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Uma leitura marcial do primeiro programa do 2º turno
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clangor

“Clangor”: eis aí uma palavra que eu jamais pensei que fosse usar. Nascido em Roma, o termo significa tanto o ressoar das trombetas quanto o retinir das armas na batalha ou um pouco antes de seu início, quando os contendores gritam e batem as espadas contra os próprios escudos. Verdadeiro zunido de Ares, deus da guerra – ou do próprio demônio.

O primeiro programa eleitoral do segundo turno foi exatamente isso: um formidável clangor de armas e trombetas, mal disfarçado, vez que outra, por sorrisos e pelo vapor das propostas.

Dilma, que abriu a programação, começou seu programa apostando em um desolamento parcial do primeiro mandato – imprimiu, de chapa, o bordão “Governo Novo, Ideias Novas”, mirando o eleitorado alerta pelo marasmo na economia; ao mesmo tempo, porém, trouxe testemunhos de brasileiros que viram a vida melhorar e, ainda, imagens das grandes obras do governo.

Agradeceu os votos obtidos, celebrou a vitória no primeiro turno e, na sequência, alertou o público de que, neste momento, o que está em jogo é um “modelo de país” e não apenas um mandato presidencial. Modelo guerra santa.

Em seguida, nomeou cada um de seus generais – governadores e senadores eleitos pelo PT ou pelos partidos aliados no último domingo. Destaque lógico para Fernando Pimentel, candidato petista que faturou a eleição para o governo de Minas Gerais.

Por fim, um âncora do programa sentou o pau em Fernando Henrique Cardoso, buscando comparar dados sociais de seu governo com os da atual gestão. E resgatou a infeliz frase de FHC sobre os aposentados com menos de 50 anos de idade (“Fiz a reforma da Previdência para que aqueles que se locupletam da Previdência não se locupletem mais, não se aposentem com menos de 50 anos, não sejam vagabundos em um país de pobres e miseráveis”).

Aécio, por sua vez, começou mais risonho e folgazão, buscando, como era de se esperar, realçar seus laços de sangue e espírito público com o avô Tancredo, apontado como modelo de político capaz de formar uma coalizão. Resgatou, enfim, o famoso “mito do eterno retorno”, de Nietzsche e Eliade, que prega a repetição de contextos e o ressurgimento de heróis para enfrentá-los.

Agradeceu os votos e, como sua concorrente, cantou a vitória no primeiro turno.

Milenarista, alertou para o fato de que o “inimigo está disposto a tudo”, e lançou o bordão que é a própria antítese do bordão de Dilma – “o que você prefere? Mudar com Aécio ou ficar com Dilma?”.

Louvou seus generais e mandou um salve em forma de samba-enredo para todos os estados brasileiros. O Paraná recebeu atenção nos primeiros versos.

Por fim, lançou o trunfo de seus novos apoiadores – Pastor Everaldo, Roberto Freire, Eduardo Jorge e o PSB de Eduardo Campos.

E fechou o programa andando de barco com uma bandeira do Brasil tremulando ao vento.

Em síntese: épico e clangoroso. Pelo andar da biga, ainda veremos muito sangue nesse campo de batalha. É pau!

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