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Mata-mata x pontos corridos, Penta x 7-1, Susana x Fernanda… O futebol na era FHC e na era PT
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A eleição presidencial virou uma grande comparação entre os oito anos de governo FHC e os 12 de PT no poder. Vale para economia, educação, segurança, corrupção… Cada lado querendo dizer que seu período foi melhor para o Brasil. Mas e no futebol? Não em termos de políticas para o esporte, mas do futebol construído enquanto tucanos (1995-2002) e petistas (2003/2014) governavam o país. Por isso, o Intervalo faz uma comparação do que aconteceu com o futebol brasileiro e paranaense ao longo desses últimos 20 anos, tendo como recorte de tempo os dois polos que pela sexta vez seguida, como em um clássico renhido, disputam a presidência do país.

Copa do Mundo

Era FHC

A euforia do tetra se misturou ao otimismo pela estabilidade econômica trazida pelo Plano Real. Em 1.º de julho de 1994, quando 2.750 cruzeiros reais passaram a valer 1 “beija-flor”, a seleção brasileira se preparava para encarar os norte-americanos, pelas oitavas de final, no 4 de julho. Moeda nova e tetra viraram símbolos da Era FHC mesmo sem terem, efetivamente, acontecido dentro dela – embora seja evidente a mão de FHC no Plano Real.

 

O Brasil jogou duas Copas com Fernando Henrique Cardoso na presidência. Em 1998, o penta se desfez na derrota por 3 a 0 para a França, marcada pela crise nervosa de Ronaldo antes da decisão. Episódio que motivou teorias conspiratórias mil e até uma CPI na Câmara. Quatro anos depois, já na saideira do governo FHC, mais uma final e, agora sim, o penta. Vitória por 2 a 0 sobre a Alemanha, no Mundial da Coreia e do Japão, a redenção de Ronaldo e uma das cenas mais lembradas de Brasília: a cambalhota de Vampeta na rampa do Palácio do Planalto.

Era PT

Kroos balança a rede da desnorteada seleção brasileira, no histórico 7 a 1 para a Alemanha. (Albari Rosa/ Gazeta do Povo)

Kroos balança a rede da desnorteada seleção brasileira, no histórico 7 a 1 para a Alemanha. (Albari Rosa/ Gazeta do Povo)

O Brasil disputou três Copas do Mundo nos anos de governo do PT. Com Lula, boleiro assumido, duas eliminações nas quartas de final.

 

Em 2006, o quadrado mágico Kaká-Ronaldinho-Ronaldo-Adriano parou na França de Zidane. Dias antes da estreia, ainda houve tempo para uma polêmica presidencial. Em uma videoconferência, Lula perguntou ao técnico Parreira se Ronaldo estava gordo. O treinador disse que não. No dia seguinte, o Fenômeno respondeu dizendo que era verdade que ele estava gordo como era verdade que Lula bebia pra caramba. Quatro anos depois, sem polêmicas, o Brasil caiu nas quartas de final para a Holanda.

 

Entre uma Copa e outra, Lula articulou a vinda do Mundial de 2014 para o Brasil. Em meio a sucessivos atrasos e aumento de preços nas obras, o governo Dilma entregou a “Copa das Copas”. Um sucesso de organização e de futebol, mas marcado eternamente pela derrota por 7 a 1 para a Alemanha, na semifinal, dentro do Mineirão.

 

Mata-mata x pontos corridos

Era FHC

Os oito anos de FHC mantiveram a tradição do mata-mata no Brasileirão, porém em diferentes formatos. O mais comum foi o de quartas de final, semifinal e final, em 1996, 98, 99, 2001 e 2002 (embora com variação no número de jogos). Em 1995, apenas semifinal e final. Em 1997, dois quadrangulares definiram os finalistas. Em 2000, a Copa João Havelange começou a série eliminatória com as oitavas de final.

 

Era PT

O primeiro ano do governo Lula foi marcado pela adoção dos pontos corridos, maneira encontrada pela CBF de dar um calendário fixo aos clubes – em 2002, o calendário quadrianual, que durou apenas um ano, deixou alguns times parados por quatro meses. O formato de turno e returno perdura desde então, com variação apenas no número de participantes: 24 em 2003 e 2004; 22 em 2005 e 20 desde 2006.

 

Os reis do Brasileirão

Era FHC

Festa no Campanella: o Atlético foi um dos campeões brasileiros inéditos da era FHC. (Rodolfo Bührer/ Arquivo/ Gazeta do Povo)

Festa no Campanella: o Atlético foi um dos campeões brasileiros inéditos da era FHC. (Rodolfo Bührer/ Arquivo/ Gazeta do Povo)

Como é da natureza do mata-mata, a “alternância de poder” foi maior. Corinthians (98 e 99) e Vasco (97 e 2000) foram os únicos a erguer a taça mais de uma vez. Três clubes venceram o Brasileirão pela primeira vez: Botafogo (95), Atlético (2001) e Santos (2002). O Grêmio (96) fechou a lista de seis campeões em oito anos.

