• Carregando...
Vó Gertrudes: conselhos podem entrar por um ouvido e sair pelo outro. (Foto: Reprodução/PMC)
Vó Gertrudes: conselhos podem entrar por um ouvido e sair pelo outro. (Foto: Reprodução/PMC)| Foto:
Vó Gertrudes: conselhos podem entrar por um ouvido e sair pelo outro. (Foto: Reprodução/PMC)

Vó Gertrudes: conselhos podem entrar por um ouvido e sair pelo outro. (Foto: Reprodução/PMC)

Nada de radares para controlar os limites de velocidade. Nenhuma campanha ousada com agentes multando motoristas que descumprem as leis. Nem sinal de algum programa inovador, como a implantação de Zona 30 no Centro ou novas faixas exclusivas para o transporte público. Até agora, a grande surpresa da gestão Gustavo Fruet (PDT) para a área do trânsito é a Vó Gertrudes, uma velhinha modernosa que dá conselhos óbvios sobre o trânsito e compartilha receita de pomada para calcanhar rachado nas redes sociais.

A personagem foi criada pela prefeitura de Curitiba na esperança de elevar os baixos níveis de civilidade no trânsito através do diálogo e da educação. A pobre velhinha, no entanto, pode acabar tendo um fim triste, abandonada em um asilo, falando sozinha e lembrando com nostalgia os bons tempos em que era possível atravessar despreocupadamente as esquinas da Mariano Torres com a Visconde de Guarapuava sem o risco de morrer atropelada.

Em suma, dicas como “se beber não dirija” e “calibre o pneu a cada 15 dias”, podem ter o mesmo destino da maioria dos conselhos vindos de pessoas mais velhas: entrando por um ouvido e saindo pelo outro. Afinal, se conselho de vó fosse levado a sério como deveria, todos seriam virtuosos e colocariam em prática atributos como civilidade, cortesia e respeito. Consequentemente, não teríamos um trânsito que mata uma pessoa a cada 20 horas, apenas em Curitiba.

Post da Gertrudes no Facebook. Macaco é a sua avó!

Post da Gertrudes no Facebook. Macaco é a sua avó!

A vovó legalzona joga buraco, vai ao bailão, faz tricô e dá piruetas. Também dá algumas noções básicas sobre legislação de trânsito entre um spot e outro. Em um deles, no rádio, a Vó diz que “o ciclista deve andar nas bordas da pista”. Certo. Mas passa ao largo da legislação, se esquecendo de citar a preferência dos não-motorizados sobre os motorizados e de incentivar o compartilhamento das vias públicas.

A velhinha apenas repete o que está no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) – o que, em tese, já deveria ser de amplo conhecimento de todo motorista habilitado para dirigir. Fica no óbvio. Não avança, não educa, não transforma. E, ainda por cima, dá margem para o motorista ignorante se achar “no direito” de jogar o ciclista para o meio fio ou mandá-lo para a calçada. “A vó falou que lugar de ciclista é no meio-fio”, justificará o mentecapto.

Em outro post envolvendo as bicicletas, Gertrudes recomenda que o ciclista não conte com a sorte e use o capacete: “Meus amorecos, confiem na vovó. Para o anjo da guarda fazer a parte dele, você precisa fazer a sua”. Porém se esquece de dizer que capacete não é item obrigatório previsto no CTB. E que ele não evita acidentes — apenas reduz danos caso ele ocorra. Pelo amor de Deus! Se a prefeitura não fizer a parte dela, não adianta apelar nem a Nossa Senhora da Bicicletinha! E aquele mesmo motorista que deu uma “fina educativa” no ciclista vai dizer depois, quando ler a notícia de mais um ciclista morto: “Bem feito! Quem mandou não usar capacete!”.

578450_635842063117420_576640445_nNo entanto, é preciso reconhecer. A Vó Gertrudes é bem intencionada e seus gracejos têm lá seu charme e pode até ser que meia-dúzia de netinhos comecem a se comportar. Mas é preciso saber dosar para não perder a direção. É mais que justo ter uma vida ativa na melhor idade, mas, quando um idoso começa a se comportar como um adolescente, é hora de ligar o alerta: poder ser um sinal do Alzheimer se aproximando.

O primeiro sinal da doença, que leva à demência, é quando o paciente dá sinais de que está desconectado da realidade. É também notada certa desorientação de tempo e espaço. No estágio mais avançado, a linguagem do paciente fica reduzida a simples frases. Há sinais evidentes de apatia extrema. A mobilidade se degenera a tal ponto que leva a imobilidade quase total.

Não precisa nem sequer importar médicos cubanos para perceber que esse diagnóstico fecha exatamente com o atual estágio da prefeitura de Curitiba na gestão do trânsito.

 Atualização (27/8 – 20h05)

Um dia após a publicação do post, a prefeitura divulgou o vídeo da Vó Gertrudes voltado para a questão da bicicleta. Neste caso, é preciso reconhecer e dar a mão à palmatória: a velhinha mandou bem! Fica o aprendizado: bater em velhinho é covardia! Reitero, entretanto, sem tirar nem por, a crítica à apatia da gestão municipal na gestão do trânsito.

 

Sem graça (mas eficiente). Confira o spot criado pela Prefeitura de São Paulo:

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]