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A história que me fez comprar uma bicicleta
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Oldy Mazzardo
Oldy Mazzardo no salar de Uyuni, na Bolívia: 6 horas empurrando a bike para atravessar o deserto.

Uma história inspiradora pode mudar o rumo da sua vida. Não, este não é, em princípio, um post de autoajuda, mas ajuda a entender porque eu decidi comprar uma bicicleta e me autoajudei, mudando minha vida para melhor.

Essa inspiração veio após ouvir a história dos irmãos Mazzardo — Oldy e Fábio –, que vieram de bicicleta da Guatemala até Curitiba, pedalando mais de 15 mil quilômetros pela América Latina, durante 18 meses.

A história dessa aventura foi compartilhada em detalhes na última sexta-feira (23), na Bicicletaria Cultural, em Curitiba, pelos dois cicloaventureiros.

O evento reuniu cerca de 30 pessoas e foi transmitido ao vivo pelo Ir e Vir de Bike, sendo assistido por mais 40 pessoas em cidades como João Pessoa, Mossoró, Criciúma, São Paulo, Porto Alegre e São José dos Pinhais.

Veja como foi:

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Conheci o Fábio em 2002. Entramos juntos no curso de jornalismo da Universidade Tuiuti do Paraná. Sujeito calmo, de mente aberta, idealista e dotado de um espírito revolucionário, ele fez parte daquele seleto grupo de amigos com os quais você constrói e compartilha suas melhores lembranças dos tempos de faculdade.

Uma amizade forjada na convivência e na camaradagem, nas rodas de conversa e outras rodas, nas viagens aos congressos estudantis, nas mesas de truco, de pebolim e de cerveja no Bar do Catarina. Nas atividades do Centro Acadêmico de Política Estudantil Trabalho e Atuação (Capeta). Ah, claro, e também na sala de aula!

Fábio Mazzardo/Arquivo pessoal
Fábio Mazzardo descansando, antes de encarar um longo trecho de subida.

Quando a faculdade acabou, a convivência, antes diária, arrefeceu, mas a amizade se manteve. Um tempo depois, Fábio foi morar em Londres com sua namorada. Tal como o meu, seu namoro era “antigo” e vinha desde o início da faculdade. O plano do casal era trabalhar, juntar algumas libras esterlinas, voltar para Curitiba e se casar.

Até que um dia um amigo em comum (que se não fosse jornalista, poderia muito bem ser chamado de fofoqueiro) me contou a novidade: “Soube do Fabinho? Largou da namorada e está viajando de bike pela América Latina”.

Passei então a garimpar notícias e informações de meu amigo cicloviajante. Aí surgiram mais alguns detalhes: além dele, seu irmão Oldy e uma amiga norte-americana, Ariel, meio-que-namorada-do-Oldy, estavam se aventurando pelas veias abertas na América Latina sobre duas rodas.

Mazzardo/Arquivo Pessoal
Oldy e Fábio em Caracas, na Venezuela, durante manifestação em apoio ao presidente Hugo Chávez.

Acompanhei parte da jornada pela internet, através do Orkut e, quando possível, trocando algumas mensagens pelo MSN. Ia sabendo em que parte do mapa eles estavam e lendo matérias dos jornais locais, que noticiavam “La aventura de los hemanos Mazzardo”

Assim que soube que eles estavam de volta, fiz uma caranguejada, em uma tarde de sábado, aqui em casa. Convidei alguns amigos, dentre eles, claro, Fabinho. Todos estavam ansiosos para ouvir suas histórias.

Ele veio. E veio pedalando. Na sua magrela, a guerreira que aguentou mais de 15 mil quilômetros, vários adesivos. Era como se fosse um índice, e cada adesivo um capítulo. Em cada capítulo, histórias fascinantes sobre a cultura, a geografia e o povo da Guatemala, Honduras, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, Bolívia e Argentina.

Contando sobre a viagem Fábio explicou que, na Guatemala, eles ficaram um tempo como voluntários na ONG Maya Pedal, que constrói máquinas, com uso de peças de bicicletas usadas, em comunidades pobres sem acesso a energia elétrica.

Fábio também narrou suas aventuras. Contou que rodaram, enfrentaram desertos, montanhas, selvas e cidades. Passaram fome, frio e apuros — como quando ele se acidentou feio na estrada. Contaram com a sorte e com a solidariedade dos nossos vizinhos-irmãos.

Naquela tarde, em meio às histórias fascinantes de pedaladas, caipirinhas e patas de caranguejo, prometi solenemente, diante de meia dúzia de amigos, que, até a próxima sexta-feira, eu compraria uma bicicleta. E, depois de quase dez anos de sedentarismo militante, felizmente, cumpri a promessa.

Ainda que não tenha conseguido sair de bicicleta para uma grande jornada mundo afora, como fizeram os irmãos Mazzardo, de lá para cá pude viver grandes aventuras, sentir o espírito da liberdade e compreender o sentido transformador que a bicicleta tem para as pessoas e para as cidades.

Além disso, sobre duas rodas, ampliei aquele grupo de amigos com os quais você constrói e compartilha suas melhores lembranças.

A história que será contada hoje por Oldy e Fábio pode, também, despertar algo em você e mudar os rumos da sua vida. Ou então pode ser apenas uma boa oportunidade para você ouvir as histórias de dois caras, gente boas da mais alta estirpe, apaixonados por bicicletas, contando suas experiências de viagem. Vale a pena de qualquer forma.

Reprodução

ps: aos dois grandes amigos, meus sinceros agradecimentos!

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