 

Era PT

É provável que os 12 anos de PT no poder tenham o mesmo número de campeões que os oito da era FHC: seus. O Cruzeiro puxou a fila em 2003, repetiu a dose ano passado e caminha para o terceiro título em 2014. Se confirmar o favoritismo, se iguala ao São Paulo, único tri consecutivo do Brasileirão, entre 2006 e 2008. Corinthians (2005 e 2011) e Fluminense (2010 e 2012) ficaram com duas taças. Santos (2004) e Flamengo (2009) foram campeões uma vez cada.

 

Também foi ao longo da Era PT que a CBF decidiu unificar os títulos do Brasileirão com os do Roberto Gomes Pedrosa e da Taça Brasil. Palmeiras e Santos passaram a ser os maiores campeões nacionais, com oito títulos cada.

 

Viradas de mesa

Era FHC

Alvaro Barcelos, presidente do Fluminense, festeja com champanhe a virada de mesa de 1996. (Reprodução de TV)

Alvaro Barcelos, presidente do Fluminense, festeja com champanhe a virada de mesa de 1996. (Reprodução de TV)

A primeira foi em 1996. Rebaixados no gramado, Fluminense e Bragantino foram mantidos na Série A com a revelação do “esquema Ivens Mendes” de manipulação de arbitragem. No ano seguinte, os dois clubes caíram de novo.

 

Em 1999, o São Paulo perdeu no STJD os pontos da vitória por 6 a 1 sobre o Botafogo, por escalação irregular do atacante Sandro Hiroshi. A intervenção do tapetão livrou o Botafogo do rebaixamento e jogou na Série B o Gama. O time do DF, porém, conseguiu na Justiça o direito de jogar a primeira divisão e impediu a CBF de organizar o Campeonato Brasileiro de 2000. O torneio caiu nas mãos do Clube dos 13, que pariu a Copa João Havelange. Um monstrengo de 116 times, distribuídos em módulos disfarçados de divisões diferentes. Foi a senha para Fluminense e Bahia serem resgatados para a Série A sem subir dentro de campo.

 

Era PT

Torcedor do Fluminense ri do rebaixamento da Lusa no tapetão, que salvou os cariocas. (Giulio Moreto/ Agência O Globo)

Torcedor do Fluminense ri do rebaixamento da Lusa no tapetão, que salvou os cariocas. (Giulio Moreto/ Agência O Globo)

O primeiro caso foi em 2005, com o “Caso Edilson”. O STJD mandou anular e jogar novamente as 11 partidas do Brasileiro daquele ano apitadas por Edilson Pereira de Carvalho, envolvido com uma máfia de apostas. Com os “replays”, o Corinthians deu um salto na tabela que o levou ao título brasileiro.

 

A segunda virada de mesa aconteceu em 2013. A Portuguesa perdeu quatro pontos pela escalação do atacante Héverton, em jogo da última rodada, contra o Grêmio. A punição salvou o Fluminense, rebaixado no campo.

 

Libertadores

Era FHC

O Palmeiras foi o grande nome brasileiro na Libertadores no período tucano: um título, um vice e uma semifinal. (Reprodução)

O Palmeiras foi o grande nome brasileiro na Libertadores no período tucano: um título, um vice e uma semifinal. (Reprodução)

Os oito anos de governo tucano serviram para o Brasil colher os frutos da redescoberta da América, no início dos anos 90, com as três finais seguidas (e dois títulos) do São Paulo. Metade das Libertadores entre 1995 e 2002 foram vencidas por brasileiros: Grêmio (1995), Cruzeiro (1997), Vasco (1998) e Palmeiras (1999). O próprio Palmeiras (2000) e São Caetano (2002) chegaram ao vice-campeonato. Em 1996, com o Grêmio, e 2001, com o Palmeiras, o Brasil parou na semifinal.

 

Era PT

Festa na Avenida Paulista para o primeiro título do Corinthians na Libertadores. (João Castellano/ Reuters)

Festa na Avenida Paulista para o primeiro título do Corinthians na Libertadores. (João Castellano/ Reuters)

Os 12 anos de lulismo foram de domínio brasileiro na Libertadores. Entre 2003 e 2013, o Brasil só ficou fora da final em 2004. Teve os dois finalistas em 2005 e 2006. Fez o campeão de 2005 (São Paulo), 2006 (Internacional), 2010 (Internacional), 2011 (Santos), 2012 (Corinthians) e 2013 (Atlético-MG). Teve o vice em 2003 (Santos), 2005 (Atlético), 2006 (São Paulo), 2007 (Grêmio), 2008 (Fluminense) e 2009 (Cruzeiro). A saideira, porém, foi terrível. Nenhum brasileiro avançou nem sequer à semifinal, pior resultado desde 1991, segundo ano do governo Collor.

