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Ciclofaixa da Marechal terá 75 cm de largura e descumpre Código de Trânsito
| Foto:
Alexandre Costa Nascimento/Ir e Vir de Bike
Ciclistas exigem que trechos da ciclofaixa com apenas 72 cm sejam refeitos. Técnicos da Prefeitura farão vistoria no local.

Antes mesmo de ser inaugurada, a primeira ciclofaixa permanente de Curitiba, que está sendo implantada na Avenida Marechal Floriano, já revela uma sucessão de erros técnicos potencialmente capazes de colocar em risco a segurança e a vida dos seus futuros usuários.

Com apenas 75 centímetros de largura na faixa de rolamento, a ciclofaixa não guarda a distância mínima de segurança entre os ciclistas e os veículos automotores. Desta forma, o projeto força o motorista a descumprir o artigo 201 do Código de Trânsito Brasileiro, que define como infração média (punida com multa) passar ou ultrapassar uma bicicleta em distância inferior a 1,5 metro.

A obra foi financiada pelo Banco Mundial e pelo Global Environment Facility (GEF) com coordenação da ANTP. O investimento do Programa
Sustainable Transport and Air Quality (STAQ)
na implantação da ciclofaixa no Corredor Boqueirão é de US$ 900 mil (cerca de R$ 1,6 milhão), sem exigência de contrapartida do município.

O projeto da ciclofaixa, que ligará o viaduto da Linha Verde até o terminal do Carmo, foi apresentado em julho de 2008 pelo então prefeito Beto Richa (PSDB). Pelo cronograma original, a obra já deveria ter sido entregue em novembro passado.

Na ocasião, o esboço detalhado da obra previa vias em ambos os sentidos da avenida, ao lado da canaleta do ônibus expresso, com 1,5 metro de largura em cada lado.

Porém, a execução da obra — que teve início na última semana entre a passarela do Hauer e o terminal do Carmo, no sentido centro-bairro –, tem apenas metade da largura prevista, contrariando o manual do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) que recomenda que as ciclovias tenham, no mínimo, 1,5 metro de área útil.

Cabe ao Ministério Público do Paraná (MP-PR) questionar: porque o projeto original não foi executado?

Se a Prefeitura de Curitiba recebeu um financiamento de R$ 1,66 milhão para construir oito quilômetros lineares de uma ciclofaixa com 1,5 metro de largura (12 mil metros quadrados) e está entregando apenas 6 mil metros quadrados, matematicamente, 50% dos recursos não serão gastos.

Essa “economia” de R$ 830 mil (US$ 450) será usada para construir mais 8 quilômetros de ciclofaixa de 75 centímetros em outro lugar da cidade? Ou a verba será usada para refazer a obra mal feita e adequá-la às especificações técnicas e legais que garantam um mínimo de segurança dos ciclistas?

Confira as fotos

“Erramos”

Fontes ligadas à área de planejamento da Prefeitura de Curitiba se dizem “surpresas” com a ciclofaixa de apenas 75 centímetros e avaliam que, “muito provavelmente houve um erro” na execução da obra. Essa responsabilidade seria do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).

O assessor especial da Prefeitura e futuro secretário municipal do Trânsito de Curitiba, Marcelo Araújo, que esteve na ciclofaixa para avaliá-la, também reconhece que a largura é “inadequada”. Ele avalia que a via especial para as bicicletas deveria manter a largura do estacionamento que havia ali e foi transferido para o lado direito da pista — entre 1,5 metro e 2 metros.

Avaliação

No último fim de semana, pedalei no trecho da ciclofaixa da Marechal Floriano que já está pronto. Para quem está acostumado a circular junto aos carros, pedalar em uma via exclusiva para bicicletas deveria dar uma sensação de segurança e certa tranquilidade. Mas não foi isso que ocorreu.

Pedalar com os ônibus ligeirinhos passando ao seu lado, a menos de 1 metro de distância, no limite da velocidade máxima permitida (ou mesmo acima) é algo realmente perturbador, apesar dos tachões (tartarugas) que dividem a ciclofaixa da via dos veículos.

Além disso, por ser muito estreita, a ciclofaixa não permite ultrapassar outro ciclista que trafega em velocidade mais lenta. Para isso, é preciso fazer a ultrapassagem pela direita, invadindo a via de circulação dos veículos – justamente a faixa de rolamento de maior velocidade –, correndo ainda o risco de perder o equilíbrio e cair ao atropelar um dos tachões, já que a manobra exige que se olhe para trás.

Também presenciei alguns pedestres caminhando e outros praticando corrida na ciclofaixa (que fique bem claro, essa não é a de lazer muito menos ciclovia compartilhada!).

Mas, o mais preocupante é perceber que, com tantos erros técnicos, não é de se surpreender que muitos ciclistas continuarão em usando a canaleta do ônibus expresso, por se sentirem mais seguros.
Isso dará margem para que o executivo local alegue “pouco uso” e “ociosidade” da ciclofaixa para justificar a falta de investimento em novas vias ou mesmo na recuperação das já existentes, que estão precisando de atenção.

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