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Semana passada mais um episódio de desrespeito contra a vaga de estacionamento exclusiva para pessoas com deficiência aconteceu. Mas esse, em particular, teve uma repercussão um pouco mais expressiva, porque o flagra foi gravado e o vídeo publicado.

Uma das protagonistas foi Mirella Prosdócimo, mulher que sofreu exatamente a mesma falta de respeito há cerca de oito meses e que logo depois lançou a campanha Esta vaga não é sua nem por um minuto! Além do incidente ser repetido, o cenário também foi o mesmo: o estacionamento de um supermercado.

No vídeo, um homem que pilotava uma moto para na faixa entre uma vaga exclusiva e a outra e impede a mobilidade adequada da Mirella. Ela flagra o homem de saída e grava o diálogo, que acontece entre os dois e mais duas pessoas que estavam com ela. Os argumentos usados por ele não merecem a menor consideração e chegam ao cúmulo do ridículo. Isso irrita não só a Mirella, mas também as pessoas que estavam com ela. O embate vazio continua até o ponto de entrar em ebulição e terminar com uma agressão. Assista:

O vídeo me chamou a atenção por dois motivos: pelo conteúdo isoladamente e pelo impacto que ele teve nas redes sociais. Os internautas assistiram a reação de um homem que desrespeita uma lei, se nega a assumir o erro que cometeu e em menos de dois minutos se vê deparado com um sentimento de vergonha e raiva, enquanto é questionado por três pessoas ao mesmo tempo. Ele não agüenta e explode. Quem viu e compartilhou o vídeo, se indignou.

Eu não compartilhei e também não me indignei. Não é esse sentimento de revolta que eu quero apoiar. A Mirella foi corajosa e expôs algo que é muito comum no dia a dia de qualquer cidade. Ela teve gana e precisou lidar com um sentimento de impotência dificílimo de domar. Eu também já experimentei essa sensação de sangue fervente e contei como foi, aqui no blog mesmo, neste texto. Eu quase soquei um taxista no início deste ano, depois do pior ato de estupidez que eu já vivi.

Mas, e se a reação da Mirella tivesse sido diferente? E se a minha reação tivesse sido diferente?

E se a Mirella tivesse respirado mais fundo, tentado uma abordagem diferente, e dado um adesivo da campanha dela ao homem que a desrespeitou? Provavelmente ele teria ignorado, mas e se não? E se ela tivesse ganhado um aliado? E se eu, ao invés de ter esmurrado o banco do motorista e ignorado o problema que ele tinha naquele momento, tivesse ensinado o homem a me tratar com um pouco mais de respeito?

É claro que o desrespeito à lei não deveria nem ter acontecido. O primeiro que deveria ter tido outra ação é o cara da moto, mas não teve. A atitude dele desencadeou todo o vídeo, mas sabe como eu acho que ele e o tal taxista pensam em pessoas com deficiência hoje? Com raiva. Isso muda alguma coisa? Não.

A pessoa com deficiência vive hoje uma situação de exposição muito interessante. Gosto de dizer que nós ganhamos a posição social de minoria inquestionável. Afrontar uma pessoa com deficiência é muito difícil, porque o que a faz ser minoria é algo muito escancarado e não há argumentos contra isso.

Como você vai questionar a dificuldade de um cadeirante em subir uma escada?
Como questionar a angústia de um surdo quando ele não consegue se comunicar?
Que tal fazer careta para um cego enquanto conversa com ele? Alguém acharia isso engraçado?
O que você diria sobre a dificuldade de um deficiente intelectual em se encaixar socialmente e emocionalmente nos nossos padrões sociais?

As dificuldades são inquestionáveis e isso nos dá uma responsabilidade muito grande. A pessoa com deficiência tem a chance de ser um agente fortíssimo de transformação.

Vídeos como esse causam impacto e revolta. A única coisa boa dessa revolta é que ela pode fazer com que outras pessoas não repitam essa pérola de cidadania. Atos como o da Mirella são ótimos para chacoalhar chamar a atenção, mas esse é o primeiro passo. Podemos ser melhores.

Eu não me importo se a minha posição é ingênua, inocente, ou utópica. Ao longo da história, as minorias encontraram momentos de exposição em situações de violência, revolta, brutalidade, ou desavenças. Acredito que a pessoa com deficiência pode fazer diferente, afinal a inclusão não acontece só porque ela quer.

Nessa briga é muito melhor ganhar aliados. São eles que transformarão a cultura, junto com todo mundo. Uma alternativa é possível.

Saiba mais e apóie a campanha Esta vaga não é sua, nem por um minuto!, produzida pela Getz, acessando o perfil da campanha no Facebook.

Para saber da história Taxista desrespeita cadeirante em Curitiba, clique aqui.

#Enconte o jornalista Rafael Bonfim no Facebook. Clique aqui para acessar o perfil.

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