 

Mundial de Clubes

Era FHC

Voltar do Japão campeão mundial foi uma missão impossível nos oito anos de governo tucano. Grêmio (pelo Ajax), Cruzeiro (pelo Borussia Dortmund), Vasco (pelo Real Madrid) e Palmeiras (pelo Manchester United) foram derrotados no formato jogo único do campeão da Libertadores contra o campeão da Liga dos Campeões. O único título mundial foi conquistado no brasileiríssimo Maracanã, em 2000. No protótipo do formato atual, o Corinthians bateu o Vasco, nos pênaltis, após deixar o Real pelo caminho, e conquistou o título.

 

Era PT

Kidiaba quicando no gramado em Abu Dhabi: uma das mais marcantes cenas dos Mundiais de Clubes na era PT. (Reuters)

Kidiaba quicando no gramado em Abu Dhabi: uma das mais marcantes cenas dos Mundiais de Clubes na era PT. (Reuters)

Títulos memoráveis ou vexames históricos. Não teve meio termo para os brasileiros no Mundial de Clubes durante o petismo. Rogério Ceni segurou o Liverpool para dar o título ao São Paulo em 2005. O Internacional parou Ronaldinho e “cortou os cabelos de Puyol” contra o Barcelona em 2006. Guerrero virou herói do Corinthians ao fazer o gol do título sobre o Chelsea em 2012. Por outro lado… Kidiaba ainda quica nas lembranças coloradas da semifinal com o Mazembe (2010). O Barça de Guardiola atropelou o Santos de Neymar em 2011. E o Galo de Ronaldinho caiu diante do Raja Casablanca em 2013.

 

Paranaenses

Era FHC

Gol do Paraná em um 3 a 0 sobre o Coritiba, em 96: os anos dourados do Tricolor. (Arquivo/ GRPCOM)

Gol do Paraná em um 3 a 0 sobre o Coritiba, em 96: os anos dourados do Tricolor. (Arquivo/ GRPCOM)

Paraná e Atlético têm boas lembranças dos oito anos de governo tucano. O Paraná consolidou sua hegemonia nos anos 90 com o tri (1995), o tetra (96) e o penta (97). Também venceu o Módulo Amarelo da Copa João Havelange (2000). Pouco perto do Atlético.

 

O Furacão voltou à primeira divisão como campeão da Série B em 1995, saiu da fila estadual de oito anos em 1998 – e repetiu a dose em 2000, 2001 e 2002 (no supercampeonato; o estadual sem os grandes foi vencido pelo Iraty). Venceu a Seletiva que o levou à sua primeira Libertadores, ganhou o Brasileiro de 2001 e jogou mais uma Libertadores. Ainda inaugurou o CT do Caju e a Arena.

 

O Coxa teve pouco a comemorar. Basicamente, o fim da fila de dez anos no Estadual (1999), o Festival Brasileiro de Futebol em 1997 e a volta à primeira divisão em 1995.

 

Era PT

Coritiba 6 x 0 Palmeiras: um dos grandes jogos da campanha coxa-branca em 2011. (Hedeson Alves/ Arquivo/ Gazeta do Povo)

Coritiba 6 x 0 Palmeiras: um dos grandes jogos da campanha coxa-branca em 2011. (Hedeson Alves/ Arquivo/ Gazeta do Povo)

Se alguém não guarda boas recordações dos 12 anos de petismo é o Paraná. O Tricolor ergueu apenas duas taças: Paranaense de 2006 e Divisão de Acesso de 2012. Também fez três boas campanhas no Brasileiro – 2003, 2005 e 2006. A última o levou à Libertadores de 2007, ano que começou com o Paraná desbravando a América e terminou com a queda à Série B. Seja com mais um mandato de Dilma ou com o primeiro ano de Aécio, o Paraná entrará 2015 na Segundona nacional, resultado de dívidas não pagas e administrações ruins ao longo (não só) dos 12 últimos anos.

 

O Coritiba teve períodos de prosperidade. Dominou o futebol paranaenses nos 12 anos de PT, com títulos em 2003, 04, 08, 10, 11, 12 e 13. Chegou a duas finais de Copa do Brasil. Venceu duas Séries B. Bateu recorde de vitórias seguidas. Mas também sofreu com dois rebaixamentos.

