentos, ligando-as ao incipiente mercado musical (pré-fonograma), e associando os dilemas de Pestana aos problemas da criação cultural numa região tão distante dos centros de produção de cultura – no que o Pestana pode ser muito mais do que um compositor paradigmático, levando à possíveis associações com a própria figura de Machado de Assis. Um mulato que começou como tipógrafo (uma profissão proletária) e terminou como maior escritor da Literatura Brasileira, e quiçá da Língua Portuguesa (como hoje parece querer concordar a crítica internacional), e que foi chamado no estudo clássico de Roberto Schwarz de “um mestre na periferia do capitalismo”.

O Pestana foi este mestre na periferia do capitalismo musical, como o foram também tantos compositores que se aproximam do modelo de desconforto cultural entre a Europa e os Trópicos: Carlos Gomes, Henrique Alves de Mesquita, Alberto Nepomuceno, Ernesto Nazareth,Chiquinha Gonzaga, Villa-Lobos, Mignone, Camargo Guarnieri, Pixinguinha, Tom Jobim, Caetano Veloso. No fundo todos são um pouco Pestana.

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