 

No Atlético, o ritmo de títulos diminuiu em relação à era FHC. Foram apenas dois estaduais (2005 e 2009). Mais marcantes dentro de campo foram os vices do Brasileiro (2004), Libertadores (2005) e Copa do Brasil (2013), bem como o rebaixamento em 2011, com acesso no ano seguinte. Fora de campo, mais prosperidade, com ampliação do CT e a nova Arena construída pra Copa.

 

Os times do interior também deram o ar da graça, com dois campeões: Paranavaí (2007) e Londrina (2014). E a dupla Onaireves Moura-Pinheirão saiu de cena.

 

A seleção das musas

Era FHC

Susana Werner, de namorada de Ronaldo na era FHC a senhora Julio Cesar na era PT. (Divulgação)

Susana Werner, de namorada de Ronaldo na era FHC a senhora Julio Cesar na era PT. (Divulgação)

Ronaldo Fenômeno foi o responsável por alçar ao estrelato a maioria delas: Suzana Werner, Milene Domingues, Ronaldinhas. Romário teve Andréa Oliveira puxando a fila de beldades pós-casamento com Monica Santoro. Cléo Brandão iluminava a tela do Canal do Esporte. Karen Matzenbacher era a surpreendente senhora Jardel. E Milton Neves revelou no SuperTécnico Luize Altenhofen.

 

Era PT

Fernanda Lima, apresentadora do sorteio da Copa do Mundo de 2014. (Sergio Moraes/ Reuters)

Fernanda Lima, apresentadora do sorteio da Copa do Mundo de 2014. (Sergio Moraes/ Reuters)

Ronaldo seguiu recheando seu caderninho com nomes como Daniela Cicarelli e Lívia Lemos. Adriano Imperador surgiu e trouxe com ele Joana Machado. A linha lateral virou terreno também feminino com as auxiliares Ana Paula Oliveira, Nadine Bastos e Fernanda Colombo. Mais recentemente, Bruna Marquezine (cortesia de Neymar) e Fernanda Lima (sorteio da Copa) reforçaram o time de musas do futebol.

 

A seleção de craques

Era FHC

Taffarel; Cafu, Lúcio, Edmílson e Roberto Carlos; Vampeta, Dunga, Marcelinho e Rivaldo; Ronaldo e Romário. Técnico: Vanderlei Luxemburgo.

 

Era PT

Rogério Ceni; Daniel Alves, Thiago Silva, Juan e Marcelo; Juninho Pernambucano, Ganso, Kaká e Ronaldinho Gaúcho; Neymar e Adriano. Técnico: Muricy Ramalho.

 

A boleiragem

Era FHC

Renato Gaúcho, ícone boleiro dos anos 90, em ação contra o paranista Hélcio, no Brasileiro de 1995. (Antonio Costa/ Arquivo/ Gazeta do Povo)

Renato Gaúcho, ícone boleiro dos anos 90, em ação contra o paranista Hélcio, no Brasileiro de 1995. (Antonio Costa/ Arquivo/ Gazeta do Povo)

O marketing esportivo era um bebê de colo no futebol brasileiro, então jogos eram promovidos à moda antiga: na lábia. Temos em que Renato Gaúcho, Túlio Maravilha, Romário, Edmundo, Edilson Capetinha, Paulo Nunes, Djalminha e Valdir Bigode passavam a semana prometendo e cumpriam no domingo. O som que embalava a moçada era o pagode e ex-paquitas eram as companhias mais corriqueiras, além de dançarinas de qualquer grupo de pagode ou axé. Ronaldo foi embora cedo. Perdeu essa era de ouro, mas ainda assim colecionou loiras, fez fortuna e até arriscou um funk de Claudinho & Bochecha em um comercial da Nike.

 

Era PT

David Luiz, um case de sucesso do futebol marketeiro. (Stefano Rellandini/ Reuters)

David Luiz, um case de sucesso do futebol marketeiro. (Stefano Rellandini/ Reuters)

A espontaneidade foi engolida pelo media training. Entrou a figura do craque bom moço, incorporada por Kaká e transformada em case de marketing com o discurso pré-pronto de David Luiz e as frases bem pensadas de Neymar. Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Robinho despontaram como sucessores dos fanfarrões dos anos 90, mas não passaram de aprendizes esforçados na arte da boleiragem. Uma arte que Emerson Sheik domina como poucos que nos permite dizer: nasceu na década errada. O pagode perdeu a hegemonia. Agora tem a companhia do funk, do sertanejo e do gospel. A “fabricação” de Paquitas foi interrompida. Ex-BBBs, dançarinas do Faustão e atrizes da Malhação assumiram o seu lugar.

 

